Semana Santa florida no Sardoal

Força das tradições perpetua-se de pais para filhos, renova-se de geração em geração. Resiste ao tempo e às mudanças sociais Depois da quarta-feira de Cinzas, terminadas as folias e palhaçadas carnavalescas e lembrada aos fiéis, com tal rito litúrgico, quer a precariedade da vida e a presença da morte, quer anunciada já a preparação para uma vivência da Paixão. Morte e Ressurreição de Cristo, celebra-se um ofício religioso no segundo sábado antes do Domingo de Ramos (15 de Março), pelas almas dos defuntos da Paróquia e sermão sobre o tema circunstancial da morte e da verdadeira vida que nos espera. Grande afluência de fiéis se abeira desse sacramento em ordem à preparação espiritual que exige o mistério pascal. As cerimónias religiosas de grande impacto e devoção ocorrem já no último Domingo da Quaresma ( 9 de Março), com a Celebração Eucarística às 16 horas, seguindo-se a célebre Procissão dos Passos do Senhor, com o sermão do encontro em plena praça do Pelourinho e o sermão do Calvário, no alto da Vila. No domingo anterior ao da Páscoa (16 de Março) realiza-se, segundo a liturgia, a bênção e Procissão de Ramos, que começa junto à capela do Espírito Santo (11h,45m), dirigindo-se para a Igreja Matriz, onde ocorre às 12h00 a celebração da Eucaristia, com a homilia feita pelo Pároco. É esta uma afirmação pública e solene, a lembrar a entrada festival triunfal de Cristo na cidade santa de Jerusalém. Na segunda, terça e quarta-feiras – não há qualquer acto litúrgico, pois é tempo de silêncio e intimidade na meditação do grande mistério pascal (tríduo Pascal), que se segue na 5.ª feira (20 de Março) pelas 20h00 com a Eucaristia da Ceia do Senhor, cerimónia do Lava-Pés e a adoração do Santíssimo Sacramento no altar de reserva, assim denominado para a comunhão dos doentes. Por fim despem-se os altares das suas toalhas, símbolo da morte do Senhor, que acontecerá no dia seguinte. Pelas 21h30m realizar-se-á a procissão do Senhor da Misericórdia (ou fogaréus), ou ainda (iluminárias). É sem dúvida a manifestação religiosa de maior relevo e impacto pela multidão de pessoas que nela participam e pelo ambiente que convida ao silêncio e à espiritualidade. Sai esta procissão da Igreja da Misericórdia, com todos os irmãos da confraria Vera-Cruz vestidos de opas pretas, transportando uns, lanternas, outros, os painéis com imagens que representam cenas da Paixão. A vila prepara-se especialmente para esta procissão, a mais espectacular, iluminando com pequenas lanternas colocadas nas janelas, varandas e sacadas, por onde passa a procissão. As luzes da rede pública são totalmente desligadas e a multidão dos participantes, empunhando as suas velas, cria um ambiente de misticismo e de unção religiosa. Igualmente os membros da confraria da Vera Cruz hasteando ricos painéis da Paixão de Cristo e grandes archotes, a que chamam pela sua antiguidade “fogaréus”. A Filarmónica União Sardoalense entoa marchas fúnebres e acompanha com os seus afinados acordes uma música que realça o doloroso sentimento dos seus participantes. Por fim, no Convento de Nossa Senhora da Caridade o sacerdote sobe ao púlpito para fazer o sermão do Mandato, isto é, sobre o mandamento do Amor, que realça o mesmo amor, bem patente na imagem de Cristo sofredor e dos que estão vivendo esta hora alta da Semana Santa. Dia 21 de Março (sexta-feira Santa) não havendo celebração da Eucaristia. como exige a liturgia, mas somente a comunhão dos fiéis, segue-se na Igreja Matriz a celebração da Paixão e Morte do Senhor, com leituras do A.T e do N.T, sobretudo das Epístolas e do Evangelho respeitante à Paixão de Cristo. Igualmente, pelo Presidente da Assembleia são lidas ou cantadas diversas orações por várias intenções. Feita a adoração da Cruz, inicia-se a procissão do Enterro do Senhor, em que participam as duas irmandades – Vera Cruz e do Santíssimo Sacramento. No fim da mesma haverá o Sermão da Soledade. Sábado Santo ( 22 de Março), cerca das 22h00 começará a vigília Pascal , que consta de duas partes: Uma primeira em que se realiza o Rito da Luz (Bênção do Lume Novo), a liturgia da Palavra e o Rito da Bênção da Água, que no caso de haver baptismos, o que será de desejar, ser já utilizada e depois a renovação das promessas do baptismo por todos os presentes. Na segunda parte, será então a Santa Missa com a máxima solenidade da Ressurreição do Senhor. Domingo de Páscoa (23 de Março), às 11h30, inicia-se a procissão da Páscoa da Ressurreição, cujo itinerário é o mais curto de todos os outros já referidos. Pretende-se manifestar com esta procissão a exuberante alegria pelo triunfo de Cristo Ressuscitado, presente na Hóstia Consagrada. As ruas são atapetadas com flores e verduras e nas janelas de muitas casas são penduradas as cochas mais ricas e bonitas, criando assim um ambiente solene e festivo. Finalmente uma nota sobre o ambiente desta Vila -Jardim, que merece este epíteto, pois as ruas por onde passam as procissões são todas atapetadas com verduras e pétalas multicolores e naturais que deslumbram e encantam pela sua beleza e pela sua criatividade artística. Igualmente as capelas, que não são poucas, estão abertas durante o tríduo pascal que se encontram enfeitadas no chão com desenhos, à base das mesmas pétalas e flores, de verduras de rara beleza artística e de devoção. A Semana Santa de Sardoal é uma profunda e sentida manifestação de Fé, que tem alcançado nos últimos anos valores religiosos e culturais e que não se deve à obra de acaso, mas sim à colaboração de todos e à boa articulação entre as Entidades intervenientes, nomeadamente a Câmara Municipal. A força das tradições perpetua-se de pais para filhos, renova-se de geração em geração. Resiste ao tempo e às mudanças sociais. Torna-se História! Torna-se Cultura! Pe. Manuel André Pinheiro, Pároco do Sardoal

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