Rota das Catedrais

Elísio Summavielle, Secretário de Estado da Cultura

O projecto Rota das Catedrais é, essencialmente, estruturante e valorizador, por tudo quanto representa em expressão, e reconhecimento da presença da Igreja Católica na Cultura Portuguesa, e como boa prática de cooperação entre o Estado e a Igreja. De igual modo, representa o aproveitamento das potencialidades das catedrais, outrora pólos de dinamização e desenvolvimento das cidades, enquanto factor identitário e diferenciador, com relevante papel no futuro desenvolvimento sócio cultural das comunidades abrangidas.

Teve especial significado o acordo, que o Ministério da Cultura assinou com a Igreja, há dois anos, porquanto era conhecida de todos a existência de dificuldades de articulação, nomeadamente quanto à necessidade de conservação dos bens culturais que, resultante de circunstâncias históricas, se tornaram propriedade do Estado sob afectação permanente à Igreja. A Cultura une. E hoje, pode dizer-se que ambas as partes têm um novo olhar sobre o Património.

O Património Cultural português tem a Igreja dentro de si. Factor diferenciador da nossa cultura e forma de estar, as catedrais são âncoras vivas, pois que, normalmente situadas nos centros históricos, são estrategicamente um elemento agregador de regeneração urbana, constituindo a própria história do desenvolvimento urbano, que baseia na “sé” (sede) o centro da polis. O projecto Rota das Catedrais, pela extensão territorial e pela importância dos monumentos em si, constitui assim, sem dúvida, mais um elemento chave para as políticas territoriais do Património.

As primeiras obras deste projecto poderão começar já em 2011. Está em curso um sistema nacional de conservação preventiva – uma forma de, com pouco investimento, se garantir a conservação dos monumentos no futuro. Trata-se de trabalho invisível e pouco mediático, mas fundamental, que contribuirá para que, no futuro, diminua a pressão das despesas de reabilitação. A monitorização e as acções de diagnóstico realizadas com as Direcções Regionais de Cultura prosseguem, estando já em curso a realização de contratos-programa com os Cabidos das Sés, para a hierarquização das intervenções de recuperação, conservação e valorização.

Para além das questões puramente disciplinares e patrimoniais, também há que atender aos interesses culturais, sociais e turísticos. O paradigma do Turismo mudou no século XXI, e o Património cresce como alvo dos destinos turísticos. A nossa identidade cultural, expressa no Património físico e no imaterial, oferece a diversidade numa sociedade globalizada. As pessoas, hoje, procuram a diferença num turismo com novas componentes, de rede, de temas, pelo que existe, na sua projecção, fruição e sustentabilidade económica, um grande potencial de realização, na base de uma estratégia partilhada.

 

Esta partilha traduz-se, nos últimos seis anos, numa série de projectos desenvolvidos entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Economia, como sejam, e já no terreno, a rede de monumentos Património Mundial e a Rota das Catedrais. Ao mesmo tempo, interessa-nos garantir a qualidade do Património, sem fantasias, sublinhando a autenticidade e juntando ao físico, o imaterial das memórias e das tradições.

 

As autarquias, que estão sempre na linha da frente, integram-se cada vez mais nos contributos para o desenvolvimento cultural do País e, neste caso, com as catedrais situadas no centro da polis, os autarcas contactados vão manifestando o seu entusiasmo pelo projecto. Cultura e património cultural são, efectivamente, de manifesta importância para a regeneração dos centros históricos, para a requalificação, para a fixação de populações, o repovoamento e a sustentabilidade futura da qualidade de vida no interior do País. 

O QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) está a ser re-equacionado em alguns aspectos da sua formatação, e dispõe de linhas abertas para a obtenção de financiamentos para projectos, e hoje, mesmo em tempos de retracção financeira para o próximo ano,  daremos certamente início às intervenções. Só no Património, entre o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, o Instituto dos Museus e da Conservação, e as Direcções Regionais de Cultura, estão inscritos no QREN muitos projectos de recuperação e valorização patrimonial, sustentados em parcerias diversas, que quase quadruplicam os montantes inscritos em PIDDAC próprio do Ministério da Cultura.

Cabe pois à Tutela esboçar caminhos, abrir portas, criar consensos, enfim, dialogar com todos os intervenientes. Sabemos que a tendência reprodutiva do investimento em Património é crescente, e por isso, neste novo modelo, próprio do século XXI, o papel do MC é estratégico no aprofundamento dessa rede de cumplicidades activas, assumindo assim, e para lá do papel meramente normativo, um papel indutor e catalisador de estratégias, energias e recursos, do qual a Rota das Catedrais é exemplo demonstrativo. Assim saibamos todos responder ao estímulo deste belo desafio.

Elísio Summavielle, Secretário de Estado da Cultura

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top