Sardoal prepara-se para o Tríduo Pascal

A celebração da Semana Santa no concelho do Sardoal, nos arredores de Abrantes, são marcadas pela cor e o cheiro das flores, cuja presença nas igrejas é quase nula, durante a Quaresma. A partir de Quinta-feira Santa, até Domingo de Páscoa, o chão das Capelas do Sardoal (S. Sebastião, Senhor dos Remédios, Sant’Ana, Santa Catarina, Nossa Senhora do Carmo e Espírito Santo) e da Igreja da Misericórdia, vai estar enfeitado com tapetes feitos à base de pétalas de flores e verduras naturais, sendo completados com acessórios e artefactos alusivos à Semana Santa e Páscoa. Tradição popular que se julga ser única no país, remonta a tempos muito antigos, sabendo-se que já existia no século XIX, altura em que atingiu momentos de grande esplendor, factos confirmados pela leitura dos jornais da época. As tarefas de decoração das Capelas têm lugar na noite de Quarta-feira e prolongam-se pela noite fora, envolvendo cristãos e não-cristãos, agnósticos, não-praticantes, jovens e gente de todas as idades. Ao longo de toda a Vila os habitantes e todos os que por lá passam são confrontados com autênticas obras-primas da religiosidade popular. As festas religiosas no Sardoal assumem, há muito tempo, uma grande importância no quotidiano dos habitantes deste concelho. Perdem-se nas brumas do tempo e no passado das memórias, as profundas tradições de Fé e Religiosidade das gentes do Concelho. Nesta ocasião, a Vila ganha uma ambiência especial, sobretudo quando se realiza a Procissão dos Passos do Senhor, de grande simbolismo e imponência, com o Sermão do Encontro, em plena Praça da República. A Vila prepara-se especialmente para estas celebrações, que têm um percurso bastante particular pelo seu Centro Histórico, a que as ruas estreitas e pavimentadas com seixos do rio, dão um cunho original e característico. Ao longo do percurso existem pequenos nichos nas paredes das casas que, nessa ocasião, servem de altares e que vão marcando os passos de Jesus Cristo. A Procissão do Senhor da Misericórdia (ou dos Fogaréus), na noite de Quinta-feira Santa, efectuada à luz de velas e archotes, confere à terra um cenário de grande misticismo. A electricidade da rede pública é desligada no percurso do Cortejo, e nas janelas das casas, varandas, sacadas e nas escadarias do Convento de Santa Maria da Caridade, são colocadas e acesas mais de seis centenas de lamparinas de azeite e cera, ou lanternas de vidro. “Do meio da negritude, entre as sombras do breu e os recortes fuscos do antigo casario, surge o cortejo de vultos, em passo lento e cadenciado, transportando o fogo da fé, que ilumina, que aquece e purifica. Caminham as almas em profundo silêncio apenas se ouvindo os passos no chão e os acordes dolentes da marcha triste executada pela centenária filarmónica” – é este o ambiente que envolve a procissão do Senhor da Misericórdia (ou Fogaréus) que se realiza na Quinta-feira Santa. Nesta Procissão podem ainda ser apreciados os painéis (provavelmente do século XVIII), pertença da Misericórdia, representando cenas da Paixão de Cristo.

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