Sínodo: «A Igreja somos todos» – padre Tony Neves

Missionário espiritano destaca passos «irreversíveis» dados pela Igreja desde o início do processo lançado por Francisco, em 2021

Foto: Ricardo Perna

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Roma, 03 out 2023 (Ecclesia) – O padre Tony Neves, assistente geral da Congregação do Espírito Santo (Espiritanos), disse hoje à Agência ECCLESIA que o percurso sinodal lançado pelo Papa, em 2021, abriu caminho à ideia de uma Igreja de “todos”, mais simples e “fraterna”.

“Há passos que foram dados e que são irreversíveis. Por exemplo, o sentirmo-nos uma Igreja de todos, a Igreja não é mais o Papa, os bispos, os padres e as religiosas, a Igreja somos todos”, referiu o missionário português, em Roma, na véspera do início da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.

Esta primeira sessão tem como tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a assembleia terá uma segunda sessão, em 2024.

O padre Tony Neves destaca o “apelo a uma Igreja cada vez mais simples, mais próxima dos pobres, mais fiel a Jesus Cristo”.

“Creio que esse é outro caminho que o Sínodo nos tem mostrado”, insistiu, sustentando que “muito do mais importante está feito, que é a dinâmica sinodal”.

O processo sinodal, realça o religioso espiritano, tem desafiado a uma menor “formalidade”, na Igreja, para “cultivar um estilo de vida cada vez mais sóbrio, ecológico e fraterno”, ajudando o mundo “a ser mais humano e mais cristão”.

“Temos de mudar situações que são de clara exclusão, que não fazem sentido no plano humano nem no plano cristão”, acrescenta.

O entrevistado recorda a “larguíssima consulta” lançada pelo Papa, em 2021, considerando que a mesma mostra que “a escuta foi muito valorizada”.

“Os resultados da escuta foram debatidos continentalmente e agora foram sintetizados num ‘Instrumentum Laboris’ que eu acho muito interessante”, observa o padre Tony Neves.

Este documento de trabalho tem como base o material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

“Há um caminho e, a meu ver, o mais importante é mesmo o caminho, porque a palavra sínodo quer dizer caminhar juntos na mesma direção”, assinala o missionário português.

O padre Tony Neves destaca que o documento final da primeira sessão desta XVI Assembleia Geral do Sínodo vai “voltar às bases”, para que “o diálogo e a escuta continuem, ajudando a um discernimento”, antes de 2024.

Questionado sobre o que espera dos trabalhos sinodais, o religioso admite que existem tendências contrárias, alertando para o “risco da polarização”.

“Há polos que são antagónicos nalgumas ideias e também nas conclusões a que se quer chegar, que por isso vão provocar debates acessos”, precisa.

O entrevistado realça que o Papa tem afirmado o desejo de que “seja o Espírito Santo” a comandar a “orquestra” da Igreja.

“Tem de se procurar a harmonia nesta riqueza da pluralidade, que não é um problema. As pessoas têm de abrir-se a novas perspetivas”, apela.

Para o assistente geral dos Espiritanos, a Igreja “sempre foi uma comunidade de gente peregrina”, que encontra situações, pela estrada, que a obriga a “mudar, a questionar, a abrir caminhos de futuro”.

“Espero que o Sínodo seja este caminho”, deseja.

O missionário do Espírito Santo espera que esta assembleia, com a sua dinâmica de “diálogo no Espírito”, possa ajudar a redescobrir a terceira pessoa da Santíssima Trindade, que inspira a “rasgar os caminhos de futuro”.

O programa de três semanas da assembleia sinodal começa com a Missa presidida pelo Papa, esta quarta-feira, e inclui uma peregrinação (12 de outubro), uma oração pelos migrantes e refugiados (19 de outubro) e a recitação do Rosário nos jardins do Vaticano (25 de outubro).

“A essência do percurso sinodal reside numa verdade básica que nunca devemos perder de vista: tem a finalidade de ouvir, compreender e colocar em prática a vontade de Deus”, escreveu hoje o Papa, na sua conta da antiga rede social Twitter (X).

Parceria Consistório e Sínodo/OC

Os trabalhos vão decorrer em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do instrumento de trabalho e o debate conclusivo.

As reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.

Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

 

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