Santuário de Fátima celebrou a solenidade da Santíssima Trindade

Este Domingo, 3 de Junho, a Eucaristia Dominical foi presidida por D. Augusto César, Bispo Emérito de Portalegre-Castelo Branco. Durante a homilia, o prelado evidenciou que o mistério da Santíssima Trindade, celebrado pela Igreja, inspira aquilo que somos: Família. Para além dos inúmeros fiéis que individualmente ou em família participaram nesta Eucaristia, procederam à inscrição no Serviço de Peregrinos do Santuário de Fátima 24 grupos organizados: 5 grupos de Espanha, 1 das Filipinas, 2 da Irlanda, 3 de Itália e 13 de Portugal, entre os quais, o Grupo da Família Redentorista, com 3500 peregrinos, e o da Família Dehoniana, com 6000 peregrinos. Também os antigos árbitros de futebol nacional e suas famílias, num total de 250 pessoas, participaram nesta Eucaristia, incluindo-se nos 24 grupos que esta manhã estiveram no recinto do Santuário de Fátima. Esta peregrinação, inserida no 13.º Convívio do Núcleo dos Antigos Árbitros de Futebol, teve a intenção da oração em memória dos antigos árbitros e familiares já falecidos. Santíssima Trindade: Um caminho a descobrir O mistério da Santíssima Trindade, que hoje celebramos, foi revelado, plenamente, por Jesus Cristo. E, a partir daí, a fé adquiriu um sabor novo, urna vez que o nome de Deus passou a ser assim: Pai, Filho, Espírito Santo! Trata-se dum nome em relação, que nos atrai à confiança e nos inspira o que somos: família! Mas vai mais longe, quando rezamos o Pai Nosso: pois, dizendo desse modo, sentimo-nos também família de Deus, uma vez que Jesus Cristo nos introduz nesse movimento de amor e confiança e segreda o que mais tarde ensinará: onde Eu estiver, vós estareis também! Ficamos, então, a saber que ser pai ou mãe, filho ou filha, irmão ou irmã, à maneira humana é, por assim dizer, urna ressonância do que Deus é: Amor! E o modo como nos devemos relacionar uns com os outros e com Deus, deve passar por aí. Por isso, Bento XVI ensina que o amor do coração (o amor humano que nós experimentamos), é sinal do ‘mais’ de Deus e expressão do que Ele disse, no começo: Façamos o homem à Nossa Imagem e semelhança. Ao inverso, o pecado afasta-nos desse horizonte de esperança e sugere egoísmo, ganância e violência; podendo mesmo levar-nos, como a Judas e a outros ‘judas’ do tempo, até à mediocridade e ao desespero. Foi por isso que o Verbo de Deus se veio revelando discretamente na história do homem, a fim de o iluminar; e chegou mesmo a mostrar-se, na plenitude dos tempos, como ‘Filho do Homem’, a fim de o redimir. E, depois, ocultando-se, de novo, pela Ascensão ao céu, instituiu a Igreja para que ela desse continuidade visível à Sua presença invisível, mediante a acção do Espírito Santo. Quer dizer, Deus veio de tal maneira ao nosso encontro que se tomou, em Jesus Cristo, Deus-connosco ou Emanuel; e pela Igreja (corpo de Cristo, de que Ele é cabeça), adoptou-nos corno filhos e alimenta-nos com o pão do céu (a Eucaristia). Isto é: somos, em Deus, o que somos; e, sem Ele, não somos nada. Mas a respiração da moda, da descrença e do laicismo, tenta encher-nos o peito de ganância, deixando um sabor a medo ou inspirando agressividade. Entretanto, o livro dos Provérbios, embora distante desta leitura, deixa pressentir Alguém que acompanha o homem e lhe inspira confiança e fidelidade à missão recebida. E vai-lhe sugerindo, também, a curiosidade do mistério ou dos segredos de Deus. Mas é o Evangelho segundo S. João e, à continuação, os chamados Padres da Igreja, que ajustam a linguagem à revelação: foi pelo Verbo de Deus, Jesus Cristo, sabedoria e Palavra criadora de Deus, que “tudo foi criado”(Jo.l, 3)! E, assim, nos damos conta de que a eternidade e o tempo souberam sempre dialogar o caminho. A esperança como caminho Todavia, se Deus se respira na história dos homens… em Jesus Cristo, alcança visibilidade e motivação. Por isso, S. Paulo, na carta aos Romanos, fala da ‘vida’ repetidas vezes e diz corno ela se deve expandir: através da paz, da reconciliação, da graça, do amor, da esperança e da ressurreição. E acrescenta: se os cristãos não fizerem esta experiência, permanecem mortos ou distantes da verdadeira vida. E isto exige urna aprendizagem, em ordem à maturidade da fé, com sabor trinitário, também sacramental e mesmo escatológico. Deixai-me sublinhar três aspectos, dos mencionados pelo Apóstolo. Primeiramente, a paz: não se trata duma dimensão meramente sociológica (tranquilidade de consciência e serenidade de ânimo); mas duma atitude de confiança em Deus, lembrando as promessas do passado e os bens futuros (pois, Deus é tudo isso). Em segundo