Sínodo 2021-2024: Documento de trabalho pede fim de «modelo piramidal» na Igreja

Texto orientador para a segunda sessão da assembleia exclui questões «controversas», para as quais o Papa criou grupos de estudo

Foto: Ricardo Perna

Cidade do Vaticano, 09 jul 2024 (Ecclesia) – O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, apela a uma transformação de “estruturas e processos” nas comunidades católicas, superando o “modelo piramidal” no exercício do poder.

O texto, divulgado hoje em conferência de imprensa, pela Santa Sé, sublinha a necessidade de “superar uma visão estática dos lugares, que os ordena por níveis ou graus sucessivos segundo um modelo piramidal”.

O ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a segunda sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, nasceu de uma consulta a dioceses e organismos episcopais de todo o mundo.

O texto defende uma visão renovada do ministério ordenado, “passando de um modo piramidal de exercitar a autoridade para um modo sinodal”.

A reflexão questiona ainda um exercício do ministério episcopal tendencialmente “monárquico”, concebido como “cúmulo de prerrogativas de que derivam todos os outros carismas e ministérios”.

“Na Igreja o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária, mas, enquanto ministério ao serviço da unidade do Povo de Deus, constitui uma força moderadora da busca comum das exigências do Espírito”, pode ler-se.

O novo IL rejeita a oposição entre “consulta e deliberação”, destacando que a tomada de decisão, na Igreja, se realiza “com a ajuda de todos, nunca sem a autoridade pastoral que decide por inerência de cargo”.

O texto, intitulado ‘Como ser Igreja sinodal missionária’, apresenta 112 pontos, divididos em três partes, com uma introdução e uma secção de “fundamentos”.

O Vaticano recebeu 108 relatórios de Conferências Episcopais (de um total de 114), nove das Igrejas Católicas Orientais, o contributo da USG-UISG (União Internacional dos Superiores Maiores e a União Internacional das Superioras Gerais), organismos da Cúria Romana e mais de 200 comentários, provenientes de realidades internacionais, faculdades, associações de fiéis, comunidades e pessoas individuais.

A estes contributos somaram-se as conclusões do encontro internacional “Os Párocos pelo Sínodo”, que decorreu em Roma, de 28 de abril a 2 de maio.

“A sinodalidade não implica, de modo algum, a desvalorização da autoridade e da missão específica que o próprio Cristo confiou aos pastores, os bispos com os presbíteros”, observa o novo documento de trabalho.

A reflexão aborda a necessidade de um “descentramento do governo e da planificação pastoral”, com maior autonomia das Conferências Episcopais, favorecendo “a valorização das expressões litúrgicas, disciplinares, teológicas e espirituais apropriadas aos diferentes contextos socioculturais”.

“A adoção de um estilo sinodal permite deixar de pensar que todas as Igrejas devam forçosamente mover-se ao mesmo ritmo relativamente a cada questão”, indica o IL.

O documento convida a promover “um conhecimento das culturas em que as Igrejas vivem e atuam, incluindo a cultura digital, hoje tão difundida, sobretudo no âmbito dos jovens”.

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’.

“Podemos esperar um aprofundamento da compreensão partilhada da sinodalidade, um maior enfoque das práticas de uma Igreja sinodal e também a proposta de algumas alterações no direito canónico, mas seguramente não a resposta a todas as questões”, observa o documento de trabalho.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada nesta assembleia pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, e D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra.

Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre os temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo.

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal.

“Trata-se de temas sobre os quais a Assembleia sinodal já chegou a um consenso significativo e que, por isso, pareceram suficientemente amadurecidos para poder passar à fase de elaboração de propostas concretas de reforma, a submeter ao Santo Padre”, explicou hoje aos jornalistas o secretário-geral do Sínodo, cardeal Mario Grech.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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