Doutrina Social da Igreja, formação, família, escuta e acolhimento foram temas apontados no relatório do Patriarcado de Lisboa na segunda fase do processo sinodal
Lisboa, 12 abr 2024 (Ecclesia) – Os cristãos de Lisboa “sentem que a Igreja precisa ter uma voz mais profética” e querem “mais formação” sobre Doutrina Social da Igreja, assim enuncia o relatório sinodal enviado pelo patriarcado de Lisboa à Conferência Episcopal Portuguesa.
“O relatório assinala, num dos pontos, a formação para uma consciência missionária, e um outro ponto, a formação para a Doutrina Social da Igreja. Ou seja, os cristãos sentem que a Igreja precisa ter uma voz mais profética neste tempo e neste mundo, e por isso precisamos também de apostar mais numa formação a partir da Doutrina Social da Igreja”, explica à Agência ECCLESIA o padre Rui Carvalho, responsável por acompanhar no Patriarcado de Lisboa o processo sinodal.
O relatório, fruto da receção de 70 relatórios, “provindos das comunidades, de capelanias, de escolas, também dos departamentos e setores da Cúria”, assinala a “centralidade da família na ação pastoral” e a “corresponsabilidade, a partir do batismo”.
O responsável indica que está em causa a “renovação dos processos de preparação para o casamento”, tendo sido também apontada a “necessidade do acompanhamento dos jovens casais”, mostrando que a “temática da família, a necessidade de comunidades mais acolhedoras e o acompanhamento” são centrais, indicando a importância da escuta como uma caminho de “conversão que o sínodo está a provocar”.
“A paróquia como lugar de expressão de caminho com todos, onde a consciência comunitária e o sentido de pertença” acontecem e a escuta tem lugar, acrescenta.
“Escutar as vozes daqueles que se sentem mais excluídos: pensamos nas famílias em segunda união, nas famílias reconstruídas, nas pessoas separadas, nas pessoas homossexuais, a atenção à pobreza”, exemplifica.
O padre Rui Carvalho, também diretor do Secretariado de Ação pastoral, assinala que o relatório de Lisboa, fruto da auscultação que os grupos fizeram do relatório da primeira Assembleia Sinodal, decorrida em outubro de 2023, pede “disponibilidade para acompanhar as pessoas” por parte dos bispos, padres e diáconos.
“Há um apelo à proximidade, por exemplo, dos bispos às comunidades cristãs, e também o papel do pároco, como aquele que é chamado a caminhar em conjunto, (pede-se ) uma pastoral de acompanhamento, disponibilidade para acompanhar as pessoas, o próprio papel do diaconado, no sentido não só litúrgico, mas também como serviço”, assinala o responsável.
O relatório de Lisboa sublinha ainda a dimensão da “alegria”.
O padre Rui Carvalho reconhece que a organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 foi um “atelier prático de sinodalidade”, fazendo o percurso de uma “sinodalidade teórica” para uma “mobilização grande que tocou a vida das pessoas”.
“Nós vivemos uma Igreja missionária para preparar este grande evento; houve de facto uma mobilização muito grande e tocou a vida de muitas pessoas. Vemos o efeito nos grupos de catequese a aumentar, em algumas paróquias, e grupos de jovens”, indica.
O responsável recorda que o patriarcado de Lisboa viveu um Sínodo diocesano, desencadeado pelo então Patriarca D. Manuel Clemente, em 2014, que se prolongou até 2016, com uma assembleia e, nos posteriores anos, com a receção do documento final desse processo «O sonho missionário de chegar a todos».
Quando o Papa Francisco desafiou a Igreja católica, em 2021, o patriarcado “não sentiu uma desmobilização” e conseguiu criar “na maioria das paróquias, um coordenador paroquial” que se mantém até aos dias de hoje.
“(Na primeira fase do processo) conseguimos estabelecer uma rede de 220 pessoas de ligação, resultando num total de cerca de 200 relatórios”, informa.
O padre Rui Carvalho destaca ainda a importância do método no processo: “Ser introduzido o diálogo espiritual, onde nas reuniões havia espaço ao silêncio, levou a que as pessoas se fossem habituando a estar nas reuniões de uma maneira diferente, já não nesta perspetiva quase de defender a minha ideia ou de defender a minha porção da parte da Igreja, mas de nos colocarmos todos à procura daquilo que Deus quer dizer, à escuta atenta e ver, no outro, aquilo que Deus está a dizer”.
A conversa com o padre Rui Carvalho sobre a realidade do processo sinodal no patriarcado de Lisboa, desencadeado pelo Papa Francisco «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão», vai estar no centro do programa Ecclesia na Antena 1, no sábado pelas 06h00.
LS