Rosto digital da Igreja está em mudança

Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais chegaram ao fim em Fátima com o desafio da «pluralidade de respostas» A mudança provocada pela crescente influência da Internet nas sociedades actuais está a levar a Igreja a procurar apresentar-se com um novo “rosto digital”, desde o plano institucional às presenças de carácter mais pessoal e intimista. O tema do “Evangelho Digital” esteve em debate entre 25 e 26 de Setembro nas Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, em Fátima, na presença de dezenas de participantes. No último dia dos trabalhos, D. Manuel Clemente, Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, destacou a “pluralidade” da presença católica na Internet, defendendo que a mesma deve ser respeitada e mantida como uma “virtualidade”, promovendo a aproximação e não uma “uniformização” de projectos. O prelado indicou que “as possibilidades de recepção e transmissão da linguagem cresceram imensamente”, quase “sem tempo nem lugar”. Para o Bispo do Porto há necessidade de “convivência real”, apesar de não se poder viver e conviver fora do mundo mediático. Neste contexto, o Evangelho também se digitaliza, permitindo levar esta mensagem “a pessoas que não frequentam as nossas assembleias”. Num clima de “desconfiança cultural generalizada em relação às comunidades tradicionais e instituídas”, afirmou este responsável, a proposta cristã tem nos Media uma oportunidade de chegar a outros ouvintes, “menos afins”. D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, tinha anteriormente deixado um apelo aos presentes para que fossem capazes de transformar em “linguagem de rua” as posições oficiais dos Bispos, assumindo que por vezes há um “retardar” e um excesso na “linguagem teórica”. Este responsável apelou ainda à capacidade de “dar a cara” em nome da Igreja de todos os católicos, não esperando apenas pela tomada de posições oficiais da hierarquia. O Pe. Manuel Morujão, novo Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, sublinhou que é a própria Igreja que não fala, muitas vezes, dos seus sites, nem convida a visitá-los, destacando a quase completa ausência de referência ao tema da Internet nas homilias dos sacerdotes do nosso país, por exemplo. Presença concreta Esta Sexta-feira, um painel abordou a presença da Igreja no digital, com várias experiências realizadas em diversos âmbitos. O Pe. Filipe Martins, jesuíta, falou do projecto «Essejota.net», com o qual se tenta chegar a gente “nas margens da Igreja” através de propostas “muito abertas”, que vão da poesia à fotografia, para além das reflexões espirituais, da música e do cinema. Luís Gonzaga, fundador do portal «Paroquias.org», falou desta iniciativa criada por leigos, com a missão de “evangelizar, utilizando as novas tecnologias e meios de comunicação”, que inclui, além de secções de informação ou espiritualidade, um fórum de opinião sobre diversos temas da vida católica. O Pe. Marcelino Ferreira, do projecto interparoquial «Paroquiasdebraga.org», destacou o potencial da Internet para promover a “comunhão”, “conhecer, dar-se a conhecer, informar, evangelizar e dialogar”. Samuel Mendonça, responsável pelo portal da Diocese do Algarve («Diocese-algarve.pt»), disse que este é parte de um “projecto mais alargado”, a Sul do país, o RIDISC – Rede Informática para Dioceses e Instituições Sócio-culturais («Ridisc.org»), no sentido de dotar a Igreja de um conjunto de ferramentas informáticas: portal diocesano, programa de gestão diocesano e programa de gestão paroquial. Neste dia de trabalhos, Roberto Carneiro apresentou um estudo relacionado com as expectativas de mudança na Internet, indicando que a maior alteração acontecerá na área da organização e publicação das notícias, sendo que o menor impacto acontece precisamente na área da religião. Falar com a Internet Antes, numa mesa-redonda sobre o tema “O religioso feito em Net”, Octávio Carmo, da Agência ECCLESIA, destacou a importância de não haver hesitações quando se trata de colocar a Igreja online, com uma linguagem e imagem adequadas a este mundo. Considerando que – apesar da heterogeneidade de presenças na Web – Portugal tem vários sites religiosos ao nível dos melhores, nos países de tradição católica, o jornalista alertou para a necessidade de superar um discurso “fatalista, de queixume e preconceito” e procurar uma linguagem “simples, directa e limpa”, que seja compreensível por católicos e não-católicos. Pedro Leal, da Rádio Renascença, falou de uma “revolução em curso”, frisando que “a dispersão perturba a escolha”, pelo que é necessário dar cada vez mais respostas no mesmo espaço. Neste sentido, apresentou a diversificação crescente dos conteúdos oferecidos pela página da RR. José António Santos, da Lusa, defendeu por seu turno que “a Igreja tem hoje uma presença muito expressiva, diria mesmo uma presença marcante na Internet”, destacando dos sinais visíveis de “boa presença” católica no mundo virtual.

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