Duas religiosas em missão em Timor falam de esperança num «país cheio de jovens» onde o estudo da Língua Portuguesa aumentou de 12% para 35% de falantes
Timor, 19 mai 2022 (Ecclesia) – A irmã Cristina Macrino, Religiosa Reparadora de Nossa Senhora de Fátima, em missão em Timor-Leste há 10 anos, disse hoje à Agência ECCLESIA que o “futuro do povo timorense começa a partir de 20 de maio, 20 anos depois”.
“O futuro do povo timorense começa a partir de 20 de maio, 20 anos depois, e desejo que seja um futuro mais promissor. Tem grande impacto a mudança de presidente aqui na vida quotidiana porque é algo que influencia as nossas vidas: o governo timorense, por exemplo, tem esta grande graça de ajudar as instituições de solidariedade social, como o nosso projeto das criança”, explica a religiosa.
Enfermeira de formação, a irmã Cristina Macrino aponta que na área da saúde há “um longo caminho a fazer”.
“Nas regiões mais remotas, há falta de muitas coisas, seja água potável, nutrição e, com a situação da Covid-19, ainda foi pior, e a falta de medicamentos aumentou a gravidade da tuberculose, uma das maiores causas de morte em Timor”.
A religiosa partilhou ainda que a congregação tem uma clínica a três horas e meia da capital e, “ao acompanhar e encaminhar as pessoas para o hospital”, deparam-se com “a escassez de entrada de medicamentos no país”.
“Se escasseia a medicação também escasseia a possibilidade de ajuda às pessoas e aqui a área da saúde precisa de um futuro mais promissor”, aponta.
Outra das áreas que a irmã Cristina Macrino denota uma evolução é a formação na Língua Portuguesa, “que nestes 10 anos passou de 12% para 35% de falantes”.
“Houve alguma evolução na educação, seja estrutura seja na forma pedagógica, mas ainda falta avançar. O estudo da Língua Portuguesa aumentou porque há maior consciência da importância da língua para o conhecimento geral e para prosseguir os estudos. Portugal tem contribuído e tem sido grande pioneiro desta motivação para a aprendizagem da língua”, destaca.
A irmã Cristina Macrino indicou ainda a povo timorense “muito jovem”, onde mais de 60% da população tem menos de 20 anos, o que pode ser uma preocupação porque, “se não houver oportunidades, estes jovens esmorecem ou saem do país”.
A tomada de posse do novo presidente, Ramos Horta, acontece nesta noite (de 19 para 20 de maio) e a religiosa integra a comitiva de receção ao presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que vai acontecer este sábado.
“Já estou em Díli para acompanhar a festa e estarei na comitiva de receção ao presidente português este sábado. Tentarei ter a oportunidade de falar com ele”, indica.
Já a irmã Teresa Costa, Concepcionista ao Serviços dos Pobres, está em missão em Timor há cinco anos e não se deslocou a Díli para a festa.
“A minha missão é em Díli, mas neste momento encontro-me a quatro horas de viagem da capital, aqui conto acompanhar as comemorações já a partir desta noite e ver o hastear da bandeira, momento alto das comemorações da independência do país”, conta.
Para a religiosa, responsável pelas três comunidades da congregação em Díli, “há uma grande esperança de uma reforma na educação”.
“Sinto que há uma grande esperança ao nível da educação para que haja um grande reforma. Os jovens acabam o 12º ano e sabem muito pouco”, partilha em declarações com a Agência ECCLESIA.
Também ao nível da saúde a religiosa aponta que gostava de ver mais humanização.
“Sinto que houve progresso nesta área, mas são precisas novas infraestruturas e é necessário a formação, nomeadamente a humanização nos cuidados, porque muitas das pessoas não vão ao médico porque têm medo”.
A congregação, que tem dois infantários e apoio de ATL, lida “diretamente com a vida das famílias” e a irmã Teresa Costa aponta “que há muito a fazer”.
“Na área social há muito a fazer! Aponto novamente o humanismo, ao nível social é preciso interesse, é necessário investir muito para que se faça alguma coisa, seja na área de pobreza ou maus tratos. É preciso interessar-se pelas causas… Mas há outro grande problema: são as pessoas com doença mental que não têm acompanhamento, porque não há conhecimento nem cuidados, e essas pessoas às vezes nem estão medicadas”, reconhece a religiosa de 43 anos.
No entanto a irmã Teresa Costa sente o povo timorense como “muito alegre e de grande acolhimento”, com grande resiliência perante o que já passaram, e há a “esperança nos mais jovens”.
“Vemos uma grande interajuda entre eles. Mesmo quando há fome e a alimentação não é muito boa, há sempre alguém que partilha um saco de arroz, seja familiar, amigo ou vizinho e isso é de valorizar; bem como a alegria e simplicidade que faz com que as pessoas se aproximem deles e é um povo que nos encanta”, resume.
José Ramos-Horta, de 73 anos, toma posse como presidente da República de Timor-Leste no dia 20 de maio, data em que se cumprem 20 anos da restauração da independência do país.
SN/PR