Sínodo 2021-2024: Relatório da CEP apela a discernimento sobre questões «fraturantes» e papel das mulheres

Documento sublinha necessidade de novos ministérios, junto das pessoas mais frágeis da sociedade

Foto: Ricardo Perna

Lisboa, 02 mai 2024 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) publicou hoje o seu relatório sobre a segunda fase da consulta sinodal, lançada pelo Papa, apelando a um maior “discernimento” sobre questões “fraturantes” e o papel das mulheres na Igreja.

“É importante continuar a fazer um discernimento sobre algumas questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja”, refere o documento, elaborado pela equipa sinodal da CEP a partir dos contributos das Dioceses portuguesas e de outros organismos eclesiais.

O texto, enviado à Agência ECCLESIA, dá como exemplo “a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados, a possibilidade de ordenação de mulheres”.

“É reconhecida a importância de valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar que possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de liderança, especificamente nos conselhos pastorais e económicos”, pode ler-se.

A Igreja tem muito a ganhar com uma intervenção mais relevante das mulheres, de um modo particular, no anúncio e na meditação da Palavra de Deus, para uma verdadeira vivência sinodal e reconhecimento pleno dos seus dons e capacidades”.

A nova síntese assinala o pedido de “maior criatividade” relativamente a ministérios nas comunidades católicas, que possam chegar a “outras áreas da vida social, designadamente os domínios da saúde mental, dos doentes e familiares/cuidadores em processo de doença crónica, progressiva e incurável”.

O processo de luto, o apoio a pessoas com deficiência ou a jovens namorados e a casais, especialmente os que estão em crise, desempregados, refugiados e imigrantes, são outras das preocupações apresentadas.

“Em qualquer caso, a reflexão sobre os ministérios e a sua concretização têm de ir muito para além da questão da diminuição ou até falta de presbíteros”, destaca o documento da CEP.

A síntese aponta a novos ministérios, “especificamente voltados para a pastoral familiar”, bem como um serviço de escuta e acompanhamento às pessoas sós, aos idosos e às pessoas com deficiência.

Propõe-se a criação de itinerários sérios para a iniciação à Fé e a receção dos Sacramentos, procurando que através dos momentos de preparação para o batismo e matrimónio se chame a atenção para o compromisso com a Igreja”.

O texto deixa alertas para o clericalismo e a “clericalização” dos leigos com responsabilidades, nas comunidades católicas, assinalando que “a participação laical não deve ser assumida como uma substituição do papel dos padres nas comunidades nem dos consagrados”.

Segundo o relatório, os contributos recolhidos pedem “atenção específica à solidão e isolamento a que estão sujeitos os padres” e uma “valorização do ministério do diácono permanente”.

O documento dedica vários pontos à formação dos sacerdotes e nos seminários, pedindo “uma pedagogia sinodal” e uma melhoria nas “formas de acompanhamento dos jovens presbíteros”.

Quanto à comunicação, sublinha-se que a mesma deve ser “simplificada, mais clara, transparente e articulada”.

Após a experiência da JMJ Lisboa 2023, a CEP entende ser “absolutamente fundamental uma atenção especial aos jovens, confiando-lhes missões concretas”.

“A comunidade jovem deve ser interpelada e ajudada a ser protagonista na vida comunitária, assumindo serviços e ministérios, organizando atividades pastorais e integrando-se nas equipas de animação pastoral”, acrescenta o texto.

A síntese destina-se à Secretaria-Geral do Sínodo (Santa Sé), responsável pela elaboração do documento de trabalho (Instrumentum Laboris) da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (2 a 27 de outubro de 2024).

A CEP está representada na assembleia sinodal por D. José Ornelas, presidente da CEP, e D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

O relatório foi elaborado pela Equipa Sinodal da CEP, constituída por José Eduardo Borges de Pinho, professor jubilado da Universidade Católica Portuguesa; Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz; padre Eduardo Duque, Professor da Universidade Católica Portuguesa; Carmo Rodeia, diretora do Serviço Diocesano para as Comunicações Sociais da Diocese de Angra; Anabela Sousa, diretora do Gabinete de Comunicação da Conferência Episcopal Portuguesa; padre Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa.

“A recolha e análise da informação resultante dos trabalhos de grupo foi realizada por meio de um procedimento detalhado e sistemático que promoveu a participação coletiva e o diálogo construtivo entre os membros de diferentes comunidades”, indicam os responsáveis.

Segundo a equipa, o método de consulta direta possibilitou “a identificação de temas comuns às diferentes realidades pastorais”.

“A análise da informação recolhida teve em consideração as diferentes perspetivas e experiências relatadas, refletindo o compromisso para com a verdade da mensagem encontrada nos relatórios das dioceses e movimentos/grupos que chegaram até esta comissão de trabalho”, indica o relatório da CEP.

 

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