Sistema educativo assenta no pluralismo

Guilherme de Oliveira Martins lembra importância de conjugar protagonismos da escola, família e comunidade

O serviço público de educação assenta no pluralismo social. As palavras são de Guilherme d’Oliveira Martins durante a conferência “O Serviço Público da Educação – Potencialidades da pluralidade de ofertas de ensino” inserida no Fórum: “Pensar a Escola. Preparar o Futuro” que decorre até Domingo na Universidade Católica, em Lisboa.

Para o actual presidente do Tribunal de Contas a “educação é um factor central de desenvolvimento” e apesar de parecer, esta ideia, algo de “lógico e enraizado na sociedade” a verdade é que “a sociedade não o assume isto verdadeiramente.” Dai que para Guilherme d’Oliveira Martins “uma sociedade incapaz de educar e de se educar não é, de todo, uma sociedade desenvolvida”.

O antigo ministro da educação abordou, ainda os vários factores fundamentais para uma verdadeira educação. Em primeiro lugar o “conhecimento” que envolve sempre “uma partilha”, porquanto “nascemos em conjunto através do acto de conhecer”. Em segundo lugar a ideia de que “só através da partilha” nos “ligamos à noção de compreensão: entender o outro e o meio que nos rodeia”. Em terceiro lugar a “responsabilidade e a capacidade de não sermos indiferentes, de dizermos algo a quem nos diz, no fundo, “a capacidade de superar a indiferença a capacidade de agir de transformar os ideais em acção”.

Liberdade e autonomia

Durante a conferencia a ideia de liberdade e autonomia foi focada diversas vezes pelo conferencista que afirmou “assumir a nossa esfera própria, não uma esfera egoísta mas uma esfera de interacção é o passo para a “liberdade” porque a própria palavra “liberdade significa a qualidade representada pela balança livre e equilibrada. Nos pratos estão o eu e o outro sendo sempre necessário o entendimento dessa relação” para um perfeito equilíbrio”.

Acerca da memoria o presidente do Tribunal de Contas afirmou a necessidade de ter presente na “nossa memoria” as palavras de “santo Agostinho” que nos fala dos três presentes. Assim “no presente não podemos esquecer o que recebemos nas gerações anteriores e devemos enriquecer o conhecimento para o transmitir às gerações futuras”. Deste modo o “acto de educar é entender a doação, o tempo, a reflexão e as mediações várias existentes”.

Por isso “os economistas e sociólogos dizem que uma sociedade desenvolvida não é a que tem muitos recursos mas o melhor dos recursos que é o de aprender”.

Serviço Publico de Educação

“Na ideia de serviço público temos que olhar para o centro e aí está a pessoa humana” e o “triângulo fundamental “constituído pela “escola, família e comunidade”.

Para o antigo ministro da Educação “uma das expressões da crise social tem a ver com a ideia de que a escola está abandonada. O professor vê-se muitas vezes obrigado a executar funções que não lhe competem. Porque o professor não é o único educador. Ele é o profissional da educação mas a sociedade e a família têm uma função fundamental”.

Neste sentido o “serviço público tem a ver com o espaço público, com a pessoa com a dimensão triangular e isto tem a ver com a relação entre as pessoas e bem comum. É uma tarefa para todos e não apenas para o estado. Porque muitas vezes vemos o estado como algo fora da sociedade mas o estado é uma expressão dentro da sociedade”. Ao falar da rede de educação é sempre necessário “falar das várias iniciativas e todas elas se devem complementar e nenhuma deve ser desperdiçada”.

Outro dos problemas do sistema educativo português tem a ver com a forma como foi construído. Guilherme d’Oliveira Martins afirma que o mesmo “foi construído de cima para baixo” ao contrário de muitos países europeus onde a iniciativa é não estatal.

Ao falarmos de Sistema publico de Educação está perante uma “sociedade em mudança” e isso deve “ser assumido por todos” porque muitas vezes, ao debater este tema “encontramos um consenso discursivo e uma grande distância na prática”.

Assim o antigo ministro da educação afirma que é necessário que a “modernização da sociedade exija a ligação da arte de educar e o encontro do outro”.

Sistema Plural

O Sistema Público de Educação “assenta na ideia democrática do pluralismo. A ideia de reconhecer as diferenças é fundamental que todos gozem da liberdade”. Esta sociedade é, à luz das escrituras “uma sociedade que está sempre em construção, sempre em evolução e que exige a justiça e a liberdade”. Assim o Serviço Público de Educação deve ser um serviço das pessoas, com as pessoas e para as pessoas e tem que ser pensado a largo passo”.

No final das duas conferências da manhã, e durante o diálogo com os participantes, Guilherme d’Oliveira Martins afirmou ainda que é necessário, para termos um melhor sistema público, “uma tomada de consciência pela sociedade da prioridade educativa e o fim de “demasiadas teorias abstractas e poucos passos concretos” uma vez que a qualidade do ensino depende também dos contextos e dos objectivos que são definidos”.

Ateliers chegam a conclusões

Na tarde de Sábado, é a vez dos ateliers de reflexão e debate finalizarem o seu trabalho. O fruto deste trabalho deve ser baseado nas “Convicções (pontos fortes, certezas do grupo); questões que merecem ser aprofundadas posteriormente (em sessões ou encontros futuros); compromissos (atitudes e acções possíveis, pessoais ou colectivas, a empreender com maior urgência) “, como afirmou D. Tomaz Silva Nunes, presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, no início dos trabalhos do Fórum.

Redacção/SNEC (www.educris.com)

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