Francisco recebeu cerca de 2600 estudantes e professores do Colégio São Carlos de Milão
Cidade do Vaticano, 06 abr 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje que “há perguntas que não têm, nem terão respostas” e explicou que são as pessoas que fazem “distinções” entre si e não Deus, na audiência ao Colégio São Carlos de Milão, pelos seus 150 anos.
“Somos artífices das diferenças e de diferenças de dor, de pobreza. Por que é que hoje no mundo existem tantas crianças famintas? Deus faz esta distinção? Não! Quem faz é o sistema económico injusto”, disse Francisco, em resposta ao estudante Adriano, que fez voluntariado no Peru, e perguntou o que podiam fazer “pelas pessoas menos favorecidas” por que “parece que Deus tem preferências”.
“Cresceremos e tornamo-nos adultos com a inquietação no coração, depois devemos estar conscientes de que somos nós que fazemos as distinções”, acrescentou, tendo recordado o capítulo 25 do Evangelho de Mateus.
Francisco disse ter a certeza que “todos querem paz” mas “há tantas guerras” – em países como Iêmen, Síria, no Afeganistão -, porque “a Europa rica, a América, vende armas para matar crianças, para matar pessoas”.
“Na consciência de um povo que faz armas e vende há a morte de cada criança, de cada pessoa, há a destruição das famílias”, acrescentou, contabilizando que existem mais de 900 milhões de minas no mundo antipessoal, dando de seguida o exemplo do bullying na escola entre os estudantes.
Segundo o Papa Francisco “ter raízes” é a forma de transmitir aos alunos “os valores enraizados na cultura cristã e conciliá-los com outras culturas”, assinalou noutra pergunta.
“São necessárias duas coisas: Consistência e memória. (…) Regar as raízes com o trabalho, com o confronto com a realidade, mas crescer com a memória das raízes”, explicou em reposta a uma professora (Sílvia).
Neste contexto, o Papa disse para não terem “medo dos migrantes” que são “aqueles que trazem riquezas” e recordou que a máfia “não foi inventada pelos nigerianos”, é um valor nacional, made in Itália”, por isso, todos têm “a possibilidade de ser delinquentes”.
“A Europa foi feita por migrantes! Os migrantes, os bárbaros, os celtas, todos que vieram do norte e trouxeram culturas, cresceram assim, com a oposição das culturas. Mas hoje, cuidado, há a tentação de fazer uma cultura de muros, de erguer paredes, muros no coração, paredes na terra para evitar esse encontro com outras culturas, com outras pessoas”, desenvolveu.
“Testemunho e sustento” são as palavras-chave para educadores e estudantes darem testemunho e exemplo da sua “nobre, mas difícil tarefa”.
“O testemunho é não ter medo da realidade. Sustento significa doçura, não se pode educar sem amor”, explicou Francisco, em resposta a outra professora (Júlia) que perguntou como podem dar “exemplo e testemunho da nobre, mas difícil tarefa”.
Para o Papa, o educador deve “sujar as mãos”, “arregaçar as mangas”, isto é, confrontar-se com a realidade porque “não é possível ensinar palavras sem gestos”.
“O primeiro gesto é o carinho: Acariciar os corações, acariciar as almas. E a linguagem da carícia é a persuasão. Educa-se não com escribas, não com segurança, mas com a paciência da persuasão”, observou.
Os pais também dirigiram-se ao Papa que pediu-lhes para não sofrerem da síndrome do “ninho vazio”, em resposta à forma como devem acompanhar e orientar os filhos nas suas escolhas.
“Vocês pais não devem ter medo da solidão, não tenham medo! É uma solidão fecunda. Pensem nos muitos filhos que estão a crescer e a fazer outros ninhos, culturais, científicos, de comunhão política e social. É preciso proximidade com os filhos para ajudá-los a caminhar”, desenvolveu.
O sítio online ‘Vatican News’ informa que “treinar almas ricas, com uma cultura saudável, preservando-as da falta de religião” é o objetivo do Colégio São Carlos de Milão, uma escola particular fundada em 1869, conta hoje com 1950 alunos de todas as idades e 220 professores, e um dos seus alunos excelentes foi “Achille Ratti, futuro Papa Pio XI”.
CB