Timor Leste: «Será que poderemos realmente ter esperança?»

Em Fevereiro de 2008, a visita que um irmão fez a Timor Leste foi profundamente marcada pela tentativa de assassinato do Presidente da República Passaram dois anos desde a última vez que estive em Timor Leste. A crise de 2006, a violência, os milhares de refugiados que chegaram das montanhas e as campanhas para as eleições legislativas e presidenciais impediram-me de lá ir entretanto. Tinha acabado de aterrar quando fui surpreendido pelo cenário que me rodeava: casas destruídas, refugiados por todo o lado, a viverem nos jardins públicos, nas paróquias, nas escolas, nos seminários, em tendas e em abrigos ou até mesmo nas varandas e nos corredores da Câmara Eclesiástica. O primeiro encontro estava previsto para Bazartete, uma paróquia nas montanhas, a uma hora e meia de Dili. Devido às chuvas, as estradas estavam praticamente intransitáveis para os veículos a motor. Duas jovens irmãs, que vivem numa pequena comunidade na aldeia, precisaram de muita coragem para fazer a viagem. Nalguns locais, a estrada era realmente perigosa e só graças à boa vontade de algumas pessoas é que conseguimos tirar a carrinha da lama. Mas, apesar de tudo, vieram 250 jovens, alguns de localidades muito distantes, como Maliana e Liquiça… Aqueles que assim o desejaram puderam pernoitar na aldeia e as pessoas da paróquia tinham-lhes preparado uma pequena ceia. O que significava que podíamos estar à vontade, sem pressas. O DVD sobre Taizé, que fala sobre a vida da Comunidade e apresenta testemunhos de jovens, foi visualizado com muita atenção e interesse pelos jovens presentes. Eles colocaram depois imensas questões. A «Carta de Cochabamba» tinha sido traduzida em tétum. Depois de a lermos em voz alta, os jovens tiveram uns minutos de silêncio para uma releitura pessoal, seguidos por um momento de partilha. Cada pequeno grupo foi convidado a preparar uma oração para ser lida durante a oração da noite. A igreja estava maravilhosamente decorada, com muita simplicidade, o que por si só é um convite a entrar numa relação mais próxima com Cristo. Em cada local onde estive, o programa dos encontros foi parecido. Com um dia e meio para cada encontro, havia tempo para que cada jovem se pudesse expressar em frente a todos. Foi comovente quando um deles disse: «Tenho a sensação de que esta Carta foi escrita para nós». De facto, muitos se exprimiram de forma similar: a Carta parecia adaptada à situação actual. Eu estava em Baucau quando chegou a notícia do atentado contra o Presidente e da morte do Major Alfredo. Obviamente, a notícia gerou uma enorme ansiedade. O que iria acontecer? «Em Timor, nunca se sabe o que vai acontecer amanhã». Todos permaneceram calmos e a nossa reflexão pôde continuar. Soubemos que Dili estava calma e partimos para Fuiloro, onde 400 jovens nos esperavam. Vindos não só das duas grandes escolas de Dom Bosco mas também de Los Palos e de outros lugares distantes de Baucau. Nesta situação de tamanha incerteza, não poderia ter sido mais apropriado terminar o encontro com uma oração à volta da cruz. Depois da leitura da «Carta de Cochabamba» e da «Carta a quem gostaria de seguir Cristo», cada pessoa foi convidada a escrever uma oração ou a expressar por escrito algo que a incomodasse ou que quisesse confiar a Cristo. Cada um colocou a sua pequena folha numa caixa junto à cruz. De regresso a Dili, tive vários encontros: um, ecuménico, na YMCA; outro, com postulantes e noviças de várias congregações religiosas, em Becora; outro, em Nossa Senhora de Guadalupe, em Balide; outro no Seminário Maior; e finalmente um encontro com os jovens da diocese de Dili. Em todas estas ocasiões, a oração teve uma intensidade rara. No silêncio, através dos cânticos e com gestos de prostração junto à cruz, cada um pôde expressar qualquer coisa do seu combate. Num dos pequenos grupos de partilha, um jovem disse: «Rezamos, rezamos e nada muda!» E, depois, acrescentou: «Será que poderemos realmente ter esperança?» Ouvir estas palavras foi dilacerante. Mas a sua questão confirmou-nos naquilo que procuramos partilhar: uma oração muito simples, onde podemos abrir o nosso coração tal como ele é, com a violência e o desejo de paz que o habitam, e deixar Cristo reavivar a esperança.

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