lugar, a esperança: não como forma de alimentar optimismos fáceis ou de responder com preguiça aos desafios do tempo presente; mas como vontade de assumir responsavelmente a missão confiada a cada um, a partir do baptismo. Pois, ainda que as dificuldades aumentem, o cristão saberá esperar sempre, uma vez que em Cristo ressuscitado reside o seu triunfo. E finalmente, o amor: na realidade, o cristão tem firme consciência de que Deus o ama; e, para isso, basta ouvir a súplica de Jesus, no patíbulo da cruz: Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem! É desta experiência que nós temos necessidade de beneficiar, sabendo depois transmitir. Com efeito, o nosso mundo reivindica mas não sabe perdoar. Entretanto, Jesus vai falando do Espírito-Paráclito, que será enviado como protector, mestre, testemunha, juiz e revelador. Mas, sempre, a favor dos discípulos e no contexto da Igreja. Desse modo, aparece numa linha de continuidade, como sendo ‘outro’ Jesus. E, assim como a Páscoa da Ressurreição consolou e superou a orfandade dos discípulos, assim o Espírito-Paráclito supera as fronteiras históricas do tempo e, o ‘sempre’, está presente. Apesar de tudo, aparece a novidade… mas esta consiste menos em apresentar coisas novas e, mais, em recordar e ensinar de novo o que Jesus tinha dito e ensinado; ou seja, a actualização faz-se na base da tradição. Será, assim, no ambiente das nossas famílias? A missão dos pais (em questão de educação e de fé) abranda, só porque os filhos estudaram mais ou sabem navegar no mundo da Internet? Ser testemunha é participar dum processo que modela o interior e caracteriza o exterior. E no caso do Espírito-Paráclito, Ele é testemunha de Jesus, enquanto ilumina a fé dos discípulos e lhes garante convicção e coerência de vida. Daí, as nossas atitudes pessoais e comunitárias, face aos desafios do tempo e às tentações do mundo. Oiçamos, de novo, Jesus a falar do Pai: o Pai e Eu somos um; e, ainda: o que é de Meu Pai, é Meu. Quer dizer: a unidade existente entre o Pai e o Filho, é que justifica a continuidade da palavra de Deus e de Jesus, na Igreja, sob a acção do Espírito Santo. E a revelação das coisas futuras (a que se refere quando diz: Ele ensinar-vos-á o que Eu não tive tempo de vos dizer), não se baseia em milagrismos ou truques, tanto ao gosto do nosso tempo, mas em apontar Jesus ressuscitado e presente na Igreja, como caminho de esperança, aberto até ao Pai. Com efeito, a salvação não é mera libertação do pecado, mas é inserção na vida trinitária, que só atinge perfeição, na eternidade. Mesmo assim, precisamos de sinais visíveis que nos apontem o caminho e ajudem a dizer: eu ‘creio’… eu ‘quero’! E, um deles é, decerto, este Santuário com o perfume das Aparições e os apelos que atraem multidões de peregrinos; e o outro, mais recente, é a Igreja da Santíssima Trindade, ali ao fundo e ao serviço dos mesmos peregrinos, que vale como monumento de fé e de louvor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Tudo o mais, é esforço nosso, para que este lugar de recolhimento e oração seja preservado de banalidades que distraem ou de interesses que corrompem. Entretanto, recordemos as palavras que o Anjo rezou e ensinou a rezar aos Pastorinhos, diante do Santíssimo Sacramento: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente… Na realidade, a fé nada tem de abstracto; e o mistério das Aparições trouxe a este lugar a mesma advertência do Sinai: descalça-te, que este lugar é sagrado! Isto é, Deus olha, desde aqui, para o mundo, através de três crianças e confia-lhes uma ‘mensagem’ de libertação: pois, é Ele quem liberta! Saibamos escutar e dar atenção à voz do céu. Santo Afonso Maria de Ligório, bispo da Igreja e fundador dos Padres Redentoristas, sentiu o mesmo apelo e dedicou-se à evangelização com tanto zelo, que atraiu numerosos filhos espirituais e, com eles, organizou as chamadas ‘missões populares’. Trata-se dum meio privilegiado de despertar o povo para o essencial da fé e de tornar as comunidades mais abertas à caridade fraterna e ao apostolado. Também nós, depois do baptismo, sentimos o murmúrio que o nosso Deus ­Pai, Filho e Espírito Santo, deixa ouvir no interior do nosso coração. E a resposta que Lhe devemos, deve ser dada com fidelidade e com amor pelos irmãos, mormente os mais necessitados. Peçamos a Nossa Senhora de Fátima que nos atraia, como aos Pastorinhos, até ao mistério da Santíssima Trindade e que nos faça apóstolos do Seu amor, diante dum mundo distraído e descrente dos valores da fé. Assim seja! Fátima, 3 de Junho de 2007 + Augusto César

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