Sínodo 2019: Cientista Carlos Alfonso Nobre fala em ameaça de «ponto de não-retorno» na Amazónia

Crise ecológica e soluções para comunidades sem Eucaristia dominam reuniões gerais na primeira semana de trabalhos

Cidade do Vaticano, 09 out 2019 (Ecclesia) – O cientista brasileiro Carlos Alfonso Nobre, autor de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), alertou hoje no Vaticano para a hipótese de se chegar a um ponto de “não-retorno”, na Amazónia.

“Nós estamos muito próximos de um colapso da floresta amazónica”, alertou, falando na possibilidade de um “ciclo irreversível” de substituição do território florestal por “uma savana”.

“Estamos muito próximos desse ponto de não-retorno”, acrescentou, em conferência de imprensa, após a quinta reunião geral do Sínodo especial para a Amazónia.

O convidado especial do Sínodo dos Bispos foi um dos autores do IV Relatório de Avaliação do IPCC, organismo que, em 2007, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz, juntamente com o norte-americano Al Gore.

“A Amazónia é uma espécie de coração biológico do planeta”, assinalou Carlos Alfonso Nobre, membro da Comissão de Ciências Ambientais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil.

D. Erwin Kräutler, bispo emérito da prelatura brasileira do Xingu e antigo presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), falou aos jornalistas sobre uma “campanha anti-indígena” da classe política, que os apresenta como “impedimento para o progresso”.

O participante no Sínodo especial foi galardoado, na primeira década deste século, com os prémios ‘Right Livelihood Award’ e ‘Verde das Américas’, pelo seu trabalho em favor dos direitos humanos – que lhe valeu ameaças de morte.

Em relação à possibilidade de ordenação sacerdotal de homens casados, o responsável sublinhou que, nalgumas comunidades amazónicas, a Eucaristia dominical é celebrar “uma, duas, três vezes ao ano”.

“Esse povo está praticamente excluído do contexto da Igreja Católica”, lamentou.

D. Erwin Kräutler assinalou que, na Amazónia, é preciso “questionar quais são as possibilidades” de ordenação sacerdotal, sem colocar “o celibato acima da Eucaristia”.

O bispo austríaco recordou ainda que “dois terços destas comunidades sem padre são dirigidas por mulheres”.

“Eu estou a pensar, em sonhar com o diaconado feminino”, admitiu.

Na síntese das intervenções, que decorrem à porta fechada, o portal ‘Vatican News’ sublinha que os participantes têm repetido a necessidade de um “maior envolvimento dos leigos com a criação de novos ministérios que respondam às necessidades dos povos amazónicos”.

Em cima da mesa está também a “ideia de instituir um ministério laical feminino para a evangelização”.

Na reunião desta manhã foi feita uma oração especial pela “difícil situação” no Equador, a viver uma crise política.

OC

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