Singeverga, entre as preces e o licor

«Ora et labora» («reza e trabalha») é síntese de vida religiosa que perdura desde o século VI

Lisboa, 03 Fev (Ecclesia) – «Ora et labora», reza e trabalha: a síntese proposta há 1500 anos por São Bento continua a marcar a vida diária dos 36 religiosos do Mosteiro de Singeverga, distrito e diocese do Porto.

“Ser beneditino é viver para Deus e trabalhar, porque nós somos activos na contemplação”, explica à ECCLESIA o monge Geraldo Coelho Dias, que actualmente habita a abadia localizada na região de Santo Tirso, 350 km a norte de Lisboa.

“Em Singeverga há um monge que guia o tractor, há um monge que trata das abelhas, há um monge que encaderna livros”, assinala o religioso que entrou pela primeira vez no mosteiro há 65 anos.

A sustentação económica é uma das preocupações das comunidades monásticas: “Os mosteiros, para terem um mínimo de rendimentos com que se bastem, têm de inventar sistemas”, sublinha Geraldo Dias, que dá como exemplo o “célebre licor” produzido em Singeverga, “caro, porque tem especiarias e coisas realmente notáveis”.

“O beneditino tem de viver do trabalho das suas mãos ou da sua cabeça”, sempre “em nome da obediência”, afirma o monge, que foi enviado pelo seu superior para Roma e Jerusalém, onde concluiu a formação em Teologia, Sagrada Escritura e História.

Os tempos de oração dão sentido e regulam a existência dos religiosos: “Levantamo-nos às seis e meia e às sete horas rezamos as Laudes, começando o dia com uma hora de louvor a Deus”, descreve Geraldo Dias.

A Liturgia das Horas, conjunto de orações que a Igreja Católica propõe aos fiéis, e que os religiosos se comprometem a cumprir, prossegue ao meio-dia e é retomada ao entardecer com as Vésperas, que em Singeverga são sempre cantadas, à semelhança da missa.

Os períodos dedicados à reflexão espiritual abrangem ainda as Matinas (oração de meditação) e a Lectio divina, esquema de contemplação com vista à acção baseado na leitura da Bíblia.

“Ser beneditino hoje parece uma coisa de há muitos séculos. Mas na verdade São Bento escreveu uma regra que tem uma grande actualidade porque é muito flexível” e “adapta-se com muita facilidade às mudanças dos tempos”, assinala.

Em 1951, Geraldo Dias fez votos de pobreza, castidade e obediência, ligando-se definitivamente à Ordem de São Bento.

“Os monges devem ser pobres e nós vivemos do ‘se me dão’ e do ‘se me permite’: “O ‘se me dão’ são as famílias e os amigos, e o ‘se me permite’ é o superior que nos dá licença de ter as coisas”, refere o monge para exemplificar o sentido do compromisso assumido pelos consagrados.

A entrevista a Geraldo Dias, que vai hoje para o ar às 20h30 na Antena 1 (e não às 22h45, como é habitual de Segunda a Sexta-feira), enquadra-se num conjunto de programas dedicados à Semana do Consagrado (30 de Janeiro e 6 de Fevereiro), que podem ser escutados e descarregados na Internet depois de emitidos na rádio.

PRE/RM

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