São Valentim: 26 anos a preparar «diferentes gerações» no caminho do Matrimónio

Fernanda e Aníbal Carvalho falam da vida de casal e dos novos conceitos de família que vão acompanhando, na preparação de noivos

Foto: Ecclesia/MC

Lisboa, 14 fev 2019 (Ecclesia) – Fernanda e Aníbal Carvalho, casados há 41 anos, preparam noivos até ao Matrimónio, na Igreja Católica, num tempo em que é necessário “acolher” pessoas mais velhas e, muitas vezes, fora do “modelo tradicional de família”.

“As realidades existem, não há que escamotear nem deixar de olhar, temos de acolher tal como são…”, explica Aníbal, em declarações à Agência ECCLESIA.

O casal integra há 26 anos a equipa do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM) da Paróquia de Massamá, no Patriarcado de Lisboa.

“Começamos com noivos que não viviam juntos depois, muito a medo, lá numa sessão mais à frente começaram a dizer que viviam, depois diziam que já tinham filhos… A certa altura apareceu-nos um CPM com seis casais, em que quatro já viviam juntos e alguns já com vários filhos; não estávamos preparados para aquela mudança e precisamos de, em equipa, mudar a nossa postura”, refere Fernanda Carvalho.

O casal sente que esta mudança foi “um grande desafio” e serviu para “crescer em equipa e como casal”.

De um momento para o outro tiraram-nos o tapete… O Papa Francisco veio dar uma ajuda, mas um bocadinho tardiamente porque estes problemas já se colocavam há muito. (Com a sua encíclica ‘Alegria do Amor’) veio confirmar o que, para nós, foi um esteio muito importante e deu-nos uma grande segurança”.

 

Há mais de um quarto de século a preparar noivos para o matrimónio, Aníbal e Fernanda já apanharam “diferentes gerações”, com motivações variadas e realidades diversas.

“Há uma grande diferença, nós casámos com 22 e 25 anos; hoje chegam com 28 ou 30 anos, fisicamente mais idosos, mas tenho dúvidas se mais amadurecidos … Os nossos jovens amadurecem muito devagar, os medos e inseguranças estão patentes e muitos não querem correr o risco do compromisso, querem experiência só”, aponta o professor de Filosofia.

Recentemente foi lançado pela Federação Portuguesa dos Centros de Preparação para o Matrimónio um guia para noivos e famílias, “Caminhada em Matrimónio”, e serve de base para o CPM, que a equipa de Massamá acolheu com agrado.

“Os noivos são levados ao CPM, muitas vezes por meio tradicional, e chegam mal dispostos, sem saber para o que vão…”, destaca Fernanda.

A necessidade de dar “consciência do significado do sacramento do matrimónio” é premente e as alterações colocadas no guia ajudam às sessões.

“Os casais não se questionam e os pequenos problemas que se podem tornar grandes podem gerar depois situações de conflito”, explica.

Recordando o tempo de namoro, Fernanda e Aníbal sabem exatamente que namoraram 35 meses e que o pedido surgiu de forma “bem doce”.

Aníbal “sem muito jeito” pediu namoro à Fernanda através de ‘’um bilhetinho’’ numa caixa de bombons “raros”, após “tempos de muita conversa” e conhecimento mútuo.

Atualmente os jovens namorados têm uma linguagem muito sensorial e falta muito uma linguagem verbal ao nível do entendimento e é muitas vezes o fator de falta de aprofundamento da relação; há muito toque, muita sensibilidade, mas em termos de comunicação verbal é pouco profunda”.

Fernanda, professora universitária e habituada também a lidar com os mais jovens, sente que há facilidades neste novo tempo, mas surgem outros desafios.

“Há muita facilidade de ligação, SMS e todas as outras formas escritas, mas eu escrevo uma SMS com abreviaturas e o editor automático faz todo o trabalho por mim e perde-se o hábito de dizer ‘gosto de ti’, ‘amo-te’, ‘preciso de ti’… Perde-se o cativar!”, sustenta.

Foto: Ecclesia/MC

Ao fim de 41 anos de casados Fernanda e Aníbal Carvalho são rápidos a responder à pergunta: “E ainda namoram?”

“Claro, mal estaríamos se tal não acontecesse… Temos e queremos manter a nossa relação o mais jovem possível, apesar da idade, não temos uma relação velha… Tentamos cuidar da relação, temos tempos de qualidade só para nós, ver como apreciamos o outro, esforçamo-nos… Tentamos equilibrar as situações e acho que esse é um dos trunfos que temos tido para estes quase 42 anos de casados, é uma base comum, o respeito”, diz Fernanda.

“Mas há uma coisa que fazemos questão: o projeto é comum e por isso mesmo quando não concordamos, somos solidários um com o outro”, conclui Aníbal.

Este testemunho está no centro da emissão do programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, desde segunda a sexta-feira desta semana, pelas 22h45.

SN/OC

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