Lígia Silveira, Agência Ecclesia
Dou por mim deitada na relva a olhar para o azul que me cobre, que me alberga como um teto, próximo e distante, ao alcance da mão, mas, ao mesmo tempo, que se estende no horizonte do meu olhar.
O meu deslumbre é maior quando reconheço o contraste do azul entre os ramos e as folhas das árvores, que ondulam ao vento ou fixam a proximidade e a distância.
Basta levantar a cabeça e parar o olhar. E há tanta beleza na natureza: não precisa ser preparada ou prevista… basta levantar o olhar e reparar, deixar-se parar.
Encontrei aqui uma experiência de silêncio, de pequenez, mas também de comunhão e sentido.
Nestes dias peregrinei, ou melhor, caminhei junto. Queria sentir o caminho, olhar o mundo à volta, ouvir a natureza, conhecer-me e reconhecer-me no esforço silencioso, orante, simultaneamente pequeno. Mais até do que chegar, caminhei junto.
Deslumbrei-me com os diferentes tons de verde, com as cores das flores à beira do caminho a despontar e a pintar a paisagem, serenei nos sons dos pássaros e do vento, inspirei o ar que por mim passava nos caminhos, confortei-me na brisa ligeira para aliviar o calor.
Saudei desconhecidos à minha frente que nos passos do caminho são outros como eu; partilhei com estranhos orações conhecidas, rezadas ao seu compasso; aprendi a sincronizar ritmos, a respeitar diferenças; encontrei espaço para mim e deixei-me levar.
«Meu Deus, agradeço-te por me teres criado como sou. Agradeço-te por às vezes poder estar cheia de vastidão, esta vastidão não é senão estar repleta de ti.
Prometo-te que a minha vida há-de ser uma luta para atingir a bela harmonia, e também a humildade e amor verdadeiro que me sinto capaz nos meus melhores dias»
Etty Hillesum, Diário 1941-1943 (12.12.1941).
A harmonia, o belo, a humildade, o amor, o respeito, a entrega, a cordialidade, a empatia, a partilha, a escuta, o silêncio natural, a inteireza acontecem quando se caminha, quando se caminha junto. E quando se levanta o olhar.