Sínodo 2019: «Inculturação não é feita com proselitismo» – Arcebispo de Porto Velho, Brasil

D. Roque Paloschi e quatro oradores defenderam direitos dos povos indígenas

Cidade do Vaticano, 17 out 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Porto Velho, no Brasil, afirmou hoje que “a inculturação não é feita com proselitismo” e destacou que os povos indígenas sofreram discriminação quanto às terras tradicionais.

“A inculturação não é feita com proselitismo, mas com testemunho. Não se trata de impor uma cultura do alto, de cancelar a cultura dos outros. Nenhuma cultura é perfeita”, disse D. Roque Paloschi na conferência de imprensa sobre os trabalhos do sínodo da Amazónia.

Para o arcebispo de Porto Velho é necessário preservar as sementes em todas as culturas e a proclamação do Evangelho é um anúncio, “nova vida” e todos precisam de tornar-se uma nova pessoa no encontro com Cristo.

O arcebispo brasileiro destacou também que os direitos dos povos indígenas sofreram discriminação e deu como exemplo o problema das terras tradicionais, lembrando que a “Constituição de 1988 previa que em 1993 todas as terras dos povos originais tinham de ser demarcadas, homologadas e registradas”.

“Nem um terço eram demarcadas e as que não eram demarcadas eram invadidas pela garimpeiros das indústrias de mineração, das indústrias de petróleo e madeira”, acrescentou.

Os direitos dos povos indígenas, a evangelização e a inculturação estiveram no centro da conferência de imprensa do Sínodo para a região Pan-Amazónica.

O procurador da República brasileiro, Felicio de Araujo Pontes Junior, também centrou-se na defesa dos direitos das populações da Amazónia e dos descendentes afro-americanos referindo que muitas vezes entram em conflito com o modelo de desenvolvimento predominante.

Especialista em direito dos povos indígenas disse que o homem não tem o direito de eliminar os ecossistemas agitando a bandeira do progresso, referindo-se ao aumento das fazendas e das monoculturas.

O sacerdote Salesiano Justino Sarmento Rezende quer transmitir a fé na sua língua materna, é povo Tuyuca (Brasil) e a vocação nasceu através dos missionários que ensinaram o Catecismo aos seus avós.

Padre há 25 anos, o especialista em espiritualidade indígena e pastoral insculturada referiu que é uma questão de manter o diálogo pacientemente, conhecendo a vida desses povos, e manifestou gratidão aos missionários por terem unido o Evangelho ao desejo de conhecer as culturas indígenas.

Da República Cooperativa da Guiana, Leah Rose Casimero, pertence aos Wapichan, e partilhou a sua experiência como coordenadora de Educação Bilíngue de Qualidade para crianças desse povo, um programa que inclui os dois idiomas, da população indígena e o inglês.

“Temos os nossos materiais para crianças e incorporamos o nosso conhecimento e a nossa vida tradicional”, explicou, sobre um programa que surgiu do diálogo com os Jesuítas, com outras Igrejas, com outros consultores e com o apoio das autoridades.

Da costa Este da América do Sul, do Equador, Patricia Gualinga apelou à defesa da Amazónia, seriamente ameaçado com consequências para toda a humanidade.

A líder em defesa dos direitos humanos das comunidades Kichwa de Sarayaku incentivou a uma aliança entre os indígenas, que são perseguidos e até assassinados, com a Igreja.

O Sínodo especial para a Amazónia, convocado pelo Papa Francisco, decorre até 27 de outubro, no Vaticano, com a participação dos bispos católicos da região, de representantes indígenas, convidados e especialistas.

CB/PR

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Agência ECCLESIA

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