Equipa Sinodal da diocese de Setúbal nota quebra na participação entre fases do processo, revela grande sintonia dos grupos com o relatório síntese da primeira sessão e indica que mudanças em curso estão a construir «Igreja mais aberta»
Lisboa, 05 abr 2024 (Ecclesia) – Augusta Delgado, que integra a equipa sinodal na diocese de Setúbal, disse à Agência ECCLESIA que o processo desencadeado de escuta e envolvimento “não volta atrás” e que a “alegria” é um denominador comum nas comunidades participantes.
“Nós (comissão de acompanhamento) achamos que já nada vai ser igual. Esta escuta abriu novos caminhos, e eu acho que se vai continuar a caminhar por contágio. Não podemos ficar parados e, já que nada vai ser igual, então temos que alargar a escuta às outras pessoas”, sublinha.
O processo Sinodal que está a envolver a Igreja católica desde 2021, lançado pelo Papa Francisco marcado pela “missão, comunhão e participação”, foi iniciado em Setúbal pelo bispo D. José Ornelas, e continuado pelo cardeal Américo Aguiar, bispo da diocese desde outubro que, “enviou a todas as comunidades uma mensagem”, procurando “incentivar à participação”.
Augusta Delgado reconhece uma quebra na participação entre a primeira fase e a segunda mas a responsável nota uma “participação muito boa” com as comunidades a sublinharem a escuta inaugural a que eram chamadas.
“Foi uma reviravolta, uma dinâmica completamente diferente, que ninguém estava à espera. Ninguém estava à espera deste tipo de trabalho, de escuta do povo, de envolvência do povo, do povo de Deus. Ninguém estava à espera. O serem chamadas à escuta, poderem participar, acho que foi fundamental. Das respostas que fomos recebendo alguns diziam que a Igreja nunca as tinha escutado desta maneira, portanto, isto é um sinal muito forte”, recorda.
Augusta Delgado dá conta que as sínteses recebidas apontavam a “necessidade de maior participação da mulher em situações de decisão”, a importância da missão partilhada “indo para fora, e de encontro a todos, mesmo os que estão mais longe dos sacramentos”, também o envolvimento dos leigos libertando os padres para a missão do ministério ordenado “que lhes é próprio”, impactando no reconhecimento de uma Igreja menos clerical.
A professora, membro da equipa sinodal, nota que o tempo de escuta na segunda fase foi menor e que isso fez diminuir os relatórios recebidos, num total de 35% da realidade diocesana.
“É necessário dizer que, de acordo com os relatórios, as respostas que fomos recolhendo identificavam-se muito com o documento síntese publicado após a primeira Assembleia Sinodal e isso pode ter conduzido a uma menor participação. Alguns diziam até que as frases eram muito semelhantes ao que tinham escrito nas comunidades de Setúbal. Acho que não podemos dizer, de forma imediata, que houve um desinteresse”, indica.
Augusta Delgado assinala um sentimento de “alegria” alargada pela participação no processo sinodal e regista ainda a participação de grupos mais afastados das comunidades paroquiais, “pessoas batizadas mas que se tinham afastado e a participação provocou um momento de reconciliação”.
“Na primeira fase houve muitas dinâmicas, entrevistas, encontros de escuta, alguns realizados fora da Igreja – estou a lembrar-me de clubes, por exemplo – houve um envolvimento muito grande em que a própria comunidade, aqueles que estavam presentes, se envolveram para sair do espaço físico da Igreja”, conta.
Sobre a falta de participação de alguns grupos, cerca de 30% da realidade diocesana, Augusta Delgado aponta a necessidade de “continuar a trabalhar” mas nota que “nada será igual”.
A segunda escuta na diocese de Setúbal veio acentuar a necessidade da missão partilhada, do envolvimento dos leigos e do papel da mulher na Igreja, a libertação dos padres e diáconos para o trabalho que lhes é próprio e ainda a necessidade de se reativar a missão dos conselhos pastorais.
Augusta Delgado pede ainda que a representação nestes órgãos não seja feita de forma vitalícia, abrindo espaço para novos protagonistas e para a participação de novos membros das comunidades.
“É importantíssima esta questão de quem chega de novo porque os jovens, e foi um dos aspetos referidos no relatório, os jovens têm que ser envolvidos nas comunidades, têm mesmo que estar envolvidos e têm de ver as suas propostas serem aplicadas, têm de perceber que mexem com as comunidades, efetivando o processo sinodal”, traduz.
Questionada sobre que Igreja está em mudança e a ser construída, Augusta recorda o seguimento de Jesus.
“Este Sínodo vem ajudar a construir uma Igreja aberta de facto a todos e em que todos se podem sentir acolhidos; não é olhar para alguns de forma mais afastada – não, é olhar para todos e acolher a todos. Eu acho que esta dinâmica está a acontecer e isto de não poder voltar atrás”, indica.
“As pessoas no geral, e os cristãos, estão a tomar consciência de que a Igreja são eles, e não as quatro paredes onde alguns se reúnem. Portanto, acho mesmo que este novo processo, está a caminhar para uma Igreja aberta a todos”.
Augusta Delgado, que integra a equipa com Henrique Matos, a irmã Irene Guia e o padre José Pinheiro, nota ainda a importância do processo de escuta continuar em encontros organizados ou informais.
A conversa com Augusta Delgado pode ser acompanhada no programa Ecclesia, na Antena 1, emitido no sábado pelas 06h00.
LS