Sínodo 2021-2024: «Escuta de todos» contraria modelos de concentração de poder e dinheiro, diz novo «Instrumentum Laboris»

Documento alude a «desencanto» com funcionamento da democracia e exclusão dos mais pobres

Foto: Secretaria do Sínodo

Cidade do Vaticano, 09 jul 2024 (Ecclesia) – O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, aponta o processo de “escuta de todos”, promovido pela Igreja Católica, como exemplo para contrariar modelos de “concentração” de poder e dinheiro.

“A disponibilidade para a escuta de todos, especialmente dos pobres, promovida pelo estilo de vida sinodal está em nítido contraste com um mundo em que a concentração do poder exclui os pobres, os marginalizados e as minorias”, indica o texto, divulgado hoje em conferência de imprensa, pela Santa Sé.

O documento fala numa “época marcada por desigualdades cada vez mais acentuadas”, alertando para “uma crescente desilusão face aos modelos tradicionais de governo, pelo desencanto em relação ao funcionamento da democracia”.

As preocupações estendem-se ao “predomínio do modelo de mercado nas relações interpessoais e pela tentação de resolver os conflitos pela força e não pelo diálogo”.

“A sinodalidade poderá oferecer uma inspiração para o futuro da nossa sociedade”, indica o texto.

O ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a segunda sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, nasceu de uma consulta a dioceses e organismos episcopais de todo o mundo.

A reflexão apela a testemunho partilhado sobre “questões sociais de relevância global, como o cuidado da casa comum e os movimentos migratórios”, apontando, em particular, a “grandes áreas geográficas supranacionais”, como a Amazónia, a bacia do Congo ou o Mediterrâneo.

Uma Igreja sinodal poderá testemunhar a importância de que as soluções dos problemas comuns sejam elaboradas com base na escuta das vozes de todos, principalmente dos grupos, comunidades e países que habitualmente ficam à margem dos grandes processos globais”.

O IL convida à “escuta das pessoas que vivenciam vários tipos de pobreza e marginalidade” e questiona a “cultura mercantil que marginaliza a gratuidade”.

O texto, intitulado ‘Como ser Igreja sinodal missionária’, apresenta 112 pontos, divididos em três partes, com uma introdução e uma secção de “fundamentos”.

“Um mundo em crise, cujas feridas e desigualdades escandalosas ressoam dolorosamente no coração de todos os discípulos de Cristo, leva-nos a rezar por todas as vítimas da violência e da injustiça e a renovar o nosso compromisso ao lado das mulheres e dos homens que em toda as partes do mundo se empenham como obreiros de justiça e de paz”, pode ler-se.

Os contributos recolhidos destacaram a “variedade das tradições litúrgicas, teológicas, espirituais e disciplinares”, assinalando que “a valorização dos contextos, das culturas e da diversidade é um ponto chave para crescer como Igreja sinodal missionária”.

“Tomar a sério esta pluralidade de formas afasta pretensões hegemónicas e o risco de reduzir a mensagem salvífica a uma única compreensão da vida eclesial e das expressões litúrgicas, pastorais ou morais”, indica o IL.

O documento considera um “escândalo” a existência de “Igrejas ricas e de Igrejas que vivem em condições de grande privação”, recordando os cristãos que vivem em “contextos marcados pela violência, a perseguição e a ausência de liberdade religiosa”.

As questões do “colonialismo e do neocolonialismo” são também abordadas, indicando que “muitas Igrejas são portadoras de uma memória ferida, sendo necessário promover caminhos concretos de reconciliação”.

O IL refere o impacto ecuménico do processo sinodal, apontando à “questão do exercício do ministério petrino”, o papel do Papa, abordado num recente documento do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

OC

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; a primeira sessão decorreu em outubro de 2023.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada pelo seu presidente e vice-presidente, respetivamente D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, e D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

 

 

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