Terra Santa: cristãos desaparecem por detrás de um muro de silêncio

Há locais da Terra Santa em que a presença do Cristianismo vai desaparecer no espaço de uma geração. “Existe um grande número de pessoas que pura e simplesmente não aguenta mais. Precisam da ajuda da Igreja”, refere o Patriarca de Jerusalém, D. Michel Sabbah, em entrevista à secção do Reino Unido da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). O olhar sobre a Palestina dos tempos modernos feito por este respeitado líder católico é dramaticamente realista. “Cristãos e muçulmanos sofrem por igual porque sofrem com a ocupação”, assinala, frisando que, em todos os lugares, “as pessoas sentem-se privadas da sua dignidade”. A poucos quilómetros de Jerusalém, a cidade de Belém – onde, segundo a tradição, nasceu Jesus -, está completamente rodeada por uma grande muralha de betão, a que vários responsáveis cristãos se referem como o “muro da vergonha”, comparando o seu impacto ao do Muro de Berlim. Esta barreira de segurança que os israelitas construíram na Cisjordânia separou, na prática, Belém e os territórios palestinianos do resto do mundo. Mais de 300 quilómetros de cimento e arame farpado – a construção ainda só vai a meio – são fortemente policiados por forças israelitas. Para o Patriarca Sabbah, o impacto destas restrições sobre as populações não poderia deixar de ser significativo. “Por causa do muro, todas as grandes cidades palestinianas tornaram-se uma grande prisão: é-se livre de circular dentro delas, mas não se pode sair sem uma autorização”, aponta. A somar a esta situação estão as dificuldades criadas pelos cortes dos apoios internacionais ao governo local, liderado pelo Hamas. Lojas e outros espaços estão fechados, os serviços básicos estão seriamente afectados. Em Belém, o número de turistas baixou de 100.000 visitas por mês para menos de 10.000, apenas no espaço de quatro anos. Os mais de 200 autocarros de peregrinos que chegavam ao local não chegam hoje a uma dúzia, levando a uma migração em massa dos cristãos, que eram metade da população da cidade no ano 2000. D. Michel Sabbah vê pouca esperança no futuro e é particularmente crítico da ocupação israelita. “Cada dia é pior, não há sinais de que os políticos cheguem a um entendimento, mas avançam cada vez mais para a guerra”, alerta. “Israel não dá ouvidos a ninguém. Matar um palestiniano não significa nada e demolir as suas casas é uma rotina”, lamenta. Organizações como a AIS têm um papel essencial no apoio à comunidade cristã. Os projectos da Fundação na Terra Santa são muito diversos – desde a reparação do sino numa Igreja Siro-Ortodoxa, à oferta de aquecedores para os estudantes do seminário do Patriarcado Latino. O projecto que maior apoio mereceu por parte do Patriarca Sabbah, contudo, é o que ajuda famílias a venderem os seus terços e cruzes feitos com madeira de oliveira aos benfeitores da AIS no Ocidente. Poucos projectos proporcionam como este, “trabalho justo” às comunidades oprimidas. Departamento de Informação da Ajuda à Igreja que Sofre

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