«Há famílias desfeitas», sublinha Félix Lungu, da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, sobre a sua terra natal
Lisboa, 28 mai 2019 (Ecclesia) – O Papa vai começar esta sexta-feira uma visita de três dias à Roménia, viagem que acontece 20 anos depois da presença de São João Paulo II naquele país, então acabado de sair de um regime comunista.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o romeno Félix Lungu, há vários anos em Portugal, realça a oportunidade que a deslocação do Papa Francisco representa para mostrar ao mundo uma nação que se tem vindo a “transformar” para melhor, mas que ainda apresenta “muitos desafios”.
Nos últimos anos, a Roménia tem dado sinais de um desenvolvimento sustentado ao nível económico, sendo mesmo “um dos países com maior crescimento dentro da Europa”, realça o responsável de comunicação da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS).
No entanto, acrescenta Félix Lungu, persistem no país vários problemas, “do ponto de vista social e político”, com destaque para problemáticas como a “corrupção” e a “emigração”.
“Há um assunto que aflige muito as famílias e o país como um todo, que é a emigração maciça, sobretudo dos jovens”, sublinha o responsável pela comunicação da Fundação AIS, que alerta para a “situação dramática das famílias que ficam” e em particular dos “mais idosos”, muitos deles “abandonados”.
“Há famílias desfeitas”, relata Félix Lungu, que explica este cenário com a falta de “oportunidades” ao nível de emprego e o baixo nível de vida que ainda persiste na Roménia, onde “o salário médio não chega a 500 euros”.
“Numa altura da globalização e das viagens facilmente se pode encontrar um outro lugar de trabalho num país da União Europeia com melhor remuneração e outras condições, outra perspetiva de vida”, admite o mesmo responsável.
De acordo com o programa divulgado pela Santa Sé, a chegada do Papa à Roménia, neste caso ao aeroporto internacional de Bucareste, está prevista para as 11h30 desta sexta-feira.
A deslocação de Francisco a este país de maioria ortodoxa tem como pano de fundo um grande sentido ecuménico, como indica o lema oficial da visita, ‘Caminhemos juntos’.
Na agenda do Papa, em solo romeno, estão incluídos encontros com o patriarca ortodoxo da Roménia, Daniel, e com o Sínodo permanente da Igreja Ortodoxa.
Outros pontos altos da deslocação do Papa à Roménia, entre os dias 31 de maio e 02 de junho, serão a visita ao santuário mariano de Sumuleu Ciuc, e a participação na beatificação de 7 bispos greco-ortodoxos mártires, no Campo da Liberdade, na cidade de Blaj.
“É a primeira vez que um Papa dedica tanto tempo a um país na Europa, três dias. De alguma maneira poderíamos dizer que é uma preleção, mas eu penso que é a preocupação do Santo Padre em conhecer toda a realidade da Roménia”, refere Félix Lungu.
O entrevistado recorda também a tendência que tem marcado o pontificado do Francisco, de querer conhecer a realidade e de estar perto dos países que passaram por períodos mais conturbados na sua história.
Neste caso, de um país que viveu durante décadas sob o jugo de um regime comunista, entre 1946 e 1989.
“O Papa Francisco tem essa preocupação, de ir às periferias e sobretudo conhecer in loco as pessoas, o sofrimento, aquilo que tiveram de pagar. Vimo-lo na Albânia, na Macedónia, na Bulgária, em vários países”, recorda Félix Lungu.
O Papa João Paulo II foi, até hoje, o único pontífice a visita a Roménia (7-9 de maio de 1999).
No que toca agora ao Papa Francisco, o convite oficial a visitar a Roménia surgiu em 2016, por iniciativa das autoridades políticas e da Igreja Católica no país.
No final de 2017 o secretário do Vaticano para as Relações com os Estados, D. Paul Richard Gallagher, esteve em Bucareste, para uma série de encontros com as autoridades civis, tendo celebrado a Missa na Catedral São José com a comunidade católica da cidade.
A Roménia assume desde 1 de janeiro, pela primeira vez, a presidência de turno do Conselho Europeu.
PR/JCP