Sociedade: Comunidade Vida e Paz pede mais apoio do Governo na resposta aos sem-abrigo (c/vídeo)

Diretora-geral lamenta falta de financiamento e admite que instituição já deixou de dar algumas respostas por não ter condições financeiras

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

Lisboa, 15 dez 2024 (Ecclesia) – A Comunidade Vida e Paz apelou ao Governo para acompanhar de perto as pessoas em situação de sem-abrigo e pediu apoio para que a instituição possa continuar a responder a este problema.

“Não abandonem as pessoas em situação de sem-abrigo e não abandonem as instituições que estão fortemente a intervir junto das pessoas. São necessárias, de facto, medidas, a implementação de medidas, mais respostas”, afirmou a diretora-geral da Comunidade Vida e Paz, Instituição Particular de Solidariedade Social, em declarações à Agência ECCLESIA.

Renata Alves denuncia a dificuldade da instituição em garantir apoio a cada pessoa, num ano em que o número de sem-abrigo cresceu até meio de 2024, em que há mais famílias a passar necessidades, e os recursos da instituição são os mesmos.

“Nós temos vindo constantemente a debater-nos que é necessário termos, por exemplo, a nossa resposta de equipas voluntárias ser financiada e até ao momento nunca foi financiada por nenhum organismo público”, destaca.

Há mais de 35 anos que a Comunidade Vida e Paz sai às ruas para distribuir ceias a pessoas em situação de sem-abrigo e, segundo a responsável, “se não fosse, de facto, o apoio, a colaboração de todos os benfeitores, sejam eles empresas ou particulares, seria muito difícil” para a organização garantir “continuidade” desta iniciativa.

“O apelo é que as entidades públicas, portanto, o poder político central e local, continuem e que estejam cada vez mais abertos a ir ao encontro das necessidades das pessoas em situação de sem abrigo e das instituições que trabalham para lutar contra e para erradicar as pessoas em situação de sem abrigo”, sublinhou.

Questionada sobre o lugar da atenção à pobreza no Orçamento de Estado para 2025, Renata Alves afirmou que as áreas das pessoas em situação de sem-abrigo, da toxicodependência e do alcoolismo, “sempre foram pouco valorizadas”.
“Nós, para mantermos as pessoas em comunidade terapêutica e para as tratarmos, para garantirmos toda a prestação de serviços, precisamos de financiamento. Devo dizer que, desde 2008 até 2023, não houve qualquer aumento nas comparticipações por parte do Ministério da Saúde. Conseguimos, em 2023, um ligeiro aumento”, indica.

A diretora-geral da Comunidade Vida e Paz defende que o aumento das comparticipações deveria acompanhar a inflação.

Na área da saúde, a responsável realça que deveria haver “um forte investimento na área das adições”, porque cada vez mais ao número de pessoas consumidoras de substâncias psicoativas tem vindo a aumentar e tem “vindo a diminuir o número de respostas que as trata”.

Renata Alves adianta que as comunidades terapêuticas têm fechado portas, porque “não têm condições para garantir a sua continuidade”.

“Estamos numa altura do ano em que estamos a fazer o orçamento para o próximo ano e estamos sempre aqui num sufoco muito grande”, enfatiza a responsável, que explica que a instituição tem procurado investir na área de angariação de fundos e não deixar de ir junto dos poderes políticos, “sejam locais, sejam centrais, e exercer também pressão sobre os mesmos”.

“Nós já nos vimos obrigados a deixar algumas respostas”, lamenta a diretora-geral da CVP, que diz que a instituição tem de olhar nos próximos anos para conjunto de respostas e perceber se tem “condições para manter todas ou deixar de assegurar algumas”.

Foto Agência ECCLESIA/HM

A Comunidade Vida e Paz vai realizar a habitual Festa de Natal, dirigida sobretudo às pessoas em condição de sem-abrigo e em situação de vulnerabilidade social, mas também aos utentes, ex-utentes e familiares, de 20 a 22 de dezembro, na Cantina da Cidade Universitária, em Lisboa.

“Aquilo que gostaríamos era que, por um lado pudéssemos cada vez mais ter menos pessoas na festa, significava que havia menos pessoas a necessitarem de nós. E gostaríamos que as pessoas que passem por lá, possam de facto ter um dia diferente e que aquelas que ainda não tomaram a decisão de reconstruir a sua vida, que seja o momento para poderem tomar essa decisão”, desejou.

O programa 70×7, transmitido hoje na RTP2, foi dedicado ao trabalho da Comunidade Vida e Paz no apoio aos sem-abrigo nas ruas de Lisboa e no tratamento e reabilitação de pessoas com problemáticas aditivas.

LJ/OC

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Agência ECCLESIA

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