Sínodo 2012: Apresentado documento de trabalho

Texto base da próxima reunião magna dos bispos católicos alerta para «mentalidade hedonista e consumista»

Cidade do Vaticano, 19 jun 2012 (Ecclesia) – O Vaticano destacou hoje a “dinâmica secularizadora” nas sociedades ocidentais, considerando que a mesma deixou marcas “substanciais” em países de tradição cristã e no seu “cenário de fundo cultural”.

A posição é assumida no instrumento de trabalho (instrumentum laboris) da 13ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, divulgado esta manhã, em conferência de imprensa.

“A ‘morte de Deus’ anunciada nos decénios passados por tantos intelectuais deu lugar a uma estéril mentalidade hedonista e consumista, que conduz a formas muito superficiais de afrontar a vida e as responsabilidades”, assinala ainda o documento.

Ao longo do texto são analisados sete cenários: cultural, migratório, económico, político, pesquisa científica e tecnológica, comunicativo e religioso.

Reunindo contributos de bispos e religiosos de todo o mundo, o documento de trabalho refere que o “sentimento geral é de preocupação” e que as respostas recolhidas “dão a impressão que muitas comunidades cristãs ainda não perceberam plenamente o alcance do desafio e a natureza da crise gerada por este ambiente cultural também no interior da Igreja”.

Para a Santa Sé, as sociedades atuais reduzem progressivamente a ética e a política “a instrumentos de espetáculo”, levando à “chamada cultura do efémero, do imediato, da aparência”, a uma sociedade “privada de memória e de futuro”.

A próxima assembleia sinodal, que vai decorrer entre 7 e 28 de outubro, é dedicada ao tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé cristã’.

O texto base do Sínodo 2012 fala no risco “real” de se perderem “os elementos fundamentais da fé”, frisando que a secularização se apresenta “através da imagem positiva da libertação, da possibilidade de imaginar a vida do mundo e da humanidade sem referência à transcendência”.

“A influência deste clima secularizado no quotidiano torna cada vez mais difícil a afirmação da existência de uma verdade. Assiste-se a uma recusa prática da questão de Deus nas perguntas que o ser humano se coloca”, pode ler-se.

Nesse contexto, o instrumento de trabalho observa que nos últimos anos “não se verifica tanto a forma pública dos discursos diretos e agressivos contra Deus, a religião e o cristianismo, embora, nalguns momentos, esta tonalidade anticristã, antirreligiosa e anticlerical também se tenha feito sentir recentemente”.

“As respostas à necessidade religiosa assumem formas de espiritualidade individualista ou formas de neopaganismo, ao ponto de se impor um ambiente geral de relativismo”, acrescenta o documento, disponibilizado em oito línguas, incluindo o português, através da página do Vaticano na internet.

Os responsáveis da Santa Sé referem que as transformações sociais das últimas décadas “desencadearam processos de revisão e de crítica dos valores e de alguns fundamentos do viver comum que têm afetado profundamente a fé das pessoas”.

“Assiste-se ao debilitamento e à perda do valor objetivo das experiências profundamente humanas, tais como a reflexão e o silêncio; observa-se uma excessiva afirmação do pensamento individual”, indica o texto.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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