Sociedade: Nuno Teotónio Pereira é arquiteto comprometido com um mundo melhor, diz responsável da Igreja

Padre João Norton, da Pastoral da Cultura, lembra cidadania e ecletismo do mais recente distinguido com Prémio Árvore da Vida

Lisboa, 21 jun 2012 (Ecclesia) – O padre João Norton, do Grupo de Arquitetura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), destaca as qualidades de cidadania de Nuno Teotónio Pereira, a quem a Igreja Católica atribuiu esta terça-feira o Prémio Árvore da Vida.

Em artigo publicado hoje no site do SNPC, o religioso lembra “a coragem e o risco” de Nuno Teotónio Pereira na “resistência ao Antigo Regime e à guerra do Ultramar”, em que Portugal esteve envolvido entre 1961 e 1974, e sublinha que o premiado é “um homem comprometido por uma sociedade melhor”.

O jesuíta, também arquiteto, recorda o envolvimento de Nuno Teotónio Pereira nos “movimentos cristãos de leigos, ligados à Capela do Rato [Lisboa], com voz ativa e crítica na Igreja e na sociedade, em tempos da gestação do Concílio Vaticano II [1962-1965]”.

A igreja do Sagrado Coração de Jesus, monumento nacional, é uma das obras que deixa a Lisboa, a que ofereceu uma “arquitetura de qualidade indiscutível, no Bloco das Águas Livres, junto ao Rato, no urbanismo da cidade nova, nos Olivais e no Restelo, no compromisso social com a habitação”, refere o padre João Norton.

O associativismo profissional constitui outra das características de Nuno Teotónio Pereira, hoje com 90 anos: “É impressionante a quantidade de colaborações no seu trabalho: com o Nuno Portas, com o Pedro Botelho, com o Braula Reis no ‘Franjinhas’, Costa Cabral, Vieira de Almeida, António Freitas, e muitos outros”.

“Há uma lição a aprender” da vida de Nuno Teotónio Pereira, que “fez arquitetura erudita, com apreço pela arquitetura popular, com pormenores artesanais, integrando obras de artistas, com grande sabedoria”.

A sua atitude, acentua o padre João Norton, é “toda humanista” e situa-se “nos antípodas do arquiteto-estrela, dos academismos ou da sujeição da profissão à especulação económica”.

A sensibilidade face às desigualdades em Portugal manifestou-se diversas vezes, como aconteceu na recente sessão de homenagem: “Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para acabar com situações de clamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes mesmo ao nosso lado”.

Teotónio Pereira foi também fundador do MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa, que deixou marca e saudade: “Até hoje, independentemente de uma ou outra obra bem sucedida, não se voltou a pensar a arquitetura religiosa com tanta profundidade, experimentação, colaboração e diálogo”, observa o padre João Norton.

O Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes, patrocinado pela Renascença, “faz toda a justiça à pessoa e obra do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, é um estímulo para a Igreja, para a cultura e a cidadania”, conclui.

A distinção, composta por um cheque de 2500 euros e uma escultura de Alberto Carneiro, vai ser entregue em Lisboa, em data a anunciar pelo SNPC.

SNPC/RJM

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top