Sucessor do Cardeal Ratzinger apresenta-se

Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé espera colaboração de todos os teólogos O Arcebispo William J. Levada, o novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, quer que o seu papel como “guardião da Doutrina” não seja entendido como o de um inquisidor, mas de uma forma positiva. Em entrevista à agência norte-americana CNS, o Arcebispo Levada explica que a sua experiência pessoal o irá tornar sensível “aos desafios doutrinais que os Bispos enfrentam em todo o mundo”. Apesar de admitir que a Congregação tem, por vezes, de disciplinar “teólogos errantes”, o novo prefeito do Dicastério assegura que a sua primeira missão é positiva: “salvaguardar a sã doutrina, para que a fé possa ser partilhada com o mundo”. O sucessor do Cardeal Joseph Ratzinger, agora Bento XVI, à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, espera que esta missão “seja partilhada por todos os teólogos”. Bento XVI recebeu-o pela primeira vez na semana passada, em audiência de trabalho. D. Levada espera agora mudar-se para o Vaticano no final do verão, após ter resolvido vários assuntos pendentes na sua Arquidiocese de San Francisco, que agora abandona. O arcebispo norte-americano William J. Levada, de 68 anos, é um californiano de quarta geração, com ascendência portuguesa e irlandesa. Os seus bisavôs emigraram para os EUA por volta de 1860. Nascido a 15 de Junho de 1936, D. Levada foi ordenado sacerdote na Basílica de São Pedro a 20 de Dezembro de 1961. É Bispo desde 1983, tendo passado pelas dioceses de Los Angeles, Portland (1986) e San Francisco, onde estava desde 1995. Doutorado brilhantemente em teologia pela Universidade Pontifícia Gregoriana, o sucessor do Cardeal Ratzinger trabalhara já na Congregação para a Doutrina da Fé entre 1976 e 1982, ao mesmo tempo que leccionava na referida Universidade. Participou na redacção do Catecismo da Igreja Católica e assumiu, ao longo dos últimos anos, vários cargos ligados ao ecumenismo e à doutrina da fé na Conferência Episcopal norte-americana. Nos EUA, D. Levada distingiu-se pelas tomadas de posição contra a legalização dos casamentos homossexuais e por defender a recusa da comunhão ao políticos que legislassem em favor do aborto ou da eutanásia. “O que podem esperar de mim é alguém com experiência pastoral na resolução de questões de fé, da maneira como elas são vividas pela Igreja local”, confirma à CNS. “Penso que é muito importante que os Bispos de todo o mundo sintam que quando tiverem de falar comigo ou com alguém da Congregação, irão encontrar alguém que compreende a sua situação e experiência pessoal”, acrescenta. Liberdade teológica O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé confessa esperar que os aspectos “negativos” do seu trabalho tenham mais impacto, explicando que às vezes é necessário intervir e pedir aos teólogos que justifiquem as suas posições. “Penso que as pessoas ficam com a ideia de que, se não deixarmos um teólogo dizer o que pensa, ou se os desautorizarmos, estamos a impedir a liberdade de consciência ou de investigação”, disse. D. William L. Levada, contudo, assegura que não é esse casos e que na Igreja há liberdade para a investigação teológica. “Um teólogo, contudo, é chamado a distinguir entre o que produz na sua investigação e a maneira como isso corresponde à fé que a Igreja recebe e continua a viver. Caso contrário, isso não será fazer verdadeira teologia”, observa. Para o Arcebispo norte-americano, a teologia “está em diálogo com a revelação, que tem coisas a dizer, mas não se pode afirmar que ela nos diz aquilo que nos apetece”. Relações inter-religiosas O sucessor do Cardeal Ratzinger é um teólogo especializado em eclesiologia e considera que uma das áreas mais interessantes para a produção teológica nos nossos dias está nas relações inter-religiosas, sobretudo no contexto actual da mistura de culturas. “Considero que ainda estamos numa fase precoce da percepção de como o Cristianismo pode e deve relacionar-se com as diferentes culturas e expressões religiosas”, declara. Os trabalhos teológicos sobre o pluralismo têm sido seguido de perto – e muitas vezes criticados – pela Congregação para a Doutrina da Fé ao longo dos últimos anos, mas para o Arcebispo Levada isso é algo normal “num campo de estudo que se está, ainda, a desenvolver”. “Não me surpreende que exista tanto interesse por esta matéria, isso é mesmo um sinal muito saudável. A Igreja Católica, os teólogos católicos e mesmo a nossa Congregação têm de ser parceiros de diálogo muito interessados nesse processo”, sublinha. Colaboração com os EUA O Arcebispo Levada era, até agora, um dos prelados mais comprometidos no trabalho da comissão mista que velava pela aplicação das normas episcopais para a protecção de crianças e adolescentes contra abusos sexuais por parte do clero. A Congregação a que irá presidir tem a responsabilidade de supervisionar esses casos, sendo que enquanto Bispo nos EUA, D. Levada tinha pedido mais rapidez ao seu novo Dicastério. Indicando que as políticas dos Bispos norte-americanos contra os abusos sexuais foram implementadas “de forma rápida e vigorosa” nas várias dioceses do país, o prelado assinala que o Vaticano tem apoiado todo o processo. Quanto à lentidão, admite que se deva à vontade de ser “meticulosamente justos”. “Não tenho a certeza de que se deva esperar uma grande reviravolta ou respostas imediatas, porque isso pode não garantir justiça e exactidão”, vincou. Trabalho em equipa D. William Levada promete trabalhar em equipa com os actuais membros e consultores da Congregação para as diversas áreas. Dado que o Dicastério lida diariamente com uma série de questões das várias partes do mundo, o arcebispo norte-americano considera impossível “ser-se um perito em tudo”. O prelado admite que os assuntos da bioética deverão continuar a merecer uma atenção especial por parte da Congregação, justificando esse facto por ser difícil para as dioceses e Universidades católicas “possuir a bagagem ética e científica que permita chegar a um julgamento maduro sobre estes temas”.

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