São Paulo desafia os cristãos de hoje

A renovação e as reformas fazem parte da vida da Igreja, consoante a mentalidade e a cultura de cada época. A reflexão sobre o património teológico “implica sempre um movimento de refontalização, refrescamento nas origens, para que também a Igreja seja mais porosa aos sinais dos tempos”. A afirmação é do Pe. Tolentino Mendonça, orador convidado das Jornadas de actualização para o clero, leigos e religiosos madeirenses sobre São Paulo. Com base no Ano Paulino e no recente Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, decorrem desde ontem no Funchal Jornadas de actualização para sacerdotes, leigos e religiosos, sob o tema genérico “da comunidade à Palavra e da Palavra à comunidade”. Falando no início aos jornalistas, D. António Carrilho destacou esta iniciativa diocesana como “uma necessidade constante da nossa própria actualização – bispo, padres e todos os agentes da pastoral. Precisamos de viver ao ritmo da Igreja, de nos integrarmos cada vez mais nas exigências da sua missão. Por isso, a nossa reciclagem, o aprofundamento dos nossos conhecimentos e a preocupação de responder às necessidades da Igreja de hoje passa muito por esta questão: a Palavra de Deus hoje na nossa vida e no anúncio que temos de fazer dela. A reciclagem vai versar tudo aquilo que se pode colocar nesta área, numa perspectiva de acção pastoral. Não queremos que a nossa actualização se faça só em questões doutrinais, ou conhecimentos, mas queremos que esse aprofundamento tenha depois o seu reflexo no nosso ministério, na acção pastoral. É isso que desejamos.” Questionado sobre possíveis mudanças que possam advir desta reflexão, o Bispo do Funchal entende que “Temos sempre que procurar aquilo que seja a melhor resposta. É difícil dizer quais são as mudanças. Agora, cada um de nós, para além da reflexão que aqui faz” procurará “ver que implicações têm isto no meu ministério, o que posso fazer de mais e melhor para responder segundo o pensamento da Igreja e as novas propostas. Portanto, as mudanças deverão existir sempre, seja na nossa vida pessoal, seja depois nos reflexos concretos da acção pastoral”. A influência de São Paulo no mundo de hoje A Igreja Católica está a comemorar dois mil anos do nascimento de São Paulo “como um grande desafio para a sua própria actualidade, tentando encontrar caminhos e linguagens”, disse à comunicação social o Pe. Doutor Tolentino Mendonça, conferencista convidado destas Jornadas de actualização. “Quando se revisita um personagem como São Paulo há dois elementos importantes: por um lado, aprender do seu próprio percurso biográfico. Paulo é uma grande surpresa para quem o lê porque é um homem que fala na primeira pessoa do singular, e assim assume assim o cristianismo. E o eu, a dimensão pessoal de alguém que se apaixona pelo projecto cristão penso que é um grande antídoto contra todas as formas de massificação”, afirmou. “Não somos cristãos apenas porque os outros foram noutras gerações; somos porque nós próprios descobrimos hoje o significado e a pertinência da mensagem de Jesus de Nazaré.” A figura de São Paulo é ainda exemplo para o nosso tempo no sentido em que ele “foi o inventor da Europa” “Paulo fez do cristianismo mais do que uma ideologia, um repositório teológico; fez do cristianismo uma tomada de posição”. O seu discurso “é de ruptura com os modelos tipicamente judaicos, helénicos, romanos, e dali ressalta a grande novidade cristã, como uma síntese cultural nova”. Para muitos pensadores da actualidade, fora da esfera eclesial, “Paulo foi o inventor da Europa, porque este património genético de liberdade, de reconhecimento, da universalidade dos direitos da pessoa humana é alguma coisa que começa a germinar precisamente nas suas Cartas”, lembrou o Pe. Tolentino Mendonça.

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