Relação entre doutrina e novos caminhos pastorais tem estado no centro dos debates da assembleia extraordinária
Cidade do Vaticano, 08 out 2014 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa falou hoje diante do Sínodo dos Bispos sobre a família, apresentando o Vaticano II como exemplo para a relação entre defesa da doutrina e novos caminhos pastorais.
D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, levou para o Vaticano uma reflexão que recordava a declaração sobre a liberdade religiosa do concílio (1962-1965) e abordava o problema doutrinal da relação entre Verdade e liberdade.
“O Concílio Vaticano II resolveu a questão afirmando que os direitos e as liberdades se conjugam na pessoa, com uma subjetividade que a pouco e pouco vai assumindo a verdade que lhe é apresentada, num percurso que às vezes inclui erros, mas que tem de ser respeitado”, disse à Agência ECCLESIA, antes da partida para Roma.
A intervenção do representante português foi abordada ao início da tarde durante o encontro com os jornalistas sobre os trabalhos da assembleia sinodal, com a presença de D. Victor Manuel Fernández, arcebispo de Tiburnia, Argentina, o qual recordou que esta solução pareceria “impossível” para alguns, há 50 anos.
“O Concílio Vaticano II, pelo contrário, encontrou um novo caminho”, observou o prelado argentino, e isso pode ser um exemplo para que o Sínodo sobre a família, nas suas assembleias deste ano e de 2015, possa “encontrar uma nova síntese para falar sobre estes problemas” dos divorciados recasados e outras situações.
D. Victor Manuel Fernández falou num “realismo compreensivo” que deve acompanhar o sofrimento dos outros, estando “próximo de todos” como Jesus, mesmo a respeito de situações que a Igreja “não pode aceitar nunca” nem quer “mudar a sua doutrina” a respeito das mesmas.
“Há situações particulares em que nos perguntamos o que fazer: há um sofrimento, há um problema. É preciso pensar”, disse.
O vice-presidente da comissão responsável pela redação da mensagem do Sínodo recordou que a “doutrina se desenvolveu”, ao longo da história da Igreja, recordando as mudanças a respeito do tema da escravatura, e frisou que “a doutrina sobre a família não está fechada”, sem que isso implique alterações “à indissolubilidade matrimonial”.
“Quando se diz que o Sínodo é acima de tudo pastoral, isso não quer dizer de todo que não se possa aprofundar a doutrina”, realçou.
Também com os jornalistas esteve D. Ignatius Ayau Kaigama, arcebispo de Jos, Nigéria, o qual sublinhou que o Sínodo debate a “abordagem pastoral” aos vários casos e reafirmou que “a Igreja Católica respeita todos os seres humanos”.
Nesse contexto, explicou que a Igreja Católica na Nigéria apoiou as leis que rejeitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo mas não a “criminalização da homossexualidade”.
Três responsáveis da sala de imprensa da Santa Sé apresentaram sínteses das 68 intervenções que tiveram lugar na manhã de hoje e na tarde de terça-feira, à porta fechada.
Em cima da mesa estiveram os “desafios” que as famílias enfrentam, em particular como consequência da crise económica, das migrações e das separações, bem como da “solidão”, especialmente das crianças e idosos.
Segundo o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, muitos dos bispos falaram dos “sofrimentos concretos” das famílias e da relação entre “verdade e misericórdia” na altura de abordar essas pessoas.
Em comunicado, a sala de imprensa da Santa Sé precisa que em relação aos divorciados em segunda união o debate sublinhou a “prudência necessária” nas grandes questões, “conjugando a objetividade da verdade com a misericórdia pelas pessoas e os seus sofrimentos”.
“É preciso lembrar que muitos fiéis se encontram nesta situação sem que seja culpa sua”, pode ler-se.
OC