.. os jornalistas rejeitam a imposição dos silenciamentos, venham de onde vierem, o que não quer dizer que recusem o silêncio como aprendizagem que os habilite a saber ouvir os outros, respeitá-los nas suas razões e dar-lhes, com medida justa, palavra ou imagem. Uma arte muito difícil, como comprovam os destemperos da Comunicação Social.
Bento XVI sugeriu, na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, com toda a oportunidade, o respeito dos média pela palavra como pelo silêncio: “dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas”.
Há, de facto, o risco da exclusão mútua, o que prejudicaria seriamente a comunicação. Se é verdade que, sem o silêncio, as palavras perdem conteúdo, como também previne pedagógica e eticamente o Papa, os jornalistas talvez concordem, mas são pouco dados a tal conselho. Veja-se a sua recusa das práticas dos regimes políticos ou económicos que lhes impõem limites às liberdades de informação e de opinião. Repare-se também na relutância que manifestam na sua prática profissional para aceitar o discernimento crítico que os habilite a separar o trigo do joio. A lógica mediática tem manifesta incapacidade prática para preservar o “ecossistema” que equilibre, como recomenda o Papa, “silêncio, palavra, imagens e sons”. Foi e é assim nos média tradicionais e, mais ainda, nas novas tecnologias digitais da comunicação social.
A fecundidade do silêncio é tão densamente espiritual que dificilmente penetrará na lógica mediática do diálogo social tecnológico, seja nos modelos da galáxia de Gutenberg, seja nas práticas galáxia digital.
O símbolo dos média, tradicionais ou modernos, é, para mal dos pecados dos emissores e dos recetores, como agora na interatividade, a torre de Babel. Pecamos todos por excesso de palavras e de imagens, soltas ao vento até à saturação.
Nem a legislação portuguesa sobre a Comunicação Social, nem o Código Deontológico aconselham, sequer implicitamente, a metodologia do silêncio para temperar as virtudes e os defeitos da Imprensa, da Rádio, da Televisão e das modernas redes sociais, estas então perigosamente desvalidas de legislação adequada e de normas éticas.
Por imperativos profissionais e culturais, os jornalistas rejeitam a imposição dos silenciamentos, venham de onde vierem, o que não quer dizer que recusem o silêncio como aprendizagem que os habilite a saber ouvir os outros, respeitá-los nas suas razões e dar-lhes, com medida justa, palavra ou imagem. Uma arte muito difícil, como comprovam os destemperos da Comunicação Social.
Os jornalistas não sabem o que perdem quando perdem a sabedoria do silêncio. Ficam, ética e culturalmente, desprotegidos, por défice de discernimento crítico do que são e do que fazem ou deveriam fazer.
Rui Osório
Jornalista e pároco da Foz do Douro