Timor-Leste: Papa defende compromisso da Igreja em favor da reconciliação e da paz

Francisco pede empenho na luta contra a pobreza e a corrupção

Foto: Vatican Media

Díli, 10 out 2024 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje com representantes das comunidades católicas em Timor-Leste, que convidou a um compromisso comum pela paz e contra a pobreza no país.

“O vosso país, radicado numa longa história cristã, precisa hoje de um renovado impulso na evangelização, para que chegue a todos o perfume do Evangelho: um perfume de reconciliação e de paz, depois dos sofridos anos da guerra”, disse, no discurso que dirigiu a membros do clero e de institutos religiosos, seminaristas e catequistas, na Catedral da Imaculada Conceição de Díli.

“Um perfume de compaixão, que ajude os pobres a reerguer-se e que suscite o compromisso em levantar os destinos económicos e sociais do país; um perfume de justiça, contra a corrupção. Estejam atentos, muitas vezes a corrupção pode entrar nas nossas comunidades, nas nossas paróquias”, acrescentou.

Francisco foi recebido pelo arcebispo de Díli, D. Virgílio do Carmo da Silva, primeiro cardeal timorense, e pelo presidente da Conferência Episcopal, D. Norberto do Amaral, bispo de Maliana.

Depois de uma dança de boas-vindas, duas crianças ofereceram flores e o Papa entrou na Catedral, saudando um grupo de pessoas com deficiência.

Apresentando-se como “peregrino no Oriente”, Francisco destacou que o país, com mais de 95% de católicos, está no “centro” do Evangelho, “precisamente porque está nas fronteiras”.

“No coração de Cristo, como sabemos, as periferias da existência estão no centro: o Evangelho está repleto de pessoas que se encontram nas margens, nas fronteiras, mas são convocadas por Jesus e tornam-se protagonistas da esperança que Ele veio trazer”, explicou, numa intervenção em espanhol, traduzida para tétum com a ajuda de um sacerdote.

Irmãos e irmãs, vós sois o perfume, muito mais valioso que os perfumes franceses, são o perfume de Cristo, o perfume do Evangelho neste país. Como uma árvore de sândalo, de folha perene, forte, que cresce e dá frutos, também vós sois discípulos missionários, perfumados com o Espírito Santo para inebriar a vida do vosso povo”.

O Papa convidou a olhar “com gratidão” para o passado e a “a semente da fé aqui lançada pelos missionários”, sem descurar o presente e o futuro, convidando a “purificar” a cultura timorense de “formas e tradições arcaicas, por vezes supersticiosas”.

“Em particular, o perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela mulher”, acrescentou.

Francisco elogiou o papel das religiosas ao serviço dos “mais necessitados”, pedindo que sejam “mães” nas comunidades.

Foto: Vatican Media

O Papa convidou os sacerdotes a pensar no seu ministério não como “um prestígio social”, mas como um serviço, alertando que o demónio “entra sempre pelos bolsos” e que os padres devem “amar a pobreza como esposa”.

“Os mais privilegiados são os mais pobres”, apontou.

O encontro teve testemunhos de uma religiosa, um sacerdote e um catequista timorenses.

D. Norberto do Amaral fez a saudação inicial, recordando que Timor-Leste é a nação com “a maior percentagem de católicos na Ásia e, pode dizer-se, a nível mundial”.

O presidente da Conferência Episcopal Timorense recordou os anos de luta pela independência, destacando que o país “conseguiu levantar-se e pôr-se de pé, renascendo das cinzas da destruição”.

Antes de se despedir, o Papa Francisco faz uma breve paragem para saudar um grupo de doentes e depois regressou de carro à Nunciatura Apostólica, onde se encontra em privado com os membros da Companhia de Jesus presentes no país.

A celebração central da viagem vai decorrer hoje, pelas 16h30 (08h30 em Lisboa), em Tasi Tolu, o mesmo local que acolheu o Papa polaco, com a presença de centenas de milhares de pessoas.

A viagem mais longa do pontificado, iniciada a 2 de setembro, inclui 44 horas e mais de 32 mil quilómetros de voo, entre Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, onde a 45ª visita apostólica do Papa se encerra, a 13 de setembro.

OC

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