Síria: Onze anos depois, situação é «catastrófica», relata religiosa

500 mil vitimas mortais, 13 milhões de deslocados, 6,5 milhões de crianças a precisar de ajuda humanitária são consequência de anos de guerra e embargos económicos

Foto: AIS

Lisboa, 01 abr 2022 (Ecclesia) – A madre Agnès-Mariam de la Croix, superiora das Monjas de Unidade de Antioquia, disse que a situação na Síria é “catastrófica”, que o embargo imposto é injusto para a população que tem mais dificuldade de sobreviver sem emigrar.

“Posso dizer que esta situação é catastrófica. A sobrevivência torna-se impossível para o nosso povo, sejam cristãos ou não, porque nós, no Mosteiro de São Tiago Mutilado, cuidamos de toda a gente, porque todos são seres humanos criados à imagem de Deus”, afirmou a madre superiora, que se encontra em Qara, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviadas hoje às Agência ECCLESIA.

Onze anos depois do início de uma guerra que vitimou 500 mil mortos, “a Síria é hoje um país empobrecido, com mais de 13 milhões de pessoas deslocadas, dentro e fora das fronteiras, com uma taxa de pobreza asfixiante e com cerca de 6,5 milhões de crianças que precisam de ajuda humanitária”, indica o comunicado.

A madre superiora do Mosteiro de São Tiago Mutilado pede que o mundo não se esqueça da situação na Síria e que se encontre uma solução.

“Tem de haver uma solução, tem de haver uma solução internacional para a situação na Síria, mas também uma solução de generosidade humana. Esperamos que, tal como a Fundação AIS, outras instituições católicas olhem de mais perto para esta situação desesperada na Síria, para nos ajudar a ajudar e ajudar todos os que estão a ajudar estas pessoas, porque hoje mais de 85% da população síria vive com necessidades. Há 13 milhões que viram as suas casas destruídas, que não têm casa”, lamenta.

A religiosa critica o embargo imposto à Síria, pelos Estados Unidos da América e pela União Europeia, que explica ser “injusto” e indica estar a “asfixiar a população”.

“Este embargo é injusto porque quem paga o preço mais elevado é o cidadão e o cidadão é inocente, não tem nada a ver com as partes beligerantes. Por isso, é muito importante a oração e chamar a atenção para a urgência de uma solução internacional para a resolução deste conflito e para o fim deste embargo”, sublinha.

Com a libra da Síria a desvalorizar e os ordenados a manterem-se iguais, a população enfrenta dificuldades para adquirir bens, com impactos já no acesso a bens elementares como o pão, eletricidade ou combustíveis, e isto num contexto de pobreza que afeta também o governo.

“O governo está cada vez mais pobre e já não consegue dar apoio em gasolina ou produtos alimentares como cereais, trigo, o que aliviaria as pessoas se houvesse algum apoio que não implicasse despesa. É por isso que a situação se torna cada vez mais complicada para essas pessoas. No passado, podiam cultivar a terra, mas agora está tudo tão caro que já não conseguem. Por isso, volto a sublinhar que é fundamental um plano estratégico para apoiar esta população”, traduz.

“Os cristãos sírios estão a ir-se embora, a deixar a Síria, muitas vezes de barco, morrendo pelo caminho e a sua situação é também muito precária nos países para onde vão como refugiados…”, lamenta a religiosa, indicando a emigração como a saída para uma situação “asfixiante” para muitas famílias.

Para a madre Agnès-Mariam de la Croix, são as populações que mais sofrem, vítimas das sanções impostas ao regime de Bashar al-Assad e afirma a necessidade de “ajudar as famílias cristãs a permanecer na sua terra”.

“O que temos de fazer é ajudar essas famílias a ficar cá. Porque é esse o desejo do Santo Padre, o desejo dos prelados e o desejo de todo o mundo católico. Se o Médio Oriente não tiver a presença dos Cristãos, vamos fazer uma cruzada? Não podemos ficar sem os Cristãos. Se lhes dermos esperança e ajudarmos na sua necessidade a tornarem-se autossuficientes, seria muito, muito importante”, indica.

A religiosa indica que organizações católicas têm ajudado a “construir um plano estratégico em que as famílias cristãs sejam formadas para permanecer”, apesar da dificuldade.

“A nossa realidade é uma realidade difícil. Um cristão no Médio Oriente não é um cristão na Europa ou no mundo ocidental, onde há liberdade de religião. […] Temos esperança de que, de mãos dadas, nos possamos ajudar uns aos outros e ajudar os Cristãos a ficar nesta Terra Santa. Este é um dos objetivos principais da nossa comunidade”, finaliza.

LS

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