Taizé: «Nunca tinha visto a colina tão vazia» – Irmão David

Irmãos vivem “em oito pequenos grupos”, “ajudados por um uma dezena de voluntários”, procurando enfrentar pandemia

Foto Cédric Nisi (arquivo)

Taizé, França, 28 mar 2020 (Ecclesia) – O irmão David, monge português da Comunidade Ecuménica de Taizé (França), falou à Agência ECCLESIA dos “tempos inéditos provocados pelo Covid-19”, que deixou deserta a colina da localidade francesa.

“Tivemos de fechar o acolhimento e pedir às pessoas inscritas para adiarem a sua vinda à colina. Estavam em Taizé cerca de oitenta jovens voluntários, que pensavam ficar cá ainda vários meses… não foi fácil pedir-lhes para regressarem às suas casas”, disse o religioso português, adiantando que as irmãs de Santo André “estão confinadas” à casa em Ameugny.

O irmão David refere que “nunca tinha visto a colina tão vazia”.

Atualmente estão na comunidade ecuménica “setenta e poucos irmãos, ajudados por um pequeno grupo de uma dezena de voluntários”.

Foto: Irmão David, da Comunidade Ecuménica de Taizé, Patriarcado de Lisboa (arquivo)

“Não sabemos quando poderemos voltar a acolher peregrinos em Taizé. A Semana Santa e a Páscoa terão que ser vividas entre nós. Estamos a tentar organizar-nos para poder transmitir alguns dos momentos fortes e partilhar a nossa vivência destes dias tão especiais”, adianta o único religioso português da comunidade ecuménica.

Antes da pandemia do Covid-19 em França e em Portugal, “cerca de dois mil e trezentos portugueses” celebraram o início da Quaresma em Taizé, e estavam “muitos inscritos” para viver a Semana Santa na “colina”.

A todos eles e a todos os que ao longo dos anos temos acolhido gostaríamos de desejar que este caminho em direção à Páscoa possa ser de encontro com Cristo, Aquele que se identifica com todos os que sofrem e que na Páscoa nos traz a promessa de vida em plenitude. «É este o tempo favorável!», escreve São Paulo na segunda carta aos Coríntios, no início do capítulo 6.” – Irmão David aos jovens portugueses.

Os monges recebem “todos os dias mensagens com partilhas” sobre como as pessoas estão a viver estes tempos nos diferentes continentes, esta quinta-feira, por exemplo, leram uma de Moscovo (Rússia) e outra de Beirute (Líbano) e as que chegam do norte de Itália “são impressionantes, vários amigos foram atingidos pelo vírus”.

O irmão David refere que naquela região, a cerca de 360 quilómetros de Paris, a situação também “é grave”, com “mais de cem mortos e, agora, estão cerca de 150 nos cuidados intensivos”, com os profissionais na área da saúde “sobrecarregados de trabalho e de stress”.

Neste contexto, adianta que têm “dez irmãos em quarentena”, depois de regressarem a semana passada a Taizé, de visitas pastorais ou das suas famílias, enquanto um monge está doente “e os sintomas indicam que poderá tratar-se do coronavírus” mas em França “não fazem testes nestes casos” e por indicação médica estão a atuar “como se fosse este vírus”.

Foto: Taizé

A comunidade está a seguir os conselhos de médicos amigos, dividiram-se em pequenos grupos pelas diferentes casas da aldeia e vivem “separadamente:” “Comendo, rezando e trabalhando em oito pequenos grupos. O contacto que mantemos é feito quase exclusivamente por telefone, que implica um grande empenho de cada um para se adaptar à nova situação”.

“Nas diferentes capelas rezamos juntos, em pequeno grupo, três vezes por dia. Procuramos manter-nos em união de oração com os que sofrem as consequências desta pandemia: recebemos várias centenas de pedidos de oração nos últimos dias”, explicou, lembrando que todas as noites transmitem a oração pela internet.

“Podemos ver nesta nova configuração uma oportunidade para alimentar a fraternidade no pequeno grupo em que estamos inseridos. A distância física que temos que respeitar não é um obstáculo à proximidade espiritual e até nos tem ajudado a aprofundar a comunhão. Os nossos irmãos no Brasil, em Cuba, no Senegal, no Bangladesh ou na Coreia do Sul também estão confinados nas suas casas e graças à internet podemos manter um contacto muito estreito com eles”, desenvolveu o religioso, natural de Portalegre.

Na comunidade ecuménica tentam manter um “contacto telefónico regular” com as pessoas que estão próximas, “sobretudo as que atravessam maiores dificuldades”, porque as que vivem sozinhas, “sobretudo as de mais idade, estão muito isoladas”, e continuamos a acompanhar à distância “os refugiados que viveram um tempo em Taizé, hoje é como se fossem parte da família”.

A comunidade ecuménica de Taizé nasceu a 20 de agosto de 1940, começou por acolher perseguidos políticos, judeus e mais tarde prisioneiros alemães, e foi fundada por Roger Schutz (1915-2005), um jovem pastor protestante suíço.

CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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