Missa de Pentecostes sublinha necessidade de «criar harmonia, a partir da pluralidade»
Cidade do Vaticano, 28 mai 2023 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje à unidade da Igreja, no processo sinodal 2021-2024, rejeitando a ideia de que esta consulta global seja um “parlamento” para “reclamar direitos”.
“O Sínodo em curso é – e deve ser – um caminho segundo o Espírito: não um parlamento para reclamar direitos e exigências à maneira das agendas de trabalho no mundo, nem ocasião de se deixar levar ao sabor de qualquer vento, mas a oportunidade para ser dóceis ao sopro do Espírito”, disse, na homilia da Missa da solenidade de Pentecostes, a que presidiu na Basílica de São Pedro.
Francisco considerou que o Espírito é “o coração da sinodalidade, o motor da evangelização”.
“Sem Ele, a Igreja fica inerte, a fé não passa duma doutrina, a moral dum dever, a pastoral dum trabalho. Tantas vezes ouvimos alguns pensadores, teólogos, que nos oferecem doutrinas frias, parecem matemática”, advertiu.
A celebração do Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica.
“Ponhamos o Espírito no início e no coração dos trabalhos sinodais”, apelou o Papa.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
“O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
“Caminhemos juntos, porque o Espírito, como fez no Pentecostes, gosta de descer enquanto estão todos juntos”, indicou Francisco.
O Povo de Deus, para estar cheio do Espírito, deve caminhar em conjunto, fazer sínodo. Assim se renova a harmonia na Igreja: caminhando juntos, tendo no centro o Espírito. Irmãos e irmãs, construamos harmonia na Igreja!”.
O Papa alertou para a “tentação de voltar atrás procura homologar tudo, em disciplinas de aparência, sem substância”.
“O Espírito não dá início à Igreja propondo instruções e normas à comunidade, mas descendo sobre cada um dos Apóstolos: cada um deles recebe graças particulares e carismas diversos”, realçou.
A intervenção convidou os presentes a questionar-se sobre a forma como vivem a sua fé – “Sou dócil ao Espírito ou sou teimoso, à letra, às chamadas doutrinas, que são apenas expressão fria?” – e a pedir a “graça do conjunto”, do perdão e da reconciliação.
“Se o mundo está dividido, se a Igreja se polariza, se o coração se fragmenta, não percamos tempo a criticar os outros e a zangar-nos com nós mesmos, mas invoquemos o Espírito. Ele é capaz de resolver tudo”, declarou o pontífice.
A “pluralidade”, prosseguiu Francisco, mais do que “gerar confusão”, deve ser entendida segundo a “harmonia” do Pentecostes, que “não cria uma língua igual para todos, não apaga as diferenças, as culturas, mas harmoniza tudo sem homogeneizar nem uniformizar”.
“Assim começa a vida da Igreja: não dum plano preciso e articulado, mas da experiência do mesmo amor de Deus. É assim que o Espírito cria harmonia, convidando a maravilhar-nos com o seu amor e os seus dons presentes nos outros”, sustentou.
Ver cada irmão e irmã na fé como parte do mesmo corpo a que pertenço: este é o olhar harmonioso do Espírito, este é o caminho que Ele nos indica!
A celebração foi presidida, no altar, pelo cardeal D. João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, devido aos problemas que têm afetado o Papa num joelho.
“Espírito Santo, Espírito de Jesus e do Pai, fonte inesgotável de harmonia, nós te confiamos o mundo, consagramos-te a Igreja e os nossos corações. Vem, Espírito criador, harmonia da humanidade, renova a face da terra. Vem, Dom dos dons, harmonia da Igreja, torna-nos unidos a ti. Vem Espírito do perdão, harmonia do coração, transforma-nos, como Tu sabes, por meio de Maria”, disse Francisco, numa oração que propôs durante a homilia.
O Papa saudou a assembleia, no final da celebração, percorrendo o corredor central da Basílica de São Pedro numa cadeira de rodas.
OC
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