Sínodo 2024: Presidente-delegada pede «passos ainda mais amplos, mais rápidos» para valorizar mulheres

Intervenções sobre diaconado feminino afastaram decisões imediatas sobre o tema

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 03 out 2024 (Ecclesia) – A irmã Dolores Palencia, presidente-delegada da XVI Assembleia Geral do Sínodo, disse hoje no Vaticano que a Igreja tem de dar passos “ainda mais amplos, mais rápidos e mais intensos” para valorizar as mulheres.

“Creio que se está a fazer um caminho em que o papel das mulheres, os seus dons e os seus contributos numa igreja sinodal estão a ser cada vez mais reconhecidos”, referiu a religiosa mexicana, num encontro com jornalistas, na sala de imprensa da Santa Sé.

“Está a reconhecer-se a possibilidade de abrir novas experiências e novas propostas para descobrir ainda mais esse papel, para poder ir ao fundo da questão”, acrescentou.

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

Esta sessão tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A irmã Dolores Palencia destacou que, no processo sinodal, “há um caminho que está a ser feito”.

“Depende do contexto, mas está a ser feito pouco a pouco e é também um processo de aprendizagem: lugares para mulheres, para mulheres leigas e para mulheres consagradas, ambas, porque penso que também nós temos de aprender a libertar-nos de um estilo de clericalismo que experimentamos”, referiu a religiosa.

Temos de ter em conta os contextos, respeitar as culturas, dialogar com essas culturas e ouvir as próprias mulheres nesses locais e nessas culturas, mas acredito que há um caminho a seguir”.

Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal.

Na sessão plenária de abertura dos trabalhos, esta quarta-feira, vários responsáveis destes grupos apresentaram um relatório, entre eles o cardeal Víctor Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), que falou em nome do Grupo 5 – dedicado a “questões teológicas e canonísticas relativamente a específicas formas ministeriais”, em particular sobre a participação das mulheres nos processos de decisão e liderança comunitária.

“Conhecemos a posição pública do pontífice, que não considera a questão madura. A oportunidade de um estudo mais aprofundado permanece aberta, mas na mente do Santo Padre há ainda outras questões a serem investigadas e resolvidas antes de nos apressarmos em falar de um possível diaconado para algumas mulheres”, assinalou.

O colaborador do Papa rejeitou que o diaconado se torne “uma espécie de consolação para algumas mulheres e a questão mais decisiva da participação feminina na Igreja continue a ser negligenciada”.

Os trabalhos procuram “sugerir o reconhecimento de carismas ou a instituição de serviços, não necessariamente ligados ao poder sacramental”.

“Não uma autoridade relacionada com a receção das ordens sagradas, mas um verdadeiro exercício de autoridade de grande fecundidade para o povo de Deus, talvez mais decisivo do que os  deveres limitados de um diácono”, acrescentou o cardeal Víctor Fernández.

Giacomo Costa, secretário especial da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, destacou que, na apresentação do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé se sublinha que “este não é o momento da tomada de decisões”.

“Não é muito claro como configurar o próprio diaconado, há todo um trabalho para compreender a perspetiva da liderança, da autoridade da Igreja, para poder fundamentar um caminho que continue e que retome essa questão”, declarou o responsável.

“Penso que a perspetiva é bastante clara de procurar um caminho eclesial vivido em conjunto, em que os passos são dado em comum”, acrescentou.

OC

Sínodo: Diaconado feminino e celibato sacerdotal surgem como questões que geraram maior divisão

Uma primeira comissão para o estudo do diaconado feminino, anunciada a 12 de maio de 2016, veio a revelar-se inconclusiva, tendo Francisco descartado mudanças no futuro imediato.

Em 2020, o Papa decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, na sequência do Sínodo especial para a Amazónia.

O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.

Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas.

 

 

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Agência ECCLESIA

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