Seminários e Eucaristia

A Igreja Católica em Portugal vive de 7 a 14 de Novembro a Semana dos Seminários Optou-se este ano por dar como tema à Semana dos Seminários as palavras pronunciadas por Jesus há dois mil anos: «Fazei isto em memória de mim». A razão desta opção decorre da proposta do Papa João Paulo II para que este fosse um ano especialmente dedicado à Eucaristia (Outubro de 2004 a 2005). Há uma ligação irrenunciável e um lugar inquestionável para a Eucaristia na vida dos Seminários, enquanto comunidades eclesiais, mas sobretudo como comunidades educativas onde se forja a identidade sacerdotal daqueles que darão continuidade in persona Christi (1) a este mandato. Pareceu, se outras razões não houvesse, não poder deixar de dar ênfase a esta ligação essencial entre Seminários e Eucaristia e ver aqui o ponto de partida para dar cumprimento aos objectivos desta semana (7 a 14 de Novembro). 1. O seminário deve estar no coração de todos, sem ele não teremos sacerdotes e sem sacerdotes eucaristia «Fazei isto em memória de mim»: na força desta expressão/ordem está contida uma memória e promessa real e por isso mesmo também um objectivo vocacional real: a necessidade de sacerdotes que pela celebração da eucaristia tornarão presente Jesus, a sua obra, sobretudo a sua morte redentora e a sua ressurreição (2). «Fazei isto em memória de mim» significa que o sacramento remonta ao próprio Cristo, mas foi confiado por Jesus aos Apóstolos e depois transmitido por eles e seus sucessores até nós. É em continuidade com a acção dos Apóstolos e obedecendo ao mandato do Senhor que a Igreja celebra a Eucaristia (3). A assembleia que se reúne para a celebração da Eucaristia necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a ela presida, para poder ser verdadeiramente uma assembleia eucarística. 2. A eucaristia é a fonte de onde brotam as vocações e o empenhamento de toda a comunidade Os jovens gostam que os chamemos a uma vida de heroísmo. Isto faz parte da condição humana de hoje e de sempre. É importante transmitir sem ambiguidades o conceito de que o sacerdote é ícone do sacerdócio de Cristo. Os sacerdotes são imprescindíveis na transmissão dessa radical condição do seu próprio seguimento de Cristo. É necessário que levem muito a sério o seu papel de buscadores de vocações e que convidem os jovens a reunir-se consigo, a reflectir as possibilidades do sacerdócio. E porque a proposta desta vocação não é da exclusividade pessoal do sacerdote, nesta acção deve comprometer-se toda a comunidade que assim exerce uma mediação própria e insubstituível. Por outro lado, uma paróquia viva é uma comunidade eucarística: «Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima Eucaristia, a partir da qual, portanto, deve começar toda a educação do espírito comunitário» (4). Por conseguinte, a planificação e a realização dos programas pastorais deve começar e passar realmente pela Eucaristia celebrada e contemplada na adoração, a fim de produzir frutos, particularmente no campo vocacional (5). 3. O seminário vive da Eucaristia Os Seminários antes de serem um espaço físico são um lugar espiritual privilegiado para o encontro com o Senhor. Aí, como outrora com os discípulos de Emaús, Ele faz-se novamente presente, explica as Escrituras, abrasa o coração e ilumina a mente, abre os olhos e se faz reconhecer (cf. Lc 24, 13-35) de um modo muito especial na Eucaristia, celebrada e adorada todos os dias, como fonte e cume da vida comunitária e individual. A Eucaristia, memorial do sacrifício do Senhor, plasma interiormente a entrega da própria existência até à entrega total de si e à conformação com Cristo Sacerdote pelo Sacramento da Ordem, assim como estrutura de modo eucarístico o próprio projecto de vida comunitária do Seminário. Em conclusão, a pastoral das vocações sacerdotais é chamada a descobrir a sua centralidade na Eucaristia. «Primeiro, porque a oração pelas vocações encontra nela o lugar de maior união com a oração de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote; e, depois, porque a solícita atenção dos sacerdotes pelo ministério eucarístico, juntamente com a promoção da participação consciente, activa e frutuosa dos fiéis na Eucaristia, constituem exemplo eficaz e estímulo para uma resposta generosa dos jovens ao apelo de Deus» (6). «Cada fiel torna-se educador de vocações sem ter receio de propor escolhas radicais; cada comunidade compreenda a centralidade da Eucaristia e a necessidade de ministros do Sacrifício eucarístico; de todo o povo de Deus se eleve, mais intensa e apaixonada, a oração ao Dono da messe, a fim de que mande operários para a sua messe» (7). Peçamos à Virgem Maria, «mulher eucarística», para que faça crescer, no Ano da Eucaristia, todas as comunidades na fé e no amor ao mistério do Corpo e do Sangue do Senhor e no apreço pelo dom do sacerdócio. (1) Cf. João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 29. (2) Cfr. Idem. (3) Cfr. Idem, 27. (4) Decreto sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes Presbyterorum ordinis, 6. (5) Cfr. 48.° Congresso Eucarístico Internacional (10 a 17 de Outubro de 2004): A Eucaristia, Luz e Vida do Novo Milénio (Texto-base da Arquidiocese de Guadalajara, México). (6) Cfr. Ecclesia de Eucharistia, 31; cfr. Conferência Episcopal Portuguesa, Bases para a Pastoral Vocacional (22 de Abril de 2004), 25. (7) João Paulo II, Mensagem para o XXXVII Dia Mundial de Oração pelas Vocações. D. Gilberto Reis, presidente da Comissão Episcopal do Clero, Seminários e Vocações

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