Saúde: Cancro, uma batalha cada vez menos escondida

Tecnologia, espiritualidade e sofrimento cruzam histórias de coragem e de luta

Lisboa, 08 Fev (Ecclesia) – A luta contra o cancro é cada vez menos uma batalha escondida no canto de um laboratório ou na sala de um hospital, ultrapassando a dimensão física do sofrimento, como revelam doentes e investigadores.

“Nós somos um todo, matéria e espírito. Se tivermos boa disposição, se não nos agarrarmos à nossa doença mas nos agarrarmos à vida, com esperança, com fé, mais facilmente se leva a vida” defende o padre franciscano Joaquim Carreira das Neves.

Na última emissão do programa «70×7», na RTP2, o biblista conta como a fé o tem ajudado na luta contra o cancro, através da oração e contando com a intercessão do irmão, já falecido.

“Quando eu tenho as minhas dificuldades, e são muitas, quando eu estou para morrer, e já estive para morrer várias vezes, eu falo com ele, e ele lá fala com o Pai do Céu, e isto vai-se resolvendo” realça o sacerdote.

Autor de várias obras literárias ligadas aos estudos bíblicos – entre as quais «As Grandes Figuras da Bíblia» – o frei Joaquim Carreira das Neves considera que o principal remédio é mesmo “estar sempre ocupado com qualquer coisa, que nos dê a esperança de vida”.

[[v,d,1792,]]Uma opinião partilhada por Florindo Cardoso, “um homem renascido” desde que venceu a luta contra um tumor, diagnosticado em Fevereiro de 2009.

“Parece que é preciso um abanão na nossa estrutura toda, para nós termos a percepção do que é importante na nossa vida. E foi preciso este abanão, muito forte, para eu aprender de facto a valorizar sobretudo o que eu gosto”, explica o jornalista, que deve à força de vontade, à família e aos amigos nunca ter entrado em desespero.

“Houve alturas muito difíceis, de muita dor e sofrimento. E hoje orgulho-me de não ter ido abaixo, também porque tive um apoio extraordinário da minha família, da minha mãe e das minhas irmãs, e de dois ou três amigos essenciais”, aponta.

Mariana Pinto viveu duas vezes o drama o cancro: além de estar a lutar contra a doença, viu a maleita atingir um dos filhos.

“Se fugimos à realidade, perdemos a surpresa e perdemos o momento, porque só existe o momento presente”, alerta a arquitecta paisagista, chamando a atenção para a importância dos doentes não se fecharem no seu mundo, mas darem espaço aos outros para ajudar.

O mesmo se passa, segundo Mariana Pinto, na relação da paciente com Deus: “Ele não me livra disto, não pode, mas pode actuar em mim, se eu deixar, e aí é que pode acontecer um milagre”.

Há cada vez mais a consciência de que, mais do que no desenvolvimento tecnológico ou na busca de novos fármacos para actuar no cancro, o segredo está no tipo de relação que é estabelecida com os doentes, dando-lhes armas para se agarrarem à vida.

Na ciência, o exemplo vem do Centro de Investigação Champalimaud, um projecto virado para a busca de soluções, na área das doenças oncológicas, e que vai entrar em funcionamento já em Abril, na zona de Belém, em Lisboa.

“As pessoas tendem a ver a ciência como um espaço asséptico, de altas tecnologias, onde a dimensão humana talvez não tenha lugar. Isso não é assim e, aqui, não será assim com certeza” sublinha Roque Cunha Ferreira, da Fundação Champalimaud, responsável por este projecto.

Orçada em 100 milhões de euros, a estrutura está preparada para acolher cerca de 300 cientistas, com um objectivo bem definido: fazer da proximidade entre o investigador e o doente a principal mais-valia.

70×7/JCP

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