Reflexão preparada por famílias da Ucrânia e Rússia – que transportaram a Cruz – foi substituída por momento de silêncio, em oração pela paz
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Roma, 15 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa rezou hoje em Roma pela paz no mundo, apelando à reconciliação entre adversários, no final da Via-Sacra a que presidiu no Coliseu de Roma.
“Fazei que os adversários se deem as mãos, para que saboreiem o perdão recíproco; desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão, para que, onde há ódio, floresça a concórdia”, disse na oração conclusiva, acompanhada no local por 10 mil pessoas e por milhões de pessoas, em todo o mundo, através de transmissões televisivas e online.
“Fazei que não nos comportemos como inimigos da cruz de Cristo, para participar na glória da sua ressurreição”, acrescentou, na tradicional celebração noturna de Sexta-feira Santa, que regressou ao seu cenário habitual, após dois anos de limitações impostas pela pandemia.
Francisco acompanhou a celebração desde um promontório, no Monte Palatino.
A Paixão de Jesus é revivida no Coliseu desde o século XVIII: no Ano Santo de 1750, proclamado pelo Papa Bento XIV, 14 nichos e uma grande cruz foram erguidos neste local; em 19 de setembro de 1756, o anfiteatro foi consagrado à memória da Paixão de Cristo e dos mártires.
A tradição foi interrompida, mas 1959 o Papa João XXIII restaura o rito da Via-Sacra no Coliseu de Roma, retomado por Paulo VI em 1964 – num percurso que passa pelo Anfiteatro Flaviano, os Fóruns Imperiais e o Arco de Constantino.
A interrupção causada pela Covid-19 levou a celebração para a Praça de São Pedro, em 2020 e 2021.
A celebração desta noite acabaria por ficar marcada pela polémica, por causa da guerra no Leste da Europa: na XIII, que evoca a morte de Jesus, a meditação inicialmente preparada em conjunto por duas famílias, da Rússia e da Ucrânia, acabou por não ser lida.
“Perante a morte, o silêncio é mais eloquente do que as palavras. Façamos, por isso, um silêncio orante, e que cada um, no seu coração, reze pela paz no mundo”, disse o leitor que conduzia as reflexões, num convite aos participantes.
De acordo com o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, esta era uma “mudança prevista” e serviu para “limitar o texto ao mínimo”, com o objetivo de que as pessoas pudessem “entregar-se ao silêncio e à oração”.
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A cruz acabaria por ser transportada, como inicialmente previsto, por Irina e Albina, amigas, naturais da Rússia e da Ucrânia, ligadas à área da enfermagem e migrantes na Itália.
“Senhor, onde estais? Falai no silêncio da morte e da divisão e ensinai-nos a fazer a paz, a ser irmãos e irmãs, a reconstruir aquilo que as bombas teriam querido aniquilar”, referia o texto publicado pela Santa Sé, antes da celebração.
A referência a povos irmãos seria contestada por diplomatas e responsáveis cristãos da Ucrânia; a cerimónia acabou por não ser transmitida por vários dos media católicos ucranianos, bem como pelos canais televisivos, em sinal de protesto.
As meditações da Via-Sacra de 2022 foram confiadas pelo Papa a famílias de vários contextos e com diversas experiências de vida: um casal de jovens, uma família em missão, um casal sem filhos, uma família numerosa, uma família com um filho com deficiência, os responsáveis por uma casa-família, por uma família com o pai doente, um casal de avós, uma família adotiva, uma viúva com filhos, uma família com um filho consagrado, uma família que perdeu uma filha e um casal de migrantes da República Democrática do Congo, além de Irina e Albina.
A decisão de convidar diferentes famílias está relacionada com a celebração do ano especial ‘Amoris Laetitia’, que decorre até à celebração do X Encontro Mundial das Famílias, no próximo mês de junho, presidida pelo Papa em Roma com ligação às dioceses dos cinco continentes.
OC
Ucrânia: Enviado do Papa presidiu a Via-Sacra junto de vala comum