Tesouro-Museu da Sé continua à espera da utilidade pública

Declaração é fundamental para aproveitar Lei do Mecenato O deão do Cabido da Sé afirmou ontem que o processo de declaração de utilidade pública ainda continua pendente, apesar de todas as diligências que têm sido feitas. Esta declaração é fundamental para a Sé de Braga poder aceder a verbas ao abrigo da Lei do Mecenato, que permitam custear os gastos com as obras do Tesouro- Museu. As informações que existem indicam que o documento se encontra para despacho do primeiro-ministro. Este alerta foi lançado ontem pelo cónego Pio Alves de Sousa no âmbito de uma visita que integrava uma representante da Unesco, a consultora para os Museus das Migrações Carine Rouah, a directora do Centro de Memória e Informação da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Rio de Janeiro, Ana Pessoa, a directora da Orquestra Sinfónica do Brasil, Lúcia Sanson, e o responsável pelo Museu da Emigração e das Comunidades de Fafe, Miguel Monteiro. O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, recebeu os visitantes na Sé de Braga e acompanhou-os ao Museu Pio XII e à torre anexa. O cónego Pio Alves de Sousa sublinhou que o processo se arrasta, apesar do empenho manifestado pela Câmara Municipal de Braga e das repetidas promessas do secretário de Estado da Cultura. «Ainda estamos a aguardar», declarou. No passado dia 30 de Abril, este responsável aproveitou a presença de Mário Vieira de Carvalho na inauguração do Tesouro- Museu, para lhe recordar o pedido. Segundo explicou na sessão que marcou a reabertura da estrutura museológica ao público, o Cabido apresentou o pedido de declaração de utilidade pública para a Sé de Braga em 2002, um processo que foi reactivado em 2005. No final da inauguração, o secretário de Estado da Cultura disse aos jornalistas que os processos de atribuição do estatuto de utilidade pública e de interesse cultural para o Museu estavam «em vias de conclusão». O director do museu referiu ontem que a declaração é fundamental para a recolha de fundos ao abrigo da Lei do Mecenato. A intervenção levada a cabo no museu custou perto de 2,3 milhões de euros, sendo comparticipada em 50 por cento pelo Ministério da Cultura. O restante é da responsabilidade do Cabido da Sé, que quer recorrer a verbas ao abrigo do mecenato para pagar as dívidas que ainda tem para saldar. O cónego Pio Alves de Sousa defendeu que, com o actual modelo, os potenciais mecenas não só não têm benefícios fiscais, como têm de pagar impostos sobre as verbas que dão. Em seu entender, a atribuição deste estatuto será o justo reconhecimento da Sé de Braga, um edifício de referência, que é um monumento de interesse europeu, e da qualidade do museu. Museu recebeu 7.250 visitantes O Tesouro-Museu da Sé recebeu, desde que abriu ao público, a 30 de Março, 7.250 visitantes. Segundo os responsáveis pelo espaço museológico, tem-se registado um aumento significativo da procura das escolas. No entanto, referem que no Museu também se nota que há uma quebra no número de turistas que procuram a cidade de Braga. O cónego Pio Alves de Sousa salienta que uma das apostas do Museu é a captação de grupos, quer sejam escolares ou de instituições, tais como lares da terceira idade. As visitas podem ser preparadas previamente, através da página da Internet www.se-braga.pt. O museu tem a funcionar dois dos quatro percursos previstos. Para já é possível ver a exposição permanente e fazer o itinerário pelas capelas e coro alto. No futuro, haverá um percurso pelas torres e visitas guiadas à Sé. No total, a estrutura museológica tem quatro mil peças, sendo que metade é da área têxtil. Depois do Tesouro-Museu da Sé, a comitiva seguiu para a Nossa Senhora da Torre e para o Museu Pio XII. O director desta estrutura museológica referiu que ela é visitada por três a quatro centenas de pessoas por mês, notando-se que as escolas têm menos disponibilidade para actividades no exterior. O Arcebispo de Braga explicou que esta visita se destinuou a divulgar o património da Igreja bracarense, aproveitando o facto de os especialistas se encontarem na região para participarem no seminário internacional “Memórias e Migrações”, que se realiza em Fafe, a partir de amanhã. D. Jorge Ortiga gostaria de explorar a possibilidade de integrar este património nos roteiros da Unesco. «Interessante » foi a forma como Carine Rouah definiu o que viu. Museus das migrações valorizam diversidade cultural A consultora para os Museus das Migrações Carine Rouah defendeu ontem que estas estruturas permitem valorizar a diversidade cultural. Falando à margem de uma visita a Braga, esta responsável referiu que a criação de uma rede de museus dedicados a esta temática é «um fenómeno novo». Carine Rouah salientou que os museus mostram a riqueza das culturas de origem e os motivos que obrigaram os povos a migrar, o que permite desenvolver um sentimento de empatia, diminuindo as possibilidades de xenofobia. A consultora referiu, por outro lado, que estas estruturas contam “estórias” individuais, combatendo os esteriótipos sobre os migrantes. Como exemplo, falou que a “estória” da emigração portuguesa incluirá referências ao período de Salazar, para explicar os motivos políticos e económicos que estiveram na origem do êxodo de muitos portugueses. Carine Rouah explicou que a rede integra, neste momento, uma vintena de países. A origem dos museus varia de país para país, sendo que alguns são de iniciativa nacional e outros têm origem em comunidades. O movimento surgiu a partir de Ellis Island, em Nova Iorque, que vai ter uma exposição em Fafe até Agosto. O coordenador geral do seminário internacional “Memórias e Migrações”, que se realiza entre amanhã e domingo, em Fafe, referiu que este encontro permitirá «dar um novo salto no projecto», que consiste no estudo das migrações. O programa inclui sessões científicas, exposições internacionais, um ciclo de cinema, a assinatura de protocolos e a homenagem a Albino de Oliveira Guimarães.

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