Simpósio de encerramento do Ano Paulino em Coimbra

As celebrações em torno do Ano Paulino, que encerra no próximo dia 29 de Junho, superaram as expectativas, segundo D. Albino Cleto. O Bispo de Coimbra, no encerramento deste marco anual na diocese recordou algumas actividades, nomeadamente a passagem do ícone de S. Paulo por diversas paróquias, as peregrinações diocesanas nos caminhos de S. Paulo, as várias reflexões paulinas organizadas pelas paróquias, pelo ISET, pela Pastoral do Ensino Superior.

Agora, no Ano Sacerdotal, que brevemente se inicia, o Bispo de Coimbra pretende ir ao encontro do diálogo com a cultura.

Perante uma centena de participantes num simpósio sobre S. Paulo, organizado pela Diocese de Coimbra no passado dia 6 de Junho, D. Albino Cleto pediu que "tudo aquilo que aprendemos ao longo do ano sobre S. Paulo não fique apenas na nossa memória, mas que possamos colocar em prática todos esses ensinamentos".

Este simpósio serviu também para comemorar o Dia da Igreja Diocesana, que normalmente é comemorado no primeiro Domingo de Junho, mas devido às eleições europeias, foi antecipado para o dia 6.

O encontro acolheu ao longo do dia vários especialistas na matéria que procuraram reflectir sobre o tema «S. Paulo e os caminhos de Evangelização para o Mundo de hoje».

José Carlos Carvalho da Universidade Católica Portuguesa do Porto na sua reflexão sobre "S. Paulo perante a cultura do seu tempo", disse que a Igreja hoje ainda tem muitas semelhanças com a época de S. Paulo. "Os cidadãos têm à venda vários deuses. Temos supermercados religiosos com muitas ofertas", destacou o conferencista. José Carlos Carvalho diz que a Igreja tem que saber ir contra a corrente, à semelhança de Paulo, contradizendo o idealismo do Império Romano. Apesar dos diferentes tipos de religião, de culturas e de costumes, é necessário saber anunciar o Salvador. À semelhança de Paulo que soube muito bem usar a retórica, com conhecimento profundo das sagradas escrituras e do cristianismo, também hoje a Igreja tem que saber falar ao mundo.

Também Juan Ambrósio, docente da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa referiu que "Paulo aprendeu com os melhores mestres a arte da retórica, utilizando os argumentos dos seus adversários para propor a sua doutrina". Paulo estudou os textos judaicos, as suas leis e os seus costumes em Jerusalém, tendo sido um grande perseguidor dos primeiros cristãos graças a sua capacidade de argumentação. Para Juan Ambrósio, ele "deitava por terra qualquer cristão". É no célebre episódio do caminho de Damasco que acontece uma profunda transformação de Paulo, sustenta o conferencista. Transformação que não se dá repentinamente por magia ou por milagre, mas sim um processo que vai demorar cerca de três anos, porque teve que aprender a história do cristianismo, explica o teólogo espanhol Juan Ambrósio. Com Paulo, dá-se uma profunda transformação naquilo que chamamos hoje Igreja, não na constituição de comunidades, mas sim de hábitos ou de práticas, dando como exemplo a circuncisão: um gentio que fosse convertido ao cristianismo não tinha que ser circuncisado. Paulo refere-se constantemente na sua pregação e nos seus textos ao episódio de Damasco para legitimar a sua missão, o seu apostolado, refere Juan Ambrósio.

Juan Ambrósio torna-se mais polémico quando afirma que se não tivesse existido a experiência de Damasco não seríamos hoje cristãos, mas sim judeus. "Seríamos apenas uma sensibilidade dentro do judaísmo", afirma. Segundo Juan Ambrósio, "anunciar o Ressuscitado para Paulo era criar comunidades porque a experiência dele em Damasco foi essa". A sua transformação dá-se na comunidade de Damasco. "A vida em comunidade, é o próprio exercício da vida cristã porque não há outra maneira de encontrar o ressuscitado se não criar comunidades", refere o conferencista.

Para Juan Ambrósio, uma coisa é certa, "não há experiência cristã sem comunidades". "Não é a Igreja que tem uma missão, mas sim é a missão que tem uma Igreja". É fundamental perceber isso. Sobre os caminhos de evangelização para o mundo de hoje, o docente da UCP refere que "nós não temos que agradar ao mundo. Temos que ter capacidade para escutar e falar ao mundo de modo a interpelá-lo".

José Carlos Seabra Pereira da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Alexandre Franco de Sá do Instituto Superior de Filosofia da Universidade de Coimbra abordaram a temática sobre os "valores da sociedade e diálogo da fé com a cultura".

Para Seabra Pereira, antigo presidente do CADC, a "fé e a cultura é um encontro de duas realidades que não da mesma ordem". Segundo o docente da FCLUC, "S. Paulo é um bom patrono neste domínio da cultura porque ele interage com diversas culturas". "Ele é um bom patrono também pela exemplaridade, ainda hoje é uma presença fundamental para um cristão que tem de se mover no mundo da cultura", refere o director da revista "Estudos", editada pelo CADC.

Questionando os participantes do simpósio sobre como deveríamos organizar a nossa pastoral da cultura, Seabra Pereira responde que é apresentando uma fé que não escandaliza à maneira de S. Paulo, discutindo opiniões, ideias e não procurar verdades. Seabra Pereira afirma ainda que "devemos apostar numa cristianização no multiculturalismo". Ou seja, os cristãos têm que procurar o diálogo, o confronto ou o bom combate (como dizia Paulo) na cultura se não corremos o risco da nossa religião tornar-se irrelevante, "light" ou invísivel.

Para o filósofo Alexandre Sá, a "fé manifesta-se em obras", na arte, na acção caritativa, etc. Segundo o docente do Instituto Superior de Filosofia, "no seio da Igreja é importante a confrontação, o debate de ideias". Questionando os participantes do simpósio sobre o tempo na era pós-Cristo, Alexandre Sá diz que é um "tempo sem tempo", ou seja, "é um tempo sem lugar, sem radicalização". Alexandre Sá refere que é um tempo problemático para a própria Igreja, o facto de Cristo ter sido crucificado, ressuscitado e agora esperar pela segunda vinda Dele".

O encerramento do simpósio que decorreu com a celebração da Eucaristia, presidida por D. Albino Cleto, referiu que "este tempo sem tempo" é o "tempo de ir e fazer discípulos". Para isso, o Bispo de Coimbra tranquilizou os participantes do simpósio, para não terem medo do confronto. O Ano Sacerdotal que vai agora iniciar-se, o Bispo de Coimbra pretende através dos 12 secretariados da diocese e dos movimentos ir ao encontro da juventude e da família. "«Ide e fazei discípulos» é um apelo para toda a Diocese", afirma D. Albino Cleto. "Ser cristão nos tempos de hoje, exige ser testemunha, apóstolo e não pode ser apenas semeador de supermercados religiosos", salienta o prelado.

D. Albino Cleto vai desafiar no Ano Sacerdotal os catequistas, os movimentos, os institutos, as paróquias para fazerem outros discípulos. Segundo o bispo diocesano, "o objectivo não é aumentar o número de cristãos ou o número daqueles que vão à missa, mas sim fazer cristãos na alegria". Para isso, o prelado irá apostar na formação espiritual, na oração e no diálogo com a cultura.

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