Cristina Inogés Sanz encerrou ciclo de debates promovido pela Capela do Rato, em Lisboa
Lisboa, 13 dez 2021 (Ecclesia) – Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola e membro da Comissão de Metodologia do Sínodo 2021-2023, convocado pelo Papa, disse hoje que este processo marca um momento inédito de participação dos leigos católicos na vida da Igreja.
“Pela primeira vez, os leigos são protagonistas de um Sínodo, na Igreja universal”, referiu a especialista, que encerrou o ciclo de debates promovido pela comunidade da Capela do Rato, em Lisboa, sobre o ‘Caminho Sinodal’.
“A voz dos leigos vai ser ouvida”, acrescentou, considerando que se vive o acontecimento eclesial “mais importante” desde o Concílio Vaticano II (1962-1965).
A convidada falou sobre “formas de concretizar o processo sinodal”, num debate online com a participação de cerca de 300 pessoas, sustentado que “este Sínodo é especialmente importante”, pelo momento em que acontece.
A teóloga espanhola referiu que é preciso “diagnosticar” os problemas, numa fase “má” da vida da Igreja Católica, aludindo às consequências dos “abusos” de poder, nas suas várias dimensões, e ao “secularismo atroz” que existe na sociedade e se sente nas comunidades cristãs.
A conferencistas apontou a uma “reforma”, em que cada um tem de “aprender a ser Igreja de outra forma”.
“Está em jogo o futuro da Igreja”, sustentou.
Cristina Inogés Sanz sublinhou que Francisco “criou todos os caminhos” e as “garantias” para a participação, a partir das comunidades locais.
“É uma questão que diz respeito a todos”, insistiu, referindo a importância de ir ao encontro de pessoas “profundamente feridas” na Igreja.
O processo sinodal começou numa fase diocesana, que decorre desde outubro até 15 de agosto de 2022, promovendo a auscultação e mobilização das comunidades locais.
A auscultação das Igrejas locais é uma etapa inédita, desenhada pelo Papa Francisco, que pediu a cada bispo que replicasse a celebração de abertura que decorreu no Vaticano, a 9 e 10 de outubro, com uma cerimónia diocesana.
“Esta fase diocesana é tão Sínodo como a assembleia de bispos que se vai celebrar em outubro de 2023”, precisou Cristina Inogés Sanz.
A oradora destacou a importância de levar este processo até aos seminários, para trabalhar o documento sinodal e participar na fase diocesana, desejando que “a sinodalidade seja algo transversal na formação dos futuros sacerdotes”.
Apesar de se sublinhar a importância de integrar o processo em cada diocese, qualquer grupo ou indivíduo que não tenha oportunidade de o fazer a nível local pode enviar os seus contributos diretamente para a Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos. |
A teóloga espanhola apontou o desafio de “comunicar” o entusiasmo pelo Sínodo, convidando à participação generalizada no processo, recuperando a presença eclesial nos mundos do trabalho ou da universidade, por exemplo.
Cristina Inogés Sanz é formada em Teologia pela Faculdade Protestante de Madrid e tem vários livros e artigos publicados.
A responsável fez uma das primeiras intervenções na cerimónia de abertura do Sínodo, no último dia 9 de outubro.
A Capela do Rato, promoveu durante o tempo litúrgico do Advento, um ciclo de três conferências, iniciado com a participação de José Eduardo Borges de Pinho, professor emérito de Eclesiologia na Faculdade de Teologia da UCP; a segunda reflexão esteve a cargo do sacerdote jesuíta José Frazão Correia.
O padre António Martins, capelão da comunidade católica, destacou a necessidade de “refletir, motivar e levar ao maior número de pessoas” a proposta sinodal lançada pelo Papa Francisco.
A sessão concluiu-se com uma evocação de Leonor Xavier, falecida hoje e recordada também pelo presidente da República Portuguesa, que sublinhou a sua “militância por causas cívicas e por um renovado catolicismo conciliar”.
OC
Em entrevista à Agência ECCLESIA e ‘Família Cristã’, a teóloga espanhola, que falou na abertura do Sínodo, em outubro, no Vaticano, sustenta que é preciso ir ao encontro de quem deixa as comunidades católicas, pelos mais diversos motivos.
“Há pessoas que são Povo de Deus e de que não sentimos a falta, quando se vão embora. Essa realidade tem de mudar”, aponta. Para a responsável, é necessário aproximar-se e “incluir essas pessoas”, saber quem são e “integrá-las de forma positiva”, sem que se sintam “marcadas”. Cristina Inogés Sanz considera ainda que dioceses menos empenhadas ou desinteressadas em relação a este processo sinodal devem entender que se vive “um momento crucial”. “O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer que o problema existe. Temos um problema de uma estrutura rígida, vertical, clericalizada ao máximo”, precisa. |