Sara Beysolow Nyanti denunciou cenário de crise humana, em encontro com o Papa, o primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia
Juba, 04 fev 2023 (Ecclesia) – A chefe da missão da ONU no Sudão do Sul, Sara Beysolow Nyanti, alertou hoje em Juba para a crise humana no país africano e a situação “extremamente vulnerável” em que se encontram as meninas e mulheres.
Falando num encontro com com o Papa, o primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia, num campo para deslocados internos na capital sul-sudanesa, a representante especial adjunta do secretário-geral das Nações Unidas falou da violência sexual, em particular do risco de violação, mesmo nas tarefas básicas do quotidiano.
“Se as mulheres do Sudão do Sul tiverem a oportunidade de se desenvolver, de ter espaço para serem produtivas, o país será transformado. As mulheres são a chave para a transformação e podem liderar as suas comunidades para um futuro melhor”, disse Sara Beysolow Nyanti.
A representante da ONU no mais jovem país africano falou da visita do Papa e dos líderes da Igreja Anglicana e da Escócia (Presbiteriana) como “uma oportunidade importante para chamar a atenção do mundo para a situação no Sudão do Sul, num momento em que várias crises humanas estão a surgir simultaneamente”.
“O contexto humanitário no Sudão do Sul é preocupante. Há mais de uma década, o povo do Sudão do Sul experimenta conflitos, instabilidade social e política, choques climáticos, violência, deslocamento, insegurança alimentar, falta de oportunidades de educação e acesso a sistemas de saúde”, elencou.
Sara Beysolow Nyanti falou em mais de 2 milhões de deslocados internos e 2 milhões de refugiados, fora do país, numa população de 13,7 milhões de pessoas, o que torna esta a “maior crise de refugiados na África”.
“Níveis extremos de insegurança alimentar e desnutrição afetam dois terços da população do país. Esta situação faz do Sudão do Sul uma das piores emergências alimentares do mundo. Estima-se que oito milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar em 2023”, alertou.
A responsável da ONU apontou o dedo à insegurança, violência, crime e impunidade no país, independente desde 2011, lamentando ainda a falta de donativos para alimentar o trabalho humanitário.
“O Sudão do Sul continua a ser o local mais perigoso para os trabalhadores humanitários, seguido do Afeganistão e da Síria”, advertiu depois, evocando a morte de nove pessoas, em 2022.
Justin Welby, arcebispo da Cantuária e líder da Comunhão Anglicana, proferiu uma oração pelas crianças que vivem em campos de refugiados, recordando que o próprio Jesus “fugiu da perseguição”, na sua infância.
O primaz anglicano rezou para o Espírito Santo “queime todo o ódio e amargura, medo e inimizade”, abrindo caminho para a transformação do mundo.
O pastor Iain Greenshilds, moderador da Assembleia-Geral da Igreja da Escócia, também rezou neste encontro, que decorreu no ‘Freedom Hall’ (Salão da Liberdade) de Juba.
“Que, de facto, este seja um lugar de novo começo – um lugar de liberdade”, pediu, numa oração pela paz e a justiça.
O campo de Juba para deslocados internos, criado em 2013, acolhe mais de 30 mil pessoas.
OC
Sudão do Sul: Francisco denuncia «maior crise de refugiados» da África