«Todos somos chamados a ser comunidade»

Retiro para os membros das Comunidades Fé e Luz De 29 de Abril a 1 de Maio, Jean Vanier, fundador da ARCA e do Movimento Fé e Luz, irá pregar um retiro, em Fátima, Casa Das Dores, para os membros das Comunidades Fé e Luz É para Portugal uma graça termos mais uma vez connosco, Jean Vanier, fundador da ARCA e do Movimento Fé e Luz, que vem pregar um retiro para ao membros das comunidades Fé e Luz. Jean viveu um tempo em Fátima a quem está ligado de forma muito especial. Quem é Jean Vanier? Canadiano, filho do Governador Geral do Canadá, em 1950 sai da Marinha Real Canadiana para estudar filosofia. Depois de se ter doutorado em Filosofia em Paris, ensina na Universidade de Toronto. Em 1964 cria a Arca, acolhendo pessoas adultas com uma deficiência mental num pequeno lar em Trosly-Breuil na região francesa da Oise. Neste momento há 115 comunidades da ARCA em 30 países dos 5 continentes. Em 1971 funda o Movimento Fé e Luz com Marie-Hélène Mathieu. Em 1988 é um dos 60 leigos convidados pelo Papa João Paulo II para participar no Sínodo sobre os Leigos em Roma. Em 1997 o Papa João Paulo II atribui-lhe o prémio Paulo VI. É oficial da Legião de Honra. A Missão de Fé e Luz Na comunidade A nossa missão na comunidade é criar laços de amizade entre todos que possam revelar a cada um a sua beleza e o dom único que é para os outros. Estes laços permitem-nos crescer humanamente e espiritualmente e permitem-nos ainda encontrar um novo sentido para a nossa vida sejamos nós pais, amigos ou pessoas com uma deficiência mental. Somos chamados a ser testemunhas, no meio do mundo, do amor de Cristo pelos seus filhos mais pequenos. Nas nossas famílias Já não estamos sós. Os laços de amizade tecidos durante os nossos encontros mensais exprimem-se por vários sinais entre as reuniões. Voltamos a ter confiança no futuro. O nosso olhar sobre o nosso filho com deficiência muda. Diferente, frequentemente rejeitado, encontra em Fé Luz um lugar onde se revelam os seus dons. Dons que pode pôr ao serviço dos outros na sua família, no local onde vive ou trabalha e na sua comunidade. Nas nossas paróquias O Fé e Luz é um movimento comunitário nascido no coração da Igreja Católica durante uma peregrinação internacional a Lourdes na Páscoa de 1971. Funda-se na convicção que as pessoas com uma deficiência mental foram escolhidas por Deus para confundir os poderosos e os intelectuais. O seu espírito é o espírito do Evangelho, o espírito de compaixão e de acolhimento do sofrimento humano. Cada comunidade quer-se inserida na paróquia ou as paróquias dos seus membros. Fé e Luz pretende ser ali um sinal que as pessoas mais desprotegidas e muitas vezes as mais rejeitadas estão no coração da Igreja. Em Portugal, o Arcebispo de Évora, Senhor Dom Maurílio de Gouveia, é o seu bispo de referência. O movimento está ligado ao Conselho Pontifical dos Leigos no Vaticano. No coração da Igreja O Fé e Luz tem os seus fundamentos no sofrimento humano, sofrimento dos pais e dos seus filhos ou filhas com uma deficiência. A nossas comunidades querem acolher todos os cristãos que vivem esta experiência dolorosa. As pessoas mais frágeis tornam-se então fonte de unidade. Elas chamam-nos à amizade e à vida em comunidade e atraem-nos para Jesus e para a construção da unidade dos cristãos. A caminho do ecumenismo Cada comunidade Fé e Luz está inserida numa só Igreja, ou é interconfessional. Há alguns delegados ao Conselho Ecuménico das Igrejas já nomeados, outros sê-lo-ão proximamente pela Igreja Católica, pela Igreja Anglicana, pelas Igrejas Ortodoxas e pelas Igrejas Protestantes. Estes têm como mandato velar pelo aprofundamento da sede de unidade de Jesus e pela missão ecuménica de Fé e Luz. O que é a ARCA? Num mundo marcado pelo espírito do sucesso a inteligência humana é valorizada nas suas diversas realizações (ciência, política, cultura, economia, tecnologias, etc.), a experiência da Arca valoriza uma outra forma de inteligência que falta por vezes cruelmente: a do coração. O coração humano é feito à imagem do coração de Deus: é feito para amar acima de tudo. As experiências de sofrimento são muitas vezes a causa do mal no mundo. As pessoas que têm uma deficiência em geral sofreram muito com a sua situação muitas vezes mesmo no seio da sua própria família. Este sofrimento pode ser apaziguado pela partilha fraterna e o amor verdadeiro. Então pode revelar-se a dimensão profunda das pessoas limitadas na sua inteligência, o coração com a sua capacidade intacta de amar e de ser amado. As pessoas com uma deficiência têm um sentido forte da relação, da presença, do aqui e agora. As noções de passado e de futuro são frequentemente noções difíceis para elas apreenderem.. Sentem muitas vezes com acuidade o sofrimento ou a alegria do outro. São sensíveis a um ambiente, um clima. É isso que torna o ambiente «familiar » dum lar da Arca ao mesmo tempo tão simples e tão forte. Em certas circunstâncias estas pessoas manifestam um sentido da Presença de Deus muito real e concreto. Em Portugal como é? Em Portugal há apenas 11 comunidades Fé e Luz, das quais a maioria está no Porto ou na Zona Norte. Em Lisboa há duas comunidade e em Évora uma. O convívio com a espiritualidade deste Movimento expresso numa Carta de princípios é, no testemunho dos participantes, libertador e transformador. De facto, em torno das pessoas com deficiência mental muito do peso das “riquezas” que nos impedem de ser felizes desaparece, com a desarmante simplicidade do seu contacto, com a fidelidade e facilidade de contacto que têm, e com as solidariedades que despertam. Como sociedade estamos tantas vezes distraídos com estas pessoas, que a Declaração de Madrid chamava “invisíveis” num documento que serviu de base para a celebração do Ano Europeu da Pessoa com Deficiência. Também estamos distraídos com as suas famílias, tantas vezes sós com as dificuldades de gestão duma vida que inclui uma pessoa com dependências várias, que exigem várias mãos. Neste Movimento aprendemos a partilhar as nossas experiências, a carregar os “fardos” uns dos outros a construir novas solidariedades, mas sobretudo aprendemos a olhar os nossos filhos, os nossos concidadãos, com um novo olhar, descobrindo e apreciando em conjunto, em comunidade, os seus dons; os dons de cada um dos membros de cada comunidade. Este Movimento pretende criar redes informais e não estruturas de resposta social e esse é também um tesouro inestimável dele. As tarefas de “gestão” são reduzidas ao mínimo, à necessária organização para que as trocas sejam possíveis, para que toda a gente a todos os níveis do Movimento possa ter perto de si um “pastor” em quem se apoiar e sentir que se pode dar a mão a alguém, pode também contar com uma mão de alguém a quem confiar as suas dúvidas, os seus problemas, as suas alegrias. Para a Igreja reunida em torno da figura de Jesus, o Bom Pastor, aquele que deu graças ao Pai porque “revelastes estas coisas aos pequeninos e as escondestes aos sábios e aos entendidos” (Mt. 12, 25), acreditamos que este Movimento e a mensagem do Jean Vanier é um tesouro que, em Portugal tem ficado escondido demais. Na nossa sociedade de desafiliação em que sabemos a importância do sentimento de pertença a um grupo, a um território, a uma Igreja este Movimento fundado por Jean Vanier e Marie Hélène Mathieu traz uma mais valia importante para a construção da coesão social, começando a construção da sociedade pelos seus alicerces: a existência humana é marcada pela fragilidade, mas esta não é sua destruição. A descoberta do seu valor constitui antes o caminho para a sua sustentabilidade. A mensagem do Jean Vanier e a sua vasta bibliografia explicita estas realidades com a riqueza da sua vida de partilha com as pessoas com deficiência e as famílias. Vale a pena ouvi-lo e espalhar a sua palavra.

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