Significado e valor da Eucaristia na vida dos cristãos

Bispo do Funchal fala sobre o Ano da Eucaristia Na Santíssima Eucaristia, anota o Missal Romano, «a Mãe Igreja reconhece com fé firme, acolhe com alegria, celebra e venera com atitude adorante o Sacramento da Redenção, anunciando a morte de Cristo Jesus, proclamando a sua ressurreição, na expectativa da sua vinda na glória, como Senhor e dominador invencível, sacerdote eterno e Rei do Universo, para oferecer à majestade divina infinita do Pai omnipotente o reino de verdade e de vida». Nestas palavras do Prefácio da Solenidade de Cristo Rei, temos uma admirável e resumida doutrina da Santíssima Eucaristia. O Papa João Paulo II, como arquitecto ao serviço do plano divino do mistério eucarístico, durante todo o seu ministério petrino, dedicou uma predilecção especial à Sagrada Eucaristia. Não se pode esquecer o fervor e entusiasmo com que presidia à Solenidade do Corpo de Deus na basílica de São João de Latrão e à procissão, a pé, no meio da comunidade cristã até à basílica de Santa Maria Maior. Ao entardecer da sua vida, quis legar-nos o «Ano da Eucaristia», que foi meditado e antecedido por diversos acontecimentos eclesiais. Seguindo a linha conciliar, a 10 de Junho de 2004 na basílica de São João de Latrão, na Solenidade do Corpo de Deus, falou do Ano da Eucaristia, que foi aberto a 10 de Outubro por ocasião do 48º Congresso Eucarístico Internacional, realizado na cidade mexicana de Guadalajara (10-17 Outubro de 2004). O Ano da Eucaristia será encerrado a 25 de Outubro deste ano 2005 em coincidência com a Assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos que terá lugar no Vaticano de 2 a 29 de Outubro, versando o tema: «A Eucaristia fonte e cume da vida e da missão da Igreja». Com data de 7 de Outubro de 2004, memória de Nossa Senhora do Rosário, o Papa publicou uma carta apostólica intitulada «Mane nobiscum Domine» – Fica connosco Senhor. A carta tem como tema o cap. 24, 13-35 de São Lucas sobre os discípulos de Emaús, que reconheceram Cristo ressuscitado no «partir do pão». O horizonte eclesial e o peso teológico que devem caracterizar o Ano da Eucaristia, já tinha sido indicado na Encíclica publicada em quinta-feira santa, a 17 de Abril de 2003, com o nome «Ecclesia de Eucharistia» (A Igreja vive da Eucaristia). Nesta Encíclica o Papa refere-se a luzes e sombras acerca da actual celebração eucarística. A encíclica tende a suscitar na Igreja «uma grande e grata admiração» perante o «mistério da fé», «o sacramento dos sacramentos». A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, a pedido do Papa na citada encíclica, publicou a 25 de Março de 2004, na Solenidade da Anunciação do Senhor, uma «Instrução sobre algumas coisas que se devem observar e evitar acerca da Santíssima Eucaristia» com o título «Sacramento da Redenção» (Redemptionis Sacramento). A mistagogia, encontro com o mistério de Deus A liturgia é a verdadeira «Opus Dei», Obra de Deus. Na Santíssima Eucaristia, anota o Missal Romano, «a Mãe Igreja reconhece com fé firme, acolhe com alegria, celebra e venera com atitude adorante o Sacramento da Redenção, anunciando a morte de Cristo Jesus, proclamando a sua ressurreição, na expectativa da sua vinda na glória, como Senhor e dominador invencível, sacerdote eterno e Rei do Universo, para oferecer à majestade divina infinita do Pai omnipotente o reino de verdade e de vida». Nestas palavras do Prefácio da Solenidade de Cristo Rei, temos uma admirável e resumida doutrina da Santíssima Eucaristia. A universalidade faz parte do culto cristão. Este não é apenas o encontro da comunidade local. A Eucaristia, como a liturgia cristã, nunca é apenas cerimónia de um determinado grupo ou de uma igreja local. A Eucaristia é a glorificação de Deus, abrange céu e terra, e tudo começou com a cruz e a ressurreição. A liturgia cristã é a liturgia a caminho, a da peregrinação, que tem por finalidade a transformação do mundo, a qual terminará quando Deus for tudo em todos. O Papa, na carta «Mane nobiscum Domine», refere-se a um tema que está estritamente ligado a um aspecto fundamental da vida cristã, a mistagogia, palavra grega muito usada pelos padres da Igreja antiga, tanto do oriente como do ocidente. Mistagogia significa a iniciação nos mistérios religiosos e consistia na catequese ministrada após o baptismo dos neófitos. Esta catequese ajudava a descobrir o valor dos gestos e das palavras da liturgia, ajudando os baptizados a passarem dos sinais ao mistério e a comprometer com ele toda a vida cristã. Mistagogia é portanto a experiência interior de um encontro pessoal com o Mistério de Deus, através dos sinais sensíveis e visíveis do rito sacramental. Escreveu o Cardeal Henri de Lubac que a mistagogia ajuda o homem moderno a colocar-se nos «caminhos de Deus», e «leva a humanidade a encontrar o mistério escondido nos séculos e manifestado em Jesus Cristo» (cfr. Ef, 3, 5-6). A admiração perante o mistério Por quatro vezes o Papa, na encíclica, «Ecclesia de Eucharistia», fala do «enlevo» ou da admiração eucarística, «stupore eucarístico», perante o dom altíssimo deste sacramento. «O cálice que nós abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo?», pergunta São Paulo aos cristãos de Corinto (1Cor. 10,16). A missa não é representação sagrada da Ceia no Cenáculo, ela actualiza, aqui e agora, a morte e a ressurreição do Senhor na esperança da sua vinda futura. Os fiéis devem compenetrar-se desta «admiração» para vivificar a liturgia eucarística do Dia do Senhor, e os sacerdotes devem recordar-se que são presidentes da assembleia eucarística e não funcionários de celebração de várias missas. Todos os domingos a liturgia recorda que Cristo é a nossa festa, que liberta o homem do jugo do trabalho e do ganho. Na liturgia canta-se e recorda-se a vida de Deus e as suas obras a favor da humanidade. Cristo é o Senhor da história, em cada domingo e em cada eucaristia, acontece a Páscoa do Senhor. Funchal, 23 de Janeiro de 2004, D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal

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