Sociedade: «A música utilizada como psicoterapia é regeneradora e ajuda a transformar as pessoas» – Carlos Barreto Xavier

Professor e músico faz parte do projeto artístico e de intervenção social «Recriar-se», em Setúbal

Lisboa, 30 set 2020 (Ecclesia) – O professor e músico Carlos Barreto Xavier afirmou hoje que a música utilizada como psicoterapia “é regeneradora e ajuda a transformar as pessoas”, especialmente quando trabalham em grupo como acontece no projeto ‘Recriar-se’ da Cáritas Diocesana de Setúbal.

“A música tem um efeito regenerador nas pessoas e consegue, bem utilizada, descomplicar algumas tensões que trazemos connosco e muitos recalcamentos. Muitas vezes, ao longo da vida, não cuidamos muito do nosso cérebro, cuidamos de quase todos os órgãos habitualmente, mas a nossa saúde metal é algo que é bastante descuidada”, disse no programa ECCLESIA, na RTP 2, na véspera do Dia Mundial da Música.

Carlos Barreto Xavier explica que a música “é algo que transforma e acompanha” as pessoas ao longo da vida e “todas as pessoas têm nas suas memórias para o bem e para o mal a música associada.

“A música utilizada como psicoterapia, não musicoterapia, é regeneradora e ajuda a transformar as pessoas especialmente quando trabalhamos em grupo”, salientou o professor e músico.

A Cáritas Diocesana e o Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) promovem o projeto artístico e de intervenção social ‘Recriar-se’ que usa a arte – fotografia, pintura, barro e música – como ferramenta de inclusão de “pessoas muito fragilizadas, algumas em condição de sem-abrigo, outras estiveram na prisão, pessoas que tiveram problemas com álcool”, que é um trabalho coletivo com cinco anos de atividade.

“Através das canções, são eles que escolhem as letras, geralmente são muito intimistas, que lhes dizem muito, e são uma forma de eles se pacificarem com alguns medos e até alguns choques que tiveram”, explicou Carlos Barreto Xavier.

O entrevistado recorda que, “no outro dia”, estavam a conversar sobre o 25 de abril de 1974 e algumas daquelas pessoas “falaram das suas memórias na Avenida da Liberdade e na Rua do Carmo e nessa altura não eram sem-abrigo, não estavam nessa condição”.

“Essas memórias estão perfeitamente intactas, mas não são convocadas, se aquelas pessoas não conversam, se aquelas pessoas não estabelecem outras conexões há um conjunto de memórias do passado que de repente parece que desaparecem, aquelas pessoas não existem”, desenvolve.

O professor e músico salienta que no projeto ‘Recriar-se’ também fazem apresentação de espetáculos por que se querem “reintegrar” estas pessoas na sociedade têm de “estar na sociedade com elas”, tentam “ativar essas memórias que foram positivas e criar uma sinergia, um processo bioquímico”, e “resgatar a alegria de viver”.

Carlos Barreto Xavier explica que a equipa atualmente é constituída por um assistente social e três professores da Escola Superior de Educação e conseguiram “agora criar uma equipa de investigação”, do Centro de Investigação dessa escola superior do Instituto Politécnico de Setúbal para estudar este projeto durante 2 anos e meio.

“Para perceber em que ponto é que estas pessoas estão, quais são as transformações que elas narram, outras que são observadas, e até que ponto poderá ser transformador no sentido de criar uma metodologia que possamos partilhar”, explicou, adiantando que “talvez” já tenham “mais de 300 horas de vídeo gravadas das sessões” mas “faltam pessoas que trabalhem os dados”.

O professor e músico destaca que no projeto artístico e de intervenção social ‘Recriar-se’ algumas pessoas conseguiram encontrar emprego, reatar relações, casar e terem filhos, o que “é muito interessante”.

HM/CB

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Agência ECCLESIA

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