«Quantos países cumprem o compromisso de dar uma percentagem da sua riqueza para os países mais pobres? E como invertemos isso?» questionou arcebispo de Barcelona
Lisboa, 09 nov 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Barcelona criticou hoje a Europa da indiferença que “perdeu a dimensão comunitária da vida” e vive uma “mercantilização da existência”.
“Hoje há indiferença. Passamos pelos que caem dos barcos, dos meninos que não nascem, passamos indiferentes aos que estão nas ruas”, lamentou o cardeal D. Juan José Omella, durante a conferência da Comissão Nacional Justiça e Paz.
«Com os pobres» é o tema da conferência que o organismo da Igreja católica realiza hoje, convidando o arcebispo de Barcelona para refletir sobre «Viver a opção preferencial pelos pobres hoje na Europa».
“Perante a avalanche de imigrantes na Europa, o que vamos fazer? Ninguém os quer. Não podemos socorrer todos sem saber onde os colocamos. Mas o que estamos a fazer para que não tenham de sair? Quantos países cumprem o compromisso de dar uma percentagem da sua riqueza para os países mais pobres? E como invertemos isso?”, questionou.
Responsável pela comissão episcopal da pastoral social de Espanha durante vários anos, D. Juan José Omella disse que a Europa passou de “mãe para avó”.
O arcebispo recordou os princípios da ação social que nortearam as práticas de solidariedade dos cristãos nas origens do cristianismo e no pós Vaticano II, “ideais que convocaram leigos, religiosos e padres, comunidade cristãs e que continuam a colocar em primeiro plano o compromisso a favor da justiça”.
Reconhecendo haver “discussões abertas e acaloradas” sobre a opção preferencial pelos pobres no “interior da Igreja”, o arcebispo de Barcelona recordou que deve ser o “amor” a nortear a “opção preferencial pelos pobres”.
“Escrevemos muito bem os documentos mas na vida concreta é mais difícil”, afirmou o cardeal questionando os participantes sobre o nome dos pobres com quem diariamente se cruzam.
“A ação pastoral tem de passar da reflexão para o coração, para a empatia. Isto é um ato de empatia. Mas tem de passar, depois, pelas mãos, têm de passar pelo nosso bairro e pelas nossas ações”, traduziu.
Como cardeal, criado pelo Papa Francisco em 2017, D. Juan José Omella reconheceu a injustiça diária: “Pagamos centros de saúde para emagrecer e alguns não têm para comer”.
D. Juan José Omella indicou que os pobres vivem hoje nas prisões, “que não são estabelecimentos de inserção, mas escolas de crime”, “estão nas periferias”, “são vítimas de desastres naturais”, perseguidos por questões religiosas, vitimas de violência, “seres humanos que não nascem”, são crianças abandonadas nas ruas, “são os que sofrem com a precariedade laboral e existencial”.
O arcebispo indicou a necessidade de “atacar e denunciar as causas da pobreza” e afirmou ainda que o “ativismo social não pode fazer esquecer a vocação cristã, caso contrário a Igreja transforma-se numa ONG”.
“O debate moral sobre as pessoas, a distribuição justa da terra e do trabalho humano, não como filantropia”, sublinhou.
LS