Grupo de Trabalho Religiões Saúde
A partir da atenção às experiências da doença e da morte, da cura e do fracasso;
a partir da proximidade ao Ser Humano que vive o sofrimento que estas experiências impõem, porque colocam diante de uma exigência de autenticidade e verdade que o confronto com estes nós existenciais não permite declinar,
nós, Grupo de Trabalho Religiões Saúde, constituído em dezembro de 2009, livres como as Religiões devem ser face ao Estado, embora gozando do assentimento do Ministério da Saúde, propomos uma reflexão à sociedade portuguesa, um processo sociocultural de encontro no Bem e na Beleza que resulte em terapia de esperança em tempos de crise.
- O caminho que vimos trilhando no âmbito da assistência espiritual e religiosa hospitalar, experiência singular e pioneira no nosso país, quanto nos é dado conhecer, está a resultar frutuosa, se mais não fora, pelo alcance de pedagogia sociocultural de que se reveste.
- Sem se fechar ao diálogo com o agnosticismo e ao ateísmo, o encontro entre as diversas famílias de crentes por causa da Pessoa humana que sofre justifica o compromisso conjunto.
Algumas reflexões resultantes do nosso percurso queremos propor a todos os que as queiram acolher:
- As sociedades multiculturais são um sofisma paradoxal no próprio modo de se dizer: para serem sociedades terão que ser interculturais. O ser sociedade não é compatível com a mera justaposição de culturas, porque exige interação, convivência entre elas. “Encostar” culturas sem percorrer caminhos de interculturalidade cria muros, ao menos interiores, geradores de preconceitos, desconfianças e medos recíprocos, como muitos acontecimentos de maior ou menor dimensão, vêm manifestando. Simplisticamente, “encosto” não é encontro e o encontro é que gera a sociedade, do mesmo modo que esta tanto mais o é quanto mais gera encontro.
- É fator determinante do futuro, o encontro que só o diálogo inter-religioso pode proporcionar, sabendo, como experimentamos, que a religião é expressão simultaneamente princípio e ápice de cada cultura.
- Neste processo, o Estado tem um papel a desempenhar que é garantir e criar condições favoráveis, por via de uma laicidade positivamente entendida, à emergência das religiões no espaço público e nas Instituições, proporcionando a possibilidade de se encontrarem e de serem encontradas, contribuindo, a seu modo, para o concerto plural que plasma as múltiplas formas de encontro de que vive e que fazem viver a sociedade.
- É fundamental o exercício de cidadania a que as próprias Comunidades de Crentes são chamadas, dando-se a conhecer e revelando-se umas às outras e ao corpo social em que estamos integradas, propondo conceitos, construindo lugares antropológicos novos e criando uma gramática do encontro, em que a condição religiosa, incontornável porque constitutiva do humano, seja claramente assumida como vetor indeclinável da e na vida da Cidade.
- Portugal, ao longo da história, sempre cais de embarque para Culturas e praça de convergência de Culturas, não pode esquivar-se a esta reflexão sobre as muitas raízes culturais incorporadas no corpo social que é.
- O momento crítico que vivemos pede terapia de esperança, que deverá passar pela revalorização desta dimensão integrante da nossa identidade espiritual como Povo de povos, assim geneticamente constituído.
- O coração da mensagem das várias Tradições Religiosas, que hoje estão presentes na sociedade portuguesa, constitui um lugar de encontro de olhares sobre o mistério do Homem em si mesmo e na sua realização enquanto ser social.
- A procura e concretização ativa do Bem e da Beleza, demanda comum a todos os grupos humanos em que as famílias de crentes se empenham também por exigência da própria religião, oferece uma pauta sobre que escrever harmonicamente a vida em sociedade, desenhando uma cultura de integração de todos, avessa, pelos seus próprios dinamismos, a todos os fenómenos de exclusão e intolerância.
- Isto mesmo se pode perceber na Exposição Encontro no Bem e na Beleza, terapia de Esperança em tempo de crise que integra esta proposta de reflexão sociocultural. Ela manifesta como, na atuação do Amor – agir sistematizado nas tradicionais cristãs Obras de Misericórdia, palavra esta inspirada no existir de Deus para dizer a fraternidade e a solidariedade humanas – se arquiteta uma sociedade assente na abertura ao “outro”, abertura realizada na responsabilidade pelo “outro” e face ao “outro”.
- Destas coordenadas emerge uma espiritualidade a descobrir e a cultivar como terapia do tempo, marcado pela crise. São caminhos a percorrer, que asseguram um presente e um futuro de mais humanidade, terapia de Esperança.
Grupo de Trabalho Religiões Saúde