Sínodo 2024: Vigília ecuménica evocou aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, sublinhando «beleza» da diversidade

Francisco presidiu a celebração, junto de vários responsáveis de Igrejas e comunidades cristãs

Cidade do Vaticano, 11 out 2024 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje, no Vaticano, a uma vigília ecuménica, com os participantes no Sínodo, assinalando o aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, que aconteceu a 11 de outubro de 1962.

“O Sínodo tem-nos ajudado a redescobrir a beleza da Igreja na variedade dos seus rostos. Assim, a unidade não é uniformidade, nem é o resultado de compromissos ou equilíbrios”, refeiu, numa intervenção distribuída aos presentes.

“A unidade cristã é harmonia na diversidade dos carismas suscitados pelo Espírito para a edificação de todos os cristãos”, escreve Francisco, que que optou por não ler o discurso preparado.

A cerimónia decorreu na Praça dos protomártires de Roma, a poucos metros do auditório que acolhe a segunda sessão dos trabalhos da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.

“Neste lugar, recordamos os primeiros mártires da Igreja de Roma: sobre o seu sangue foi construída esta basílica, sobre o seu sangue foi edificada a Igreja. Que estes mártires fortaleçam em nós a certeza de que nos aproximamos uns dos outros ao aproximarmo-nos de Cristo”, assinala o pontífice.

A iniciativa foi acompanhada por celebrações locais em todos os continentes; a Rede Sinodal em Portugal juntou-se à Rede Mundial de Oração do Papa para esta oração ecuménica pela paz.

O Papa destaca que o Concílio Vaticano II “marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecuménico”, agradecendo a presença dos “irmãos e irmãs das outras Igrejas” nesta celebração.

A intervenção sublinha que “a unidade dos cristãos e a sinodalidade estão ligadas”, falando num caminho que “deve ser percorrido com todos os cristãos”.

Partindo da experiência da Assembleia Sinodal, nos últimos anos, o Papa observa que “a unidade é uma graça, um dom imprevisível”.

“O verdadeiro protagonista não somos nós, mas o Espírito Santo que nos guia para uma maior comunhão. Tal como não sabemos de antemão qual será o resultado do Sínodo, também não sabemos exatamente como será a unidade a que somos chamados”, indica.

Destacando a importância da oração, neste percurso, Francisco refere que “outro dos ensinamentos do processo sinodal é que a unidade é um caminho: amadurece em movimento, durante o percurso”.

“Cresce no serviço recíproco, no diálogo da vida, na colaboração entre todos os cristãos”, acrescenta.

Em virtude do nosso amor a Cristo e a todas as pessoas que somos chamados a servir, precisamos de percorrer o caminho da unidade. Durante este percurso, não deixemos que as dificuldades nos travem! Confiemos no Espírito Santo, que impele à unidade numa harmonia de policroma diversidade”.

As reflexões lidas na vigília assinalaram o 70º aniversário da publicação constituição conciliar ‘Lumen Gentium’ e do decreto ‘Unitatis Redintegratio’, dois documentos de referência para o diálogo ecuménico na Igreja Católica.

A oração foi organizada conjuntamente pela Secretaria-Geral do Sínodo e pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé), em colaboração com a comunidade ecuménica de Taizé.

A praça dos primeiros mártires de Roma é o local, onde, segundo a tradição, foi morto o apóstolo Pedro (séc. I).

“Neste lugar, os Protomártires recordam-nos que hoje, em muitas partes do mundo, cristãos de diferentes tradições dão juntos a vida por causa da fé em Jesus Cristo, vivendo o ecumenismo do sangue. O seu testemunho é mais forte do que qualquer palavra, porque a unidade vem da Cruz do Senhor”, escreveu o Papa.

Francisco assume “vergonha pelo escândalo da divisão dos cristãos”, considerando que o atual Sínodo é “uma oportunidade para melhorar, para ultrapassar os muros que ainda persistem”.

“Concentremo-nos no chão comum do nosso mesmo Batismo, que nos impele a ser discípulos missionários de Cristo, com uma missão comum. O mundo precisa de um testemunho comum, o mundo precisa que sejamos fiéis à nossa missão comum”, apela.

A celebração teve um momento de recolhimento diante da cruz de São Damião, ligada a São Francisco de Assis, que “recebeu o apelo para restaurar a Igreja”.

“Que em cada dia, também nós sejamos guiados pela Cruz de Cristo no caminho para a plena unidade, em harmonia uns com os outros e com toda a criação”, conclui o texto do Papa.

O Papa concedeu a bênção, aos participantes, juntamente com os responsáveis das outras Igrejas e comunidades cristãs presentes na vigília ecuménica.

A introdução da oração ficou a cargo do cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos (Santa Sé)

“Cristãos de todas as tradições, irmãos e irmãs em Cristo, participantes no Sínodo, delegados fraternos e representantes das várias Igrejas e comunhões cristãs presentes em Roma, sentimo-nos felizes por caminhar e rezar juntos neste dia simbólico”, indicou, recordando a abertura do Concílio Vaticano II.

“Em particular, gostaríamos de dar graças pelos frutos ecuménicos que se desenvolveram sob o impulso do Concílio”, acrescentou.

O colaborador do Papa deixou votos de que esta oração renove em todos “o desejo de continuar, na dinâmica sinodal, o caminho em direção à plena unidade”.

Foto: Lusa/EPA

A assembleia sinodal, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A eles somam-se, sem direito a voto, os 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Após a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, em outubro de 2023, o Papa decidiu aumentar o número de “delegados fraternos” de 12 para 16.

A sessão do último ano foi precedida pela vigília de oração ecuménica ‘Together’ (Juntos), realizada a 30 de setembro

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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