Sínodo 2019: Bispo defende exame de consciência sobre «pecados ecológicos»

Trabalhos entram em nova fase, com debates em grupos para projetar documento final

Cidade do Vaticano, 11 out 2019 (Ecclesia) – O arcebispo brasileiro D. Pedro Brito Guimarães, da Diocese de Palmas (Brasil), alertou hoje no Vaticano para os “pecados ecológicos” que exigem um “exame de consciência” por parte dos católicos.

“Estamos a fazer uma coisa muito séria: pecando contra o Criador”, declarou o responsável, que participa no Sínodo especial para a Amazónia, em conferência de imprensa.

Para D. Pedro Brito Guimarães, muitos professam a fé no Deus criador, que faz parte do Credo cristão, mas essa dimensão acaba por esta ausente no seu “dia a dia”.

“A gente não confessa os pecados que comete contra a natureza”, acrescentou.

A defesa do meio ambiente não é questão de um partido verde, de uma ONG, de alguém que se encantou… É uma questão vital”.

Responsável pela arquidiocese do centro geodésico do Brasil, no Estado de Tocantins, o arcebispo de Palmas falou no Vaticano de um território marcado pela produção maciça de soja e o “grande poder do agronegócio”, com “quilómetros e quilómetros devastados”.

D. Pedro Brito Guimarães apelou a um estilo de vida “mais simples, mais coerente”, para viver “mais do essencial”, num mundo em que “tudo o que existe está interligado”

“A carne que se come na Europa, EUA, na China, certamente vem dessa região”, exemplificou.

Durante as reuniões iniciais do Sínodo dos Bispos, foi proposta a divulgação de uma carta teológica que inclua os referidos “pecados ecológicos”.

Com os jornalistas esteve também D. Joaquín Pertíñez Fernández, bispo de Rio Branco (Brasil), uma diocese com 105 mil km2 – maior do que Portugal continental – e dois fusos horários.

O responsável católico falou numa “terra de mártires, onde muito sangue foi derramado”, como o padre Ezequias Ramin, missionário que foi assassinado na Amazónia em 1985, aos 32 anos, ou o ativista Chico Mendes.

O bispo de Rio Branco apresentou o seringal do Acre, a exploração da borracha, como um “lugar teológico do sofrimento humano”.

“É uma história muito triste, muito cruel”, advertiu.

Já o cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México e membro do Conselho pré-Sinodal, falou numa assembleia “local e global”, porque diz respeito a todo o planeta.

“É indispensável mudar o estilo de vida da nossa sociedade”, apontou.

A irmã Birgit Weiler, especialista em temas de pastoral social e educação multicultural que colabora com a Conferência Episcopal Peruana, disse aos jornalistas que se vive uma “situação dramática na Amazónia”, na qual se exige uma Igreja profética em “defesa das populações mais indefesas”.

A professora de teologia considerou necessário “passar de uma pastoral de visita para uma pastoral de presença”, por parte da Igreja Católica, defendendo “mais espaço para mulheres em posições de liderança e ministérios”.

Questionado sobre o papel das mulheres nesta assembleia, a irmã Birgit Weiler desejou que se chegue ao momento em que as representantes dos Institutos Religiosos femininos tenham direito a voto, na assembleia sinodal, como acontece com os institutos masculinos.

O Sínodo especial para a Amazónia decorreu, nos últimos dias, em trabalhos de grupos – os chamados “círculos menores” – em várias línguas, incluindo o português.

Este sábado regressam as reuniões gerais, que decorrem até terça-feira, antes da apresentação das propostas dos grupos de trabalhos à Secretaria Geral do Sínodo e do processo de elaboração do projeto de Documento Final, que será apresentado a 21 de outubro.

O Vaticano anunciou hoje que a 27ª edição do Concerto de Natal, a 14 de dezembro, vai associar-se à atenção pela região amazónia, destinando receitas a projetos pela preservação da floresta e dos povos indígenas.

OC

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