Cardeal Jean-Claude Hollerich sublinha importância do processo sinodal lançado por Francisco, que começa a 9 e 10 de outubro, no Vaticano
Fátima, 01 out 2021 (Ecclesia) – O relator-geral da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Jean-Claude Hollerich, disse à Agência ECCLESIA e ‘Família Cristã’ que o processo lançado pelo Papa visa o debate sobre o futuro da Igreja Católica, admitindo tensões internas.
“Deveríamos fixar as regras para vermos como a Igreja irá atravessar os tempos. Encontramo-nos numa mudança de civilização muito grande. Encontramo-nos completamente nos inícios duma nova era de informática, e isto só agora começou. Toda a nossa maneira de pensar, de sentir, de reagir tem que mudar; não podemos ser ingénuos”, referiu o arcebispo do Luxemburgo, em entrevista conjunta publicada hoje.
O arranque da próxima assembleia sinodal acontece no Vaticano, sob a presidência do Papa Francisco, nos dias 9 e 10 de outubro deste ano, e em cada diocese católica, sob a presidência do respetivo bispo, a 17 de outubro.
O processo decorre até outubro de 2023, sobre o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, tendo sido publicadas, pela Secretaria-Geral do Sínodo, um conjunto de orientações para as várias comunidades católicas.D. Jean-Claude Hollerich, também presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), recebeu a nomeação como relator-geral no Algarve, onde se encontrava em retiro. exercícios espirituais, um retiro.
Para o cardeal, a sinodalidade implica uma “grande mudança”, na sequência do que foi proposto pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), partindo do “papel central” do Batismo.
A experiência da vida de cada batizado é importante, porque Deus está nela presente. E devemos discernir esta presença de Deus na nossa própria vida ou na vida dum grupo de batizados, de uma comunidade ou de uma Igreja local…”.
O relator-geral do Sínodo 2021-2023 diz que os bispos devem assumir a “responsabilidade” desta escuta, destacando a valorização das mulheres que o Papa tem vindo a promover: “Se partirmos do Batismo, não vejo que o Batismo dos homens seja mais importante do que o Batismo das mulheres, é evidente”.
D. Jean-Claude Hollerich sublinha que as mudanças atuais são “muito mais rápidas” do que no passado, o que leva a “uma falta de unidade na Igreja”.
“É preciso encontrar uma forma de tomar decisões na Igreja em que os cristãos estejam verdadeiramente envolvidos, a fim de se poder caminhar, porque há pessoas que não querem caminhar, querem sentar-se e permanecer lá onde se encontram; outros, correm à esquerda ou à direita, mas a Igreja para poder caminhar tem de ser em conjunto”, aponta.
Penso que uma tal sinodalidade será contra todos os extremismos eclesiológicos, a longo prazo, quer da direita quer da esquerda”.
O entrevistado assume as tensões internas e o risco de cisões na Igreja Católica, considerando que o trabalho do Sínodo “não é uma questão de política”, mas “a forma de Deus estar no mundo.
“Naturalmente, isto tem de ser feito de modo cristão em que cada um é importante, quer seja da esquerda ou da direita, mas sim, é essencial que a Igreja avance”, acrescenta.
O presidente da COMECE deixa algumas questões relativas à experiência sinodal na Alemanha e pede que se rejeite qualquer “visão política” sobre o processo global convocado pelo Papa Francisco.
“Ele quer que o caminho do Concílio continue; para ele isto é essencial. Por vezes é criticado quer pela direita quer pela esquerda por não tomar tal e tal decisão, mas talvez ele nos esteja a dizer que não lhe compete a ele tomar a decisão, mas que somos nós quem a deve tomar. E isto revela a grandeza do Papa”, conclui.
A Santa Sé publicou o documento preparatório e propõe um vade-mécum metodológico para o Sínodo dos Bispos, que pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC