Roménia: Papa recorda mártires que unem católicos e ortodoxos numa «fraternidade de sangue»

Francisco deixa mensagem de unidade no primeiro momento ecuménico da viagem

Bucareste, 31 mai 2019 (Ecclesia) – O Papa recordou hoje em Bucareste os mártires cristãos que unem católicos e ortodoxos, para lá das divisões históricas, deixando uma mensagem de unidade no primeiro encontro com os responsáveis do Sínodo da Roménia.

“Existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e sustentar o nosso caminho”, assinalou, num discurso proferido no palácio patriarcal da Igreja Ortodoxa romena.

Francisco evocou a história de “perseguição” que atingiu “muitos filhos e filhas” da Roménia, de várias Igrejas e comunidades cristãs.

“Quantos mártires e confessores da fé”, exclamou.

A intervenção deixou uma referência aos tempos da “perseguição ateísta”, durante o século XX, no regime comunista.

“Em tempos recentes, muitos de diferentes Confissões encontraram-se lado a lado nas prisões, sustentando-se mutuamente. O seu exemplo está hoje diante de nós e das novas gerações, que não conheceram aquelas condições dramáticas”, observou.

Este domingo, último dia da viagem, o Papa desloca-se à região da Transilvânia, presidindo à Divina Liturgia de beatificação dos 7 bispos mártires greco-católicos (comunidade de rito oriental que reconhece a jurisdição do Papa), no Campo da Liberdade em Blaj.

O espaço está ligado à luta pela liberdade nacional e à perseguição dos católicos, durante o regime comunista do século XX, que em 1948 exigia aos católicos que integrassem a comunidade ortodoxa, cuja jurisdição é nacional.

Francisco recordou a viagem de São João Paulo II à Roménia, em 1999, “a primeira que um bispo de Roma dedicava a um país de maioria ortodoxa”, considerando que a mesma “inaugurou um tempo novo” nas relações ecuménicas.

Caminhar juntos com a força da memória. Não a memória dos agravos sofridos e infligidos, dos juízos e preconceitos, que nos fecham num círculo vicioso e levam a atitudes estéreis, mas a memória das raízes: os primeiros séculos em que o Evangelho, anunciado com audácia e espírito de profecia, encontrou e iluminou novos povos e culturas”.

Foto: Lusa

A Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas continuam separadas desde o Cisma de 1054, tendo estas últimas desenvolvido um modelo de autoridade próprio, de cariz nacional, pelo que os vários patriarcados são autónomos e o patriarca ecuménico de Constantinopla (atual Turquia) tem apenas um primado de honra, como ‘primus inter pares’.

Um mês depois de ter passado pela Bulgária e a Macedónia do Norte, Francisco voltou a um país de maioria ortodoxa para pedir unidade das comunidades cristãs face às “mudanças sociais e culturais”, que deixam muitos excluídos e promovem uma “cultura do ódio”.

Francisco, que se apresentou como “irmão peregrino”, concluiu a sua intervenção com uma oração ao Espírito Santo.

O seu fogo consuma as nossas desconfianças; o seu vento varra as reticências que nos impedem de testemunhar juntos a vida nova que nos dá. Que Ele, artífice de fraternidade, nos dê a graça de caminhar juntos. Ele, criador da novidade, nos faça corajosos em experimentar caminhos inéditos de partilha e missão. Que Ele, força dos mártires, nos ajude a não tornar infecundo o seu sacrifício”.

O patriarca Daniel, que acolheu o Papa na mesma sala do palácio patriarcal onde São João Paulo II foi recebido em 1999, por Teoctisto, evocou a “alegria da liberdade religiosa dos cristãos”, celebrada após o fim dos regimes comunistas do Leste,

“Os nossos predecessores chamam-nos hoje a defender a fé em Cristo e os valores cristãos, numa Europa muito secularizada”, assinalou, na sua saudação de boas-vindas.

O responsável ortodoxo apelou à defesa da “família cristã tradicional”, num continente que “envelhece muito rapidamente”.

O programa prossegue com a oração do Pai-Nosso na nova catedral ortodoxa da Salvação do Povo, inaugurada em 2018 e conhecida como “catedral nacional”.

OC

